Cidades

Combate ao racismo chega à sala de aula

“Guia de Materiais para uma Educação Antirracista” será lançado amanhã, às 9 horas, na Escola Estadual Afrânio Lages (Cepa).

Por Ricardo Rodrigues - colaborador / Tribuna Independente 09/10/2025 07h53
Combate ao racismo chega à sala de aula
Livro teve a orientação da professora doutora Débora Massmann, titular do curso de Letras da Ufal - Foto: Edilson Omena

É na sala de aula que se aprende de um tudo, inclusive o combate ao racismo. Foi com esse pensamento que um grupo de professores da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), em conjunto com estudiosos no assunto, se juntou para escrever o ‘Guia de Materiais para uma Educação Antirracista’.

O livro, publicado pela Batuque Editora, é resultado de três anos de ações de ensino, pesquisa e extensão desenvolvidas sob a orientação da professora doutora Débora Massmann, titular do curso de Letras da Ufal, e filha de santo do babalorixá Célio Rodrigues (Axé Pratagy).

A obra está sendo apresentada aos estudantes, numa programação especial que inclui a Roda de Conversa “O Cinema vai à escola”, palestras e dinâmicas formativas. Na próxima sexta-feira, dia 10 de outubro, às 9 horas, o livro está sendo apresentado e debatido na Escola Estadual Afrânio Lages, dentro do Cepa, no Farol.

Na segunda-feira, dia 13 será, será a vez da Escola Estadual Alfredo Gaspar de Mendonça de conhecer a obra e debater seu conteúdo. A culminância dessa ação cultural se dará na Bienal Internacional do Livro de Alagoas, no dia 2 de novembro, às 18 horas, no estande da Secretaria de Estado da Cultura e Economia Criativa (Secult).

Segundo a professora Débora Massmann, o guia é uma organização coletiva, em formato impresso e e-book, financiada, em 2025, pela Política Nacional Aldir Blanc (PNAB), em Alagoas. A obra apresenta um conjunto de materiais artísticos e culturais, ancorados nas questões étnico-raciais, destinados a apoiar práticas pedagógicas críticas e inclusivas, principalmente em salas de aula.

Entre os recursos indicados, destacam-se: documentários, curtas-metragens, filmes, podcasts, entrevistas, clipes, músicas, além de espaços urbanos e digitais para visitação e desenvolvimento de atividades educacionais. Todo conteúdo pode ser acessado, por meio de QR codes, pensado para fomentar um ambiente de aprendizado antirracista.

Com foco em apoiar educadores em sua prática diária, a obra aborda temas essenciais como identidade racial, história da luta antirracista, saberes culturais e ancestrais e conscientização sobre direitos humanos.

“Mais do que uma coletânea de materiais, o guia é um compromisso com a inclusão e a diversidade, pois acreditamos que a educação tem força para transformar realidades”, observa Débora Massmann.

O ‘Guia de Materiais para uma Educação Antirracista’ já foi apresentado em ações realizadas na Escola Municipal General Goes Monteiro, no Povoado do Poxim, em Coruripe, no dia 08 de agosto; no Teatro Deodoro, em Maceió, no dia 19 de agosto; e ainda na Universidade Federal da Bahia (UFBA), em Salvador, no dia 27 de agosto.

BOLSONARISMO

Em entrevista à reportagem da Tribuna Independente, a professora Débora Massmann disse que do governo de Jair Bolsonaro (PL) para cá aumentou muito o debate sobre o racismo e o machismo no Brasil. “Da mesma forma, de maneira proporcional, aumentaram também o nível de conscientização das pessoas, as denúncias de casos de racismo e de feminicídio no País”, enfatizou a professora.

Segundo ela, o racismo funcional no território nacional existe desde a época do Brasil Colônia de Portugal. “O racismo nunca deixou de existir, mas recrudesceu do governo Bolsonaro para cá, quando o então presidente abriu as porteiras para essa prática deletéria”, destacou.

Para Débora Massmann, que é gaúcha da fronteira com a Argentina, debater o racismo em salas de aula é de fundamental importante para combater o discurso de ódio e disseminar as políticas afirmativas, a exemplo das cotas para negros nas universidades e nos concursos públicos.
“A conscientização dos alunos passa por essa discussão, por esse debate sobre racismo funcional, até porque ainda encontramos muitos alunos que não se identificam como pessoas negras, apesar da cor da pele”, observa a professora.

Com a ajuda do guia, ela espera que a juventude se sinta motivada para criar novas relações, sem as amarras do racismo, do machismo e da violência de gênero. “É preciso que o jovem se sinta livre para combater o racismo, como uma prática nociva, como crime que deve ser evitado e punido. Isso é uma via de mão dupla, o aumento de casos de racismo está relacionado ao aumento de denúncias”, concluiu.