Cidades
Cosmético em crianças: pode ou não?
O que os pais devem saber e que cuidados devem ter quando suas filhas começam a se maquiar usando produtos de beleza?

Ao menor sinal de acne ou espinha no rosto, as adolescentes logo lançam mão de dezenas de cremes e cosméticos para usarem na pele. Às vezes, sem prescrição médica ou mesmo sem necessidade. O hábito, inclusive, está cada vez mais presente também na pré-adolescência ou até mesmo entre as crianças.
Em várias famílias, mães e filhas dividem os rituais de tratamento de pele ao início e ao final do dia. Entre os meninos, o uso de algum produto, restringe-se apenas ao protetor solar. E com o responsável, praticamente obrigando-o a usar.
Já entre as meninas, quase não há espaço no armário do banheiro para produtos de uso mais corriqueiro. As prateleiras são, em sua maioria, recheadas de frasquinhos e tubinhos que prometem beleza eterna mesmo para quem tem pele de veludo, devido à pouca idade.
Na casa da enfermeira Karlayne Vieira, 39, as filhas Laura e Clarice Reynaux, respectivamente, 13 e 8 anos, seguem uma agenda de embelezamento.
Segundo a mãe, o interesse maior da Clarice é por maquiagem, sem ainda usar os dermocosméticos em geral. “Ela também sempre lembra da proteção solar e do chapéu, quando exposta ao sol. No máximo usa produtos bem infantis, nada exagerado e ainda divide a atenção com os brinquedos”, detalhou.
Juntas, as irmãs, que estudam pela manhã, combinaram de acordar um pouco mais cedo do que o necessário para poder lavarem cabelo e fazerem penteados e finalizar a arrumação com um batom em um blush.
A vaidade das meninas, Karlayne Vieira admite que é uma herança materna. A mais velha, Laura Reynaux, que completará 14 ainda este mês, investe uma boa parte da mesada em produtos de beleza, acessórios, maquiagem e cosméticos.
“Somos três e como somos vaidosas, compartilhamos, entre nós, dicas e produtos que conhecemos e gostamos”, resumiu a mãe.

Mãe relata que filho recorre a cremes contra as espinhas
Da mesma idade que Laura Reynaux, Jael Cruz Azevedo adere à vaidade de forma mais básica. A adolescente não abre mão do hidratante labial, perfume, desodorante, shampoo e condicionador.
Sua mãe, Sara Cruz Gomes Santos, 41 anos, recordou de um período em que a filha usou produtos específicos para espinhas, prescritos por uma dermatologista, usou cremes e protetor solar apropriados para tratar o problema. Sara é mãe também de um menino de oito anos.
“Quando Jael usou a medicação, a melhora foi de 100%. O período de uso acabou, as espinhas voltaram”.
A design de interiores Suly de Souza Arruda Costa, 45 anos, mãe de Maria Júlia Arruda Duarte Costa, de 13 anos, contou que a filha, a exemplo das amigas, usa costumeiramente maquiagem. Para ela, muitos dos cuidados com a pele podem ser atribuídos à influência. “Ela vê as amigas usando e como também gosta, passa a usar”.
Júlia tem um exemplo de vaidade em casa. Suly segue seu ritual de beleza com gel de limpeza, hidratante, protetor solar e maquiagem.
No entanto, o chamado skin care, ou simplesmente, cuidados com a pele é um gesto que, quando feito antes da idade adulta, tem chamado a atenção da comunidade médica.
Pediatra diz que há algo mais sério por trás dessa tendência
O médico pediatra e alergologista Marcos Gonçalves, que também preside a Sociedade Alagoana de Pediatria, explicou que por trás desta tendência, há algo bem mais sério.
“Os vídeos que estão circulando nas redes sociais de crianças cuidando da pele como se fossem adultos, não tem nada de fofurice. Essas crianças estão aplicando cinco, seis, até 10 produtos feitos para adultos, com ácidos, perfumes e conservantes. Na maioria das vezes, sem acompanhamento médico. E o resultado? alergias de contato, pele ardendo, dermatite precoce e danos à barreira natural de proteção da pele”, detalhou.
Ainda conforme o médico, mais preocupante ainda é ver que as crianças estão abandonando a infância, trocando o brincar pelo espelho para se preocupar com uma estética que não deve ser preocupação delas.
“Criança não deve estar preocupada em qual sérum passar. Deve estar brincando, correndo, criando memórias, longe das pressões e padrões estéticos das redes sociais”, completou.
Apesar das dicas do médico pediatra, há um alívio para as crianças e mães que não abrem mão do cuidado com a beleza. Existe sim, um skin care para a tenra idade. E é simples. Conforme Marcos Gonçalves, é limpar o rosto, hidratar e proteger com filtro solar.
Em regra geral, o pediatra desaconselha o uso indiscriminada de cosméticos antes da fase adulta.

Produtos podem ter até 30 ingredientes diferentes
“Existem cosméticos e cosméticos. A gente tem que diferenciar. Cada cosmético pode ter até 30 ingredientes diferentes. Entre os quais, petrolatos, tem parabenos, substâncias que não são adequadas para usar em peles mais sensíveis, como a das crianças. Se tiver mesmo que usar algum cosmético precisa ser, no mínimo, comprovadamente hipoalergênicos”, frisou, apenas o profissional dermatologista pode indicar tais produtos.
O médico pediatra e também alergologista alertou sobre o perigo de algum cosmético causar lesões na pele, face avermelhadas e podem até deixar cicatrizes pelo resto da vida.
Na avaliação da dermatologista Paula Mota, formada pela Universidade Federal de Alagoas, crianças e adolescentes não devem usar cosméticos de forma indiscriminada pelo fato de a pele, nestas idades, apresentarem particularidades que as tornam diferentes da pele dos adultos e também mais vulneráveis a irritações, alergias e outros efeitos colaterais.
“Os cosméticos podem apresentar corantes, fragrâncias e conservantes como por exemplo o parabeno. Essas substâncias podem causar dermatite de contato, e quando usadas de forma crônica, podem causar uma desregulação endócrina com chance aumentada de puberdade precoce, acne a alterações na tireoide”, detalhou a médica que adquiriu o título de dermatologista pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro.
Conforme Paula Mota, que é mestre pelo Cesmac e professora de dermatologia na instituição, o uso seguro de cosméticos exige a prescrição médica e o acompanhamento de uma dermatologista.
“Uma dica segura é optar sempre por produtos direcionados ao público infantil, livre de conservantes, dermatologicamente testados e com a maior porcentagem possível de ingredientes naturais”, destacou.
O psicólogo clínico, psicoterapeuta e arteterapeuta, Eklivann Marcel Costa de Oliveira, destacou que nos dias atuais dentre tantas estratégias de nos fazer consumir de forma excessiva, se configura em inserir hábitos de consumo adultos cada vez mais cedo nas crianças e adolescentes. “A cada dia a cultura mercadológica mercatiliza até nossos afetos e sentimentos com relação aos nossos filhos”.
Ele explicou que uma coisa é a criança brincar com as maquiagens da mãe sem uma preocupação estética. Outra coisa é essa criança ou adolescente querer adotar certo tipo de hábito ou usar um determinado produto que porque uma pessoa adulta usou.
“Cada coisa a seu tempo é a chave. Os pais procurando se informar é o melhor crivo para isso. Podem até procurar algum especialista na área. É necessário transmitir limite de forma que a comunicação surta efeito na mudança de um dado comportamento em uma linguagem amorosa no sentido de o responsável estar aberto e conhecendo o seu filho possa ter êxito no passar limite a ele através do desfrutar o aqui e agora”.
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