Cidades

Especialista alerta para rapidez do afundamento do Bom Parto

Para professor Abel Galindo, serviço geológico precisa averiguar movimentação das minas e evitar acidentes

Por Ricardo Rodrigues - colaborador / Tribuna Independente 28/06/2025 08h18 - Atualizado em 28/06/2025 11h03
Especialista alerta para rapidez do afundamento do Bom Parto
Abel Galindo confirma criticidade pela mineração em 80% da área monitorada, no bairro do Bom Parto - Foto: Edilson Omena

Um dos maiores especialistas em solo no Brasil, o engenheiro Abel Galindo, professor aposentado do curso de Engenharia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), confirmou os estudos apresentados, esta semana, pela Defensoria Pública do Estado (DPE), sobre o afundamento do solo no bairro do Bom Parto, provocado pela mineração da Braskem, em Maceió.

De acordo com o defensor público Ricardo Melro, uma análise independente, com base em dados inéditos e oficiais, revela criticidade em 80% da área monitorada, no bairro do Bom Parto. Questionado sobre quem teria feito esses estudos, ele disse que foram especialistas consultados pela Defensoria, com base em informações fornecidas pelo Comitê de Acompanhamento Técnico, coordenado pela Defesa Civil de Maceió.

“O estudo foi feito direto do conteúdo disponibilizado pela Defesa Civil. Fácil de pesquisar. Alguns técnicos nos auxiliaram. Por isso, pedimos ao juiz para intimar o Serviço Geológico do Brasil para se manifestar sobre os dados”, explicou o defensor, preocupado com a situação dos moradores do bairro.

Essa preocupação foi corroborada pelo professor Abel Galindo. Segundo ele, a movimentação interna das cavidades é preocupante, mas a velocidade da subida em direção à superfície só pode ser aferida por precisão com equipamento de sonar de última geração. Por isso, ele defender a vinda dos técnicos do Serviço Geológico do Brasil (SGB) para realizar esse trabalho “in loco”.

Minas 34 e 11

“As minas mais próximas do Bom Parto são as minas de números 34, que fica às margens da Lagoa Mundaú, e a 11, que fica ali onde era a sede antiga do IMA. A mina 34 é uma das mais perigosas; em 2019, ela já tinha subido cerca de 70 metros, em direção à superfície.

A mina 11, que fica perto daquele cruzamento entre a General Hermes e a linha férrea do VLT, no bairro do Bom Parto, subiu 120 metros em 2019; é uma mina que, provavelmente, continua subindo, e na medida que vai subindo, vai desmoronando as rochas, as camadas de terra acima dela, esse é um processo que pode dar uma acelerada a mais da deformação da superfície. São duas minas que estão subindo, a 11 e a 34”, explicou Abel Galindo.

Segundo ele, para saber os detalhes sobre o comportamento dessas minas, localizadas no subsolo do Bom Parto, só um estudo in loco, com aparelhos sofisticados de sonar para verificar com mais precisão a rapidez com que elas estão subindo em direção à superfície. Por isso, o professor defende a proposta da Defensoria Pública do Estado de trazer de volta à cidade de Maceió uma equipe técnica do Serviço Geológico do Brasil (SGB).

“A vinda da SGB/CPRM é de fundamental importância para fazer uma medição in colo, para saber a profundidade dessas minas, como solicitou à Justiça o defensor público Ricardo Melro. Mas, de fato, essas minas, localizadas no subsolo do Bom Parto, já vinham subindo e continuam subindo, mas só os técnicos do Serviço Geológico do Brasil podem averiguar isso tudo, com mais precisão”, acrescentou.

Questionado se a vinda do SGB/CPRM, já solicitada pela Defensoria, poderá confirmar essa situação e recomendar a interdição do bairro, com a retirada dos moradores, o professor Abel Galindo, respondeu: “Uma mina que esteja subindo (se tiver) só é uma ameaça para quem estiver num raio de 150 metros, aproximadamente”, afirmou.

Defesa Civil de Maceió constata rachaduras e manda dona reformar imóvel

Para os moradores do bairro, as consequências do afundamento do solo, provocado pela mineração predatória da Braskem, já é uma realidade. “Aqui na rua General Hermes, praticamente todas as casas apresentam rachaduras nas paredes e fissuras nos pisos”, afirmou Ana Paula Santos, moradora do Bom Parto.

Segundo ela, a Defesa Civil de Maceió esteve na casa dela, fez uma vistoria e constatou as rachaduras nas paredes, mas não interditou o imóvel, apenas recomendou que a proprietária fizesse a reforma e arcasse com os custos dos reparos. “Os técnicos da Defesa Civil pediram para que eu ficasse monitorando a estrutura da minha casa, para ver até onde essas rachaduras iriam continuar”, relatou Ana Paula.

Ela disse que que no trecho da rua General Hermes, que vai da Paróquia Nossa Senhora do Bom Parto até a Igreja Evangélica Batista do bairro, o imóvel que está mais destruído, por conta do afundamento do solo, é a casa da dona Socorro, no número 1.367.

“A minha casa é dividida: eu moro na parte da frente e a minha irmã na parte dos fundos. O piso do banheiro da minha irmã estava afundando. Defesa Civil entrou lá, olhou e disse que era questão de reforma do imóvel. Aquela casa, a gente nasceu e se criou ali, nunca aconteceu isso, de banheiro afundar, de rachaduras nas paredes, nunca. Mas a Defesa Civil botou a culpa na falta de manutenção e recomentou que a gente fizesse a reforma. Tudo por nossa conta. Foi o que a gente fez, arcamos com os prejuízos, para a casa não cair por cima da gente”, relatou Ana Paula, acrescentando que a reforma da casa, que ela divide com a irmã, terminou em abril deste ano, mas a família não recebeu ajuda nenhuma, nem da Braskem e nem da Prefeitura de Maceió.

Bairro ganha instituto para defender as causas de moradores

“Hoje, o histórico bairro de Bom Parto anoiteceu mais feliz com a institucionalização em cartório do Instituto Bom Parto”, comentou, em suas redes sociais, o presidente do PT de Maceió, Marcelo Nascimento.

“Tive a grata satisfação de dar uma pequena contribuição no processo de formalização e articulação política dessa nova e importante organização comunitária que chega em boa hora, para lutar pelos interesses do povo abandonado pelo poder público e pelos responsáveis pelo maior crime ambiental da história dessa cidade”, afirmou, acrescentando que está na torcida “pelo protagonismo das vítimas da Braskem e pela reparação política e social dos danos causados ao povo negligenciado”.

POVO SOFRIDO

O presidente do Instituto, Ivanildo Ferreira Tenório, disse que a entidade vai funcionar na Avenida Doutor Francisco de Menezes, 1.661, no Bom Parto.

“O nosso objetivo é lutar com esse povo sofrido e tão discriminado por tantas injustiças, principalmente depois dessa tragédia da Braskem”, afirmou.

“Além da luta contra a mineradora, faremos também um trabalho social e educativo, contribuindo com dias melhores para a comunidade”, completou.

“A nossa sede fica no antigo Bar Kerubim. Assim que possível colocaremos a placa com o nome do instituto, para melhorar a localização da nossa entidade”.

Para Ivanildo, é importante que os moradores do bairro participem das atividades e fortaleçam a entidade.

“Inicialmente, estamos fazendo um trabalho nesse sentido, de fortalecer o Instituto, convidando as lideranças, colaboradores e amigos para que vistam a camisa do Instituto e se engajem na nossa luta, em defesa do Bom Parto”, concluiu.