Cidades

Defensor pede mais atenção com as vítimas da Braskem

Região dos Flexais em Maceió virou “deserto social” castigada pelos temporais desta quadra chuvosa

Por Ricardo Rodrigues - colaborador / Tribuna Independente 21/05/2025 08h55 - Atualizado em 21/05/2025 09h43
Defensor pede mais atenção com as vítimas da Braskem
Ricardo Melro voltou a cobrar realocação dos moradores dos Flexais e a denunciar situação de isolamento, que se agrava nas chuvas - Foto: Edilson Omena

Em solidariedade aos moradores do bairro de Bebedouro, principalmente com relação às famílias que residem nas encostas, que sempre sofrem com as fortes chuvas, o defensor público estadual Ricardo Melro, fez um apelo aos órgãos ligados à defesa civil e ao setor de infraestrutura da prefeitura de Maceió, para que priorizem a região dos Flexais, pois a situação de quem mora lá é desesperadora.

“Morar numa barreira é conviver diariamente com o risco iminente de deslizamentos. Morar ao pé da barreira também é. Não por escolha, mas por falta dela”, destacou Melro, acrescentando que muitos moradores não querem mais morar ali. “E, quando a chance de escolha finalmente surgiu, foi arrancada daqueles que mais precisam dela. E surgiu com o isolamento social”, afirmou o defensor público.

“A mineração criminosa [praticada pela Braskem] devastou a região, transformando a comunidade num deserto social. Em resposta, surgiram oito relatórios técnicos, todos unânimes: relocação voluntária com indenização justa para quem optasse por sair e revitalização para quem decidisse ficar”, acrescentou o defensor, referindo-se aos laudos produzidos por especialistas sobre a situação dos Flexais.

Segundo o defensor público, esses relatórios – sobre as condições sociais dos moradores dos Flexais, Quebradas e Rua Marquês de Abrantes – foram assinados por dois antropólogos (um do MPF e outro da Faculdade de Alagoas), CPI do Senado, Conselho Nacional dos Direitos Humanos, dois da OAB, Defesa Civil Municipal e Faculdade de Urbanismo e Arquitetura da Ufal. Mesmo assim, praticamente não valeram de nada.

O próprio defensor público, nas suas redes sociais, fez esse questionamento, na última segunda-feira (19). “E o que fizeram [com os relatórios]? Ignoraram as vozes da comunidade. Fecharam os olhos para os estudos, inclusive os da própria Braskem, que mostravam que cerca de 80% dos moradores queriam sair. Esqueceram os estudos técnicos, as denúncias, a urgência”, completou.

Ricardo Melro disse ainda que não foi por falta de aviso que as autoridades deixaram de agir, respeitando a vontade da maioria dos moradores da região. “Esses alertas embasam a Ação Civil Pública que ajuizamos há dois anos e meio. O pedido? Apenas o direito de escolha. A chance de decidir o próprio destino. A liminar foi negada. O processo, tramita. E os autos? Transbordam de provas”.

Na sequência, o defensor público vai mais além e mostra o quanto provoca dor e revolta a indiferença dos podres constituídos. “Enquanto isso, os moradores não estão em condomínios seguros da Ponta Verde, Jatiúca ou em qualquer área nobre. Estão no pé da barreira. Vivendo a angústia diária de perder tudo, incluindo a vida, a qualquer momento. Sentindo no corpo e na alma o risco que os demais apenas leem nos relatórios”.

O defensor público conclui a postagem dizendo que se os moradores tivessem escolha, centenas já teriam saído das áreas de risco, onde residem nas bordas da zona de exclusão, delimitada pela Defesa Civil de Maceió. Por isso, Ricardo Melro, insiste nesse pedido ruidoso: “Devolvam-lhes o direito de escolher”. Essas pessoas, para ele, merecem morar num local mais seguro: “Elas merecem essa chance. Elas têm esse direito”.