Cidades

“Braskem agora é dona de tudo?”, desabafa morador

Restrição a cemitério pela empresa é denunciado em Bebedouro; Prefeitura diz que administração continua sendo do Município

Por Texto: Evellyn Pimentel com Tribuna Independente 22/05/2021 08h45
“Braskem agora é dona de tudo?”, desabafa morador
Reprodução - Foto: Assessoria

“É inadmissível o que está acontecendo com o cemitério Santo Antônio, em Bebedouro. Com as portas fechadas, os familiares que têm seus entes queridos sepultados lá não podem entrar para prestar uma homenagem. Fui ao cemitério para fazer uns registros para um estudo que estou fazendo e fui surpreendido com essa situação. Seguranças da Braskem me informaram que estava fechado e não havia ordem para liberar. Quer dizer, a Braskem agora é dona de tudo? Dona até de um espaço público e histórico como o cemitério?”, questiona o professor José Balbino.

A reclamação do morador de Bebedouro se deve a restrição do Cemitério Santo Antônio, no bairro. Há pouco mais de um mês a reportagem da Tribuna Independente expôs a situação do local que vinha sendo depredado e estava tomado pelo mato. De acordo com José Balbino, a limpeza foi executada pela Braskem que agora estaria “controlando” o acesso.

“Mais uma vez eu venho fazer uma denúncia, da outra vez foi porque o cemitério estava abandonado. Fizeram a limpeza e trancaram o cemitério. Precisei produzir um material e fui proibido de entrar. Achei que o impedimento seria da Prefeitura, mas fui informado que a Braskem não permitia a entrada. Hoje não temos acesso ao cemitério, mesmo sendo de responsabilidade da Prefeitura ele está sob o controle da Braskem. Essa denúncia eu faço e vamos correr atrás porque pagamos impostos, é um espaço de utilidade pública. É um descaso com os vivos e agora com os mortos. Eu achava que a Prefeitura estaria administrando, mas a Prefeitura abandonou totalmente” reclama.

Há três gerações, familiares de José Balbino são sepultados no local e ele teme que os restos mortais de todos os sepultados precisem ser removidos ou fiquem a mercê do vandalismo e da ação do tempo.

“É submeter o ser humano a uma dor sem tamanho. Você já enfrentou a dor de se despedir de um parente, de um amigo e de repente precisa passar por isso. Vivenciar esse abandono, esse descaso e ainda precisar passar por uma remoção, é muito difícil”, diz.

Desde a primeira denúncia, feita pela Tribuna, a Prefeitura de Maceió afirmou que estava em tratativas com a Braskem para a resolução do problema, tendo em vista que os sepultamentos haviam sido suspensos no local e a necessidade de limpeza.

Procurada, a Prefeitura informou que a responsabilidade pelo cemitério continua sendo do executivo municipal. “Não há definição e não, não está sendo administrado pela mineradora. O que houve foi que estava tomado pelo mato e nós exigimos a limpeza, que foi realizada por eles, uma vez que está previsto num dos termos de cooperação que eles são responsáveis pela conservação, limpeza e vigilância patrimonial das áreas afetadas”, informou.

Questionada se o local havia sido interditado a Prefeitura não respondeu.

Também por meio de nota, a Braskem ratificou a informação de que atua no local apenas para cumprimento de cláusulas do acordo. Nem a petroquímica, tampouco a Prefeitura esclareceram se há providências em curso para resolver os problemas denunciados pela comunidade.

“Sobre o Cemitério Santo Antônio, a Braskem está em diálogo com as autoridades para buscar uma solução conjunta que atenda à comunidade. A região já conta com um sistema de monitoramento da estabilidade do terreno e segurança patrimonial. Além disso, a empresa realizou serviços de limpeza no local”, reforçou a empresa.