Cidades
Futuro das letras em Alagoas
Ao completar 100 anos, a Academia Alagoana de Letras revela a garota Helena Oiticica, de apenas 9 anos, que impressionou até o presidente da Academia Brasileira; entidade sai do casulo ao projetar proximidade com as novas gerações
![Futuro das letras em Alagoas](http://img.tribunahoje.com/KzLhs7xuIIYoAexEPz0Xo6qqAxE=/840x520/smart/s3.tribunahoje.com/uploads/imagens/paginas-17-a-20-1.jpg)
Dia em que Heleninha declamou poesia no auditório lotado (Foto: Divulgação)
“Gosto de ginástica rítmica e atualmente faço teatro, coisa que me interessei, principalmente depois da minha apresentação lá no centenário da academia”, disse a desinibida Heleninha. Depois da surpreendente apresentação, o comando da academia resolveu tomar uma decisão que pode significar o divisor de águas para uma aproximação da entidade - sempre muito formal e fechada - com as futuras gerações. “A Heleninha foi a inspiração que a Academia Alagoana de Letras precisava para pensar nas crianças e juventude”, admite o presidente da AAL, Rostand Lanverly. Menina já tem livros escritos e incentiva leitura para crianças Proativa, com todo jeitinho peculiar da criança, Helena não se fez de rogada e falou de forma simples, mas com estilo, sobre seu currículo, apesar da pouca idade. “Sou Helena e tenho dois livros escritos... Gente, eu sei que muita gente não gosta mais de ler com essa modernidade que está aí. Não fiquem só no celular e nas redes sociais, busquem ler um livro e verão como é divertido”, disse a menina, que encantou adultos e velhinhos taciturnos e reticentes da AAL, ao incentivar a leitura das novas gerações e crianças de sua idade, na gravação para as redes sociais da Tribuna Independente e do portal tribunahoje.com. Os livros que a pequena Heleninha escreveu são A Captura de Olívia e My Poems, este um livro de poesias escritos em inglês, publicados pela editora Estante Mágica, num projeto educativo da escola Maple Bear. “A participação da minha filha na festa do centenário foi uma grande surpresa. Houve a proposta de eu escrever uma poesia em homenagem a todos os ex-presidentes. Eu disse logo que poderia escrever, mas nunca em recitar, porque não tenho esse dom”, conta o pai Arnaldo Paiva.A menina Helena Paiva entre o presidente da Academia Alagoana de Letras, Rostand Lanverly (à esq.) e seu pai e também membro da AAL, Arnaldo Paiva (Foto: Edilson Omena)
“Aí pensei em dois dos meus filhos mais velhos. Mas aí em casa a Heleninha disse ‘eu leio pai’. E depois, outro dia, no carro, ela recitou e decorou a poesia e aquilo me chamou a atenção”, disse Paiva. “Na solenidade eu pensei que ela ia só ler, mas não, ela declamou aquilo e isso foi o mais surpreendente para mim e para todos”, completou Paiva. Veja abaixo a poesia que Heleninha declamou no dia da comemoração dos 100 anos da Academia Alagoana de Letras:Nasceste do desejo incontido de quarenta patronos do saber, artistas de diversos matizes, mestres no escrever e dizer.
Sonho de romancistas e contistas, poetas e jornalistas, ilustrados homens de fé, trouxeste brilho e cultura ao nosso rincão caeté.
És a tinta, o papel e o perfume de uma linda carta de amor,
escrita por médicos, engenheiros e juristas,
políticos, religiosos, letristas
que a musa francesa inspirou.
Desde primeiro do mês de novembro,
exatos cem anos atrás,
reluzem no céu estrelado
os nomes de teus ancestrais:
Moreira e Silva, teu primaz presidente,
Demócrito Gracindo a assentou,
Guedes de Miranda e seus notáveis discursos,
Barreto Cardoso, letrado doutor.
Jayme d’Altavila, poço de sabedoria,
Augusto Galvão, magistrado, professor,
Orlando Araújo, grande amigo das artes
e o tribuno romano ao pódio voltou.
Mendonça Júnior, ingente poeta do norte,
José Maria de Melo no folclore foi rei,
Moliterno inflou na poesia um vórtice.
O médico Ib Gatto assumiu o bastão,
o cajado de dom Iório abençoou o traçado e Milton Hênio Gouveia abraçou o timão.
Carlos Méro, intelectual de estirpe, do Penedo exaltou o teu verbo,
e Rostand Lanverly é o capitão do barco que singra as letras do magistral alfabeto.
Oh Academia! O que te espera?
Quantas histórias por redigir?
Quantos sonhos dormitam em ti?
És confraria de vestais guardiãs do conhecimento e ousas crer que o melhor está no porvir.
E na tua imortalidade reside o poder de teus crentes - eles reles mortais - pois são as obras e não os escritores que ficarão “ad gloriam” para sempre!
Academia sai do casulo e anuncia projetos de proximidade; entre as ações estão concursos literários com crianças, jovens e interiorização m que pese o casulo tradicional da intelectualidade que compõe a Academia Alagoana de Letras, e em geral as academias de letras Brasil afora, com um certo ar senhorial, há um consenso entre o pai de Heleninha e o presidente da Academia Alagoana de Letras: não dá mais para pensar só no passado somente, mas é preciso pensar na juventude. “Eu vejo essa gestão muito importante porque dá um passo à frente. A Academia sempre foi realmente muito fechada. A Academia quer ir onde o povo está e a juventude hoje esqueceu o livro e a leitura, com essa coisa do celular e das redes sociais”, disse o pai de Heleninha, Arnaldo Paiva. Para isso, o presidente da Academia Alagoana de Letras, Rostand Lanverly, anuncia três grandes projetos na tentativa de mostrar que a AAL quer uma proximidade com as novas gerações.Na foto superior, histórico prédio da AAL está com problemas e reuniões estão sendo feitas na Casa Jorge de Lima (abaixo) (Fotos: Sandro Lima)
O primeiro é o lançamento do projeto da Academia Alagoana Mirim de Letras, com a sugestão de temas e concurso de redações nos colégios. “Não existe no Brasil algo similar. O que existe são grupos literários mirins. Então vamos dar oportunidade a jovens entre 9 e 15 anos de idade que gostam de escrever e depois escolher as melhores para a gente formar essa academia mirim”, diz Lanverly. A Academia também vai colocar em prática um outro projeto: o de interiorização. “Em breve deveremos visitar a cidade de Delmiro Gouveia”, revela Lanverly, ao acrescentar que o projeto chama-se “Academia Alagoana de Letras: Mais Alagoana que Nunca”. E já estão agendadas visitas de integrantes da academia a cidades como Junqueiro e Maragogi. “Queremos fazer uma visita pelo menos uma vez por mês”, completa o presidente da AAL. Outro projeto vai ocorrer todas as terceiras quartas-feiras de cada mês, chamado de Dois Dedos de Prosa e Poesia, com direito a certificado, visando oportunizar novos escritores. “Serão escolhidos dois escritores por mês, com cobertura de TV e tudo e, posteriormente, serão escolhidos para publicação, com parceria da AAL e a editora Graciliano Ramos na publicação de livros dos novos escritores”, diz Lanverly.(Fotos: Sandro Lima)
As academias de letras, a partir de um determinado tempo, passaram a representar um marco na cultura e na civilização. Inspiradas na Academia Francesa de Letras, elas se espalharam pelo mundo. Uma nota triste no centenário da Academia Alagoana de Letras, no entanto, é o atual estágio do seu prédio-sede histórico, projetado pelo arquiteto italiano Luigi Lucarrini, situado bem no coração de Maceió. O prédio está sem atividades por causa da deterioração de suas instalações e não existe uma previsão para a volta das atividades por lá. Os literários do Estado estão se reunindo provisoriamente no prédio onde morou o escritor Jorge de Lima, conhecido como “príncipe dos poetas alagoanos” e um modernista, além de um dos fundadores da Academia Alagoana de Letras. Fundada a 1º de novembro de 1919 e que já teve entre seus membros mais famosos, além do próprio Jorge de Lima, o imortal e ex-presidente da Academia Brasileira Lêdo Ivo; e o lexicógrafo Aurélio Buarque de Hollanda Ferreira, atualmente a academia possui 40 escritores, dos quais três deles tomaram posse recentemente nas cadeiras da AAL, os escritores Temóteo Correia, o médico Fernando Gomes e Maria Heloísa de Melo Moraes, em função do falecimento de três ex-membros da Academia.Mais lidas
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