Cidades

‘Mina 7 é a que oferece maior risco de colapso’, diz pesquisador

Abel Galindo afirma que é preciso adotar medidas para evitar rompimento

Por Evellyn Pimentel 21/03/2020 13h50
‘Mina 7 é a que oferece maior risco de colapso’, diz pesquisador
Reprodução - Foto: Assessoria
O Serviço Geológico do Brasil (CPRM) divulgou esta semana um relatório técnico de análises interferométricas – imagens de satélite que identificam movimentações -, feitas entre 2018 e 2019. O relatório aponta para uma continuidade no afundamento dos bairros do Pinheiro, Bebedouro, Mutange e Bom Parto. O pesquisador Abel Galindo, que vem realizando estudos paralelos sobre o processo, analisou o relatório e afirma que atualmente o maior risco de colapso está na Mina 7 situada entre a sede operacional da Braskem e a Casa de Saúde José Lopes, no bairro do Mutange em Maceió. Galindo afirma ainda que é preciso adotar medidas que impeçam o possível colapso da cavidade. Tribuna Independente – O relatório da CPRM aponta para um afundamento acumulado de 714mm desde 2016, período da coleta de análises. Além disso faz um destaque especial para a região da Mina 7. Qual seria o risco para essa cavidade? Abel Galindo - Nos últimos oito dias eu venho fazendo cálculos de estabilidade de algumas minas, principalmente aquelas que têm diâmetro maior, destacado pelo relatório dos alemães. E entre essas minas, a que tem o maior diâmetro, das minas que subiram, a mina 7 é a que se destaca. E de todas as minas que eu vi que valeria a pena dar uma verificada sobre a estabilidade delas, realmente a mina 7 é a que oferece maior risco de haver um sinkhole, um colapso. Para a minha surpresa no relatório da CPRM está justamente o destaque para a mina 7, que é a mais perigosa de todas, a que pode realmente romper é a mina 7, não deixando de dizer que outras minas poderiam também no futuro se nada for feito, vir a romper. De um modo geral, o relatório mostra que o mais preocupante é a mina 7, onde é mais provável de se ter um colapso. Essa mina 7, você olhando para a casa de saúde José Lopes, ela fica na lateral esquerda da casa de saúde José Lopes. Essa é a mina mais perigosa de todas. E eu venho repetindo, com meus cálculos e esse relatório de interferometria só vem confirmar que essa mina tem uma deformação específica maior do que a área que está afundando. A área toda tem deformação em torno de 24cm por ano, já na região da mina 7, são 28cm. É o ponto crítico de toda essa deformação Tribuna Independente – Existe uma área considerada de maior risco, ou que afunde mais nos quatro bairros? Abel Galindo - A interferometria mostra de novo que realmente ali na parte baixa, pegando da encosta do Mutange até a margem da lagoa é a parte que afunda mais. Tribuna Independente – Considerando os dados da primeira interferometria apresentada ano passado com dados de 2016 a 2018 e essa, quanto representa o afundamento? Abel Galindo – O destaque que é preciso fazer é que, se você pegar a primeira interferometria, apresentada pelo Thalles da CPRM, lá no Senado no ano passado, a interferometria que eles apresentaram mostra que ali onde está a casa de saúde José Lopes, a sede da Braskem de campo, que tem ocorrido no ano de 2018 um afundamento na ordem de 18,8cm no ano de 2018. Agora vem o relatório que mostra que o afundamento passou de 19cm para 24cm por ano. Então aumentou aí diante desses resultados, 5cm por ano, foi a deformação. Como um todo a deformação continua lenta, mas consistente. Tribuna Independente – Também esta semana, a Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) anunciou a suspensão das atividades de embarque e desembarque na estação do Mutange. O que especificamente está havendo naquela região? Abel Galindo - Em relação ao VLT, no relatório de fevereiro de 2019 mostra uma deformação na ordem de 14cm ano no máximo. Agora está apresentando 17,5cm aproximadamente. Então o aumento não é tão grande assim, foi de 3cm por ano, é o que está no relatório. Está deformando na faixa de 17,5 e não foi uma deformação tão preocupante, existe, mas é lenta. Tribuna Independente – Em relação à Lagoa Mundaú, quais informações se tem até agora ? Abel Galindo - Quando eu falo que a deformação em baixo, entre a Major Cícero e a Lagoa Mundaú, em 2018 se teve um afundamento de 19cm e em 2019 de 24cm, houve uma velocidade um pouco maior de deformação. Em 2019 soma-se a 2018 mais 24cm. Como também está no relatório, essa parte fora da lagoa, entre a margem atual e a Avenida Major Cícero, tem-se um acumulo nesses últimos três anos e meio de mais de 71cm. Foi um afundamento maior em 2019, do que em 2018. Agora eu quero relembrar que é na parte fora da água. Porque dentro da água eles não têm informação do que aconteceu nos últimos dez anos. Eu mostrei que através de imagens de satélite do Google, do mapa, e investigando, medindo, fazendo medições em campo e pegando informações de pessoas da região, eu cheguei a conclusão de que a antiga margem da lagoa ali tem um avanço de 150 metros. O quanto a lagoa submergiu a área da casa José Lopes e continua avançando. Na parte submersa, onde era a antiga margem tivemos um afundamento de dois metros ou mais. Tribuna Independente – A CPRM elencou algumas recomendações à Braskem e aos órgãos públicos. A finalidade é prever possíveis colapsos? Abel Galindo - O que a CPRM fala no relatório é que para monitorar o risco de haver um colapso é preciso a instalação de sensores que medem sismos, são microssismógrafos. Esses equipamentos são instalados dentro das cavidades, ao longo da perfuração dos poços. Então já existe a recomendação porque esse equipamento acusa no caso de um iminente colapso, dá para acusar com alguma antecedência, de um dia, dois dias. Isso é importante que seja instalado. Tribuna Independente – Em sua avaliação o risco está aumentando? Abel Galindo - A medida que a cada ano vai aumentando mais e mais o afundamento, o risco vai se agravando. Agora é importante medir. Nos meus cálculos a mina 7 subiu 200 metros. Como a deformação ainda está acontecendo é porque os tetos estão desabando. É muito importante que seja verificados e o teto da mina 7 continua subindo. No relatório dos alemães a mina 7 e 17 não pararam de subir. Nos meus cálculos se a mina 7 subir 150m chegando a uma altura de 600m ela desaba e entra em colapso. Isso aí é o que meus cálculos dizem e há uma possibilidade muito grande. As outras eu fiz uns cálculos e a possibilidade é menor, a não ser que continue subindo. Mas mesmo que a mina 17 suba mais, exista uma segurança maior por conta do perfil geológico acima da mina 17. E a mina 7 tem o diâmetro maior de todos, de 150 metros, isso medido agora recente, enquanto que as outras têm diâmetro de cerca de 100m. Por isso, quanto maior o diâmetro, maior possibilidade de ruptura.