Brasil
89% dos brasileiros veem clima como ameaça real ao país, mas só 30% sabem o que fazer em eventos extremos
Pesquisa iCS-Ipsos-Ipec revela que seis em cada dez brasileiros mudaram hábitos nos últimos 12 meses por causa da crise climática
Pela primeira vez, anfitriões do maior evento mundial dedicado ao combate às mudanças climáticas, os brasileiros chegam à COP30 preocupados com o tema: 89% reconhecem as mudanças climáticas como uma ameaça real à vida no país. A maioria (56%) acha que os temas clima e ambiente terão peso nas eleições do próximo ano. Por outro lado, quase metade (43%) admite não ter mudado qualquer hábito nos últimos 12 meses para contribuir com os esforços contra o aquecimento global.
A desconexão entre os níveis de consciência e de ação é uma das conclusões de uma pesquisa encomendada pelo Instituto Clima e Sociedade (iCS) ao Ipsos-Ipec, realizada por meio de entrevistas pessoais domiciliares, entre 8 e 14 de outubro, com 2.480 pessoas em todas as regiões do país. A margem de erro é de dois pontos percentuais.
A pesquisa mostra que apenas 30% dos brasileiros sabem o que fazer em caso de eventos climáticos extremos, como enchentes ou secas, e que metade nunca ouviu falar em “adaptação climática”. Quando questionados sobre as maiores dificuldades para se adaptar aos impactos do clima, 29% apontam a falta de informação, superando os 24% que mencionam a falta de recursos financeiros.
A maioria dos entrevistados (56%) considera que o tema “clima e meio ambiente” terá peso grande ou muito grande na decisão de voto nas eleições do próximo ano — para presidente, governadores, senadores e deputados federais e estaduais. Ainda assim, apenas 35% disseram já ter votado em candidatos com propostas ambientais. Só 14% incluem o clima entre suas prioridades eleitorais, atrás de todas as demais áreas pesquisadas — sobretudo da saúde (56%), da educação (40%) e do combate à corrupção (36%).
‘A sociedade brasileira já entendeu a gravidade da crise climática’
“Os dados mostram que a sociedade brasileira já entendeu a gravidade da crise climática e quer fazer parte da solução, mas ainda precisa de mais informação e condições para agir”, disse Thais Ferraz, diretora programática do Instituto Clima e Sociedade. “Há uma consciência crescente de que o clima não é obstáculo, e sim caminho para o desenvolvimento do país. O desafio agora é transformar essa preocupação em ação coletiva, com governos, empresas e cidadãos compartilhando responsabilidades”, avaliou.
“O estudo traz um recado claro para os gestores públicos: a urgência climática bate à porta dos municípios. A maior parte dos brasileiros sente que sua própria cidade está despreparada para lidar com eventos extremos como enchentes e secas e uma maioria esmagadora (95%) cobra das prefeituras um plano de emergência. Contudo, metade da população nunca ouviu falar em adaptação climática”, afirmou Patricia Pavanelli, diretora de Opinão Pública e Política da Ipsos-Ipec. “Isso significa que há uma demanda latente por segurança e planejamento, e uma grande oportunidade para traduzir conceitos técnicos em ações concretas que protejam a vida das pessoas onde elas vivem”, concluiu.
O eleitor mais sensível ao tema está entre os mais escolarizados (67% dos que têm ensino superior consideram o assunto importante), entre os jovens (78% de 16 a 24 anos se influenciariam por propostas ambientais) e, especialmente, entre os que vivenciaram eventos climáticos extremos — 76% dos impactados afirmam dar mais peso ao tema.
O Nordeste é a região com maior índice de desinformação, enquanto o Sul lidera em conhecimento, seguido pelo Sudeste. Um terço da população afirma já ter sido diretamente impactada por algum evento climático extremo, sendo maior a proporção na região Sul. A pesquisa revela que a quase unanimidade dos brasileiros (88%) concorda — total ou parcialmente — que é possível crescer economicamente e proteger o meio ambiente ao mesmo tempo. Além disso, 84% concordam que o agronegócio deveria rever suas práticas atuais como forma de contribuir com os desafios ambientais.
A maioria da população admite ter sido atingida, em seu dia a dia, por algum efeito das mudanças climáticas. Alagamentos, inundações e enchentes são os efeitos mais preocupantes, enquanto a seca e a falta de água aparecem como os fenômenos que mais podem afetar a rotina dos brasileiros. Noventa e um por cento concordam, total ou parcialmente, que as populações mais pobres e que vivem nas periferias das cidades são as mais atingidas pelos efeitos do clima.
A pesquisa também mostra insatisfação com o desempenho do Brasil na adaptação climática: 83% concordam que o país e seus municípios estão despreparados para lidar com o problema. Nada menos que 95% afirmam que a prefeitura de sua cidade deveria ter planos de emergência para enfrentar os efeitos da crise climática — um consenso em todas as regiões do país.
No comportamento individual, uma parcela considerável ainda se mostra refratária à mudança: 43% disseram não ter alterado qualquer hábito nos últimos doze meses. Mas seis em cada dez brasileiros afirmam ter feito alguma modificação.
As ações mais comuns são a redução do consumo de água (27%) e de energia (24%), seguidas pela separação do lixo para reciclagem (22%), diminuição do uso de plástico descartável (11%). Apenas 6% disseram ter passado a comprar menos coisas ou produtos de segunda mão e reduzido consumo de carne; 5% afirmam considerar o tema ambiental na definição do voto; e outros 5% relataram ter deixado de usar, ou passado a usar menos, o carro. Evitar produtos de empresas que prejudicam o meio ambiente foi uma atitude adotada por apenas 4%.
Quando perguntados sobre o que estariam dispostos a fazer pela causa climática, os percentuais mudam. A maior parcela (49%) diz que poderia reciclar o lixo, 33% reduzir o consumo de energia elétrica, 23% usar transporte público, bicicleta ou andar a pé, 22% apoiar ações do governo a favor do meio ambiente, e outros 22% votar em candidatos que defendem o tema.
Além disso, 19% afirmam que comprariam alimentos produzidos localmente, 14% usariam as redes sociais para conscientizar outras pessoas, 12% participariam de ações coletivas, 8% assinariam petições online e 7% estariam dispostos a participar de manifestações. A Amazônia aparece disparada como o bioma brasileiro com maior prioridade de proteção (52%), seguida pela Mata Atlântica (16%), o Pantanal (12%), a Caatinga (7%) e o Cerrado (5%). A região Norte apresenta o maior percentual de menções à Amazônia como o principal bioma a ser protegido: 63%.
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