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89% dos brasileiros veem clima como ameaça real ao país, mas só 30% sabem o que fazer em eventos extremos

Pesquisa iCS-Ipsos-Ipec revela que seis em cada dez brasileiros mudaram hábitos nos últimos 12 meses por causa da crise climática

Por Assessoria 13/11/2025 15h28
89% dos brasileiros veem clima como ameaça real ao país, mas só 30% sabem o que fazer em eventos extremos
Meio ambiente - Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Pela primeira vez, anfitriões do maior evento mundial dedicado ao combate às mudanças climáticas, os brasileiros chegam à COP30 preocupados com o tema: 89% reconhecem as mudanças climáticas como uma ameaça real à vida no país. A maioria (56%) acha que os temas clima e ambiente terão peso nas eleições do próximo ano. Por outro lado, quase metade (43%) admite não ter mudado qualquer hábito nos últimos 12 meses para contribuir com os esforços contra o aquecimento global.

A desconexão entre os níveis de consciência e de ação é uma das conclusões de uma pesquisa encomendada pelo Instituto Clima e Sociedade (iCS) ao Ipsos-Ipec, realizada por meio de entrevistas pessoais domiciliares, entre 8 e 14 de outubro, com 2.480 pessoas em todas as regiões do país. A margem de erro é de dois pontos percentuais.

A pesquisa mostra que apenas 30% dos brasileiros sabem o que fazer em caso de eventos climáticos extremos, como enchentes ou secas, e que metade nunca ouviu falar em “adaptação climática”. Quando questionados sobre as maiores dificuldades para se adaptar aos impactos do clima, 29% apontam a falta de informação, superando os 24% que mencionam a falta de recursos financeiros.

A maioria dos entrevistados (56%) considera que o tema “clima e meio ambiente” terá peso grande ou muito grande na decisão de voto nas eleições do próximo ano — para presidente, governadores, senadores e deputados federais e estaduais. Ainda assim, apenas 35% disseram já ter votado em candidatos com propostas ambientais. Só 14% incluem o clima entre suas prioridades eleitorais, atrás de todas as demais áreas pesquisadas — sobretudo da saúde (56%), da educação (40%) e do combate à corrupção (36%).

‘A sociedade brasileira já entendeu a gravidade da crise climática’


“Os dados mostram que a sociedade brasileira já entendeu a gravidade da crise climática e quer fazer parte da solução, mas ainda precisa de mais informação e condições para agir”, disse Thais Ferraz, diretora programática do Instituto Clima e Sociedade. “Há uma consciência crescente de que o clima não é obstáculo, e sim caminho para o desenvolvimento do país. O desafio agora é transformar essa preocupação em ação coletiva, com governos, empresas e cidadãos compartilhando responsabilidades”, avaliou.

“O estudo traz um recado claro para os gestores públicos: a urgência climática bate à porta dos municípios. A maior parte dos brasileiros sente que sua própria cidade está despreparada para lidar com eventos extremos como enchentes e secas e uma maioria esmagadora (95%) cobra das prefeituras um plano de emergência. Contudo, metade da população nunca ouviu falar em adaptação climática”, afirmou Patricia Pavanelli, diretora de Opinão Pública e Política da Ipsos-Ipec. “Isso significa que há uma demanda latente por segurança e planejamento, e uma grande oportunidade para traduzir conceitos técnicos em ações concretas que protejam a vida das pessoas onde elas vivem”, concluiu.

O eleitor mais sensível ao tema está entre os mais escolarizados (67% dos que têm ensino superior consideram o assunto importante), entre os jovens (78% de 16 a 24 anos se influenciariam por propostas ambientais) e, especialmente, entre os que vivenciaram eventos climáticos extremos — 76% dos impactados afirmam dar mais peso ao tema.

O Nordeste é a região com maior índice de desinformação, enquanto o Sul lidera em conhecimento, seguido pelo Sudeste. Um terço da população afirma já ter sido diretamente impactada por algum evento climático extremo, sendo maior a proporção na região Sul. A pesquisa revela que a quase unanimidade dos brasileiros (88%) concorda — total ou parcialmente — que é possível crescer economicamente e proteger o meio ambiente ao mesmo tempo. Além disso, 84% concordam que o agronegócio deveria rever suas práticas atuais como forma de contribuir com os desafios ambientais.

A maioria da população admite ter sido atingida, em seu dia a dia, por algum efeito das mudanças climáticas. Alagamentos, inundações e enchentes são os efeitos mais preocupantes, enquanto a seca e a falta de água aparecem como os fenômenos que mais podem afetar a rotina dos brasileiros. Noventa e um por cento concordam, total ou parcialmente, que as populações mais pobres e que vivem nas periferias das cidades são as mais atingidas pelos efeitos do clima.

A pesquisa também mostra insatisfação com o desempenho do Brasil na adaptação climática: 83% concordam que o país e seus municípios estão despreparados para lidar com o problema. Nada menos que 95% afirmam que a prefeitura de sua cidade deveria ter planos de emergência para enfrentar os efeitos da crise climática — um consenso em todas as regiões do país.

No comportamento individual, uma parcela considerável ainda se mostra refratária à mudança: 43% disseram não ter alterado qualquer hábito nos últimos doze meses. Mas seis em cada dez brasileiros afirmam ter feito alguma modificação.

As ações mais comuns são a redução do consumo de água (27%) e de energia (24%), seguidas pela separação do lixo para reciclagem (22%), diminuição do uso de plástico descartável (11%). Apenas 6% disseram ter passado a comprar menos coisas ou produtos de segunda mão e reduzido consumo de carne; 5% afirmam considerar o tema ambiental na definição do voto; e outros 5% relataram ter deixado de usar, ou passado a usar menos, o carro. Evitar produtos de empresas que prejudicam o meio ambiente foi uma atitude adotada por apenas 4%.

Quando perguntados sobre o que estariam dispostos a fazer pela causa climática, os percentuais mudam. A maior parcela (49%) diz que poderia reciclar o lixo, 33% reduzir o consumo de energia elétrica, 23% usar transporte público, bicicleta ou andar a pé, 22% apoiar ações do governo a favor do meio ambiente, e outros 22% votar em candidatos que defendem o tema.

Além disso, 19% afirmam que comprariam alimentos produzidos localmente, 14% usariam as redes sociais para conscientizar outras pessoas, 12% participariam de ações coletivas, 8% assinariam petições online e 7% estariam dispostos a participar de manifestações. A Amazônia aparece disparada como o bioma brasileiro com maior prioridade de proteção (52%), seguida pela Mata Atlântica (16%), o Pantanal (12%), a Caatinga (7%) e o Cerrado (5%). A região Norte apresenta o maior percentual de menções à Amazônia como o principal bioma a ser protegido: 63%.