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Fascistas italianos, hooligan escocês e bolsonaristas: Os radicais que vão à Ucrânia

Conheça os vários perfis de tarados por violência que, imbuídos por ideais de extrema direita, resolveram embarcar para a guerra no Leste Europeu “para contribuir” na luta contra a Rússia

Por Henrique Rodrigues com Revista Fórum 09/03/2022 06h23
Fascistas italianos, hooligan escocês e bolsonaristas: Os radicais que vão à Ucrânia
Membros da legião de estrangeiros que lutam na Ucrânia - Foto: Redes sociais

Desde que a invasão da Ucrânia por tropas russas começou, na madrugada de 24 de fevereiro, o mundo se viu tomado por uma preocupação que há pelo menos três décadas estivera esquecida numa gaveta da História: a possibilidade de um conflito generalizado nos quatro cantos do globo ou de um apocalipse nuclear.

As cenas de cidades sendo destruídas e de cadáveres pelas ruas, independentemente do que pensem ou entendam as pessoas sobre o conflito, sensibilizaram a opinião pública e passaram a apavorar aqueles que não têm sequer ideia do que seja uma guerra. Quer dizer, nem todos.

Alguns cidadãos de várias nacionalidades, imbuídos por ideais de extrema direita e tarados por violência (talvez também fascinados com um romantismo cinematográfico e dos games em relação às guerras) deixaram seus países e embarcaram, ou estão prestes a embarcar, para as trincheiras ucranianas.

A imprensa italiana noticiou nos últimos dias que militantes neofascistas se alistaram na chamada Legião Internacional de Defesa do Território Ucraniano para lutar contra a Rússia. Na verdade, uma boa parte deles, cerca de 60, já está por aquelas bandas desde 2014, cerrando fileiras nos conflitos contra separatistas russos na região de Donbass. Agora, após a invasão total iniciada em 24 de fevereiro, o número de italianos a pegar em armas pelo lado de Kiev só tem aumentado.

"É um forte interesse que está se desenvolvendo, especialmente por parte daqueles que estão considerando a possibilidade de ir para lutar com as forças ucranianas. O apelo do presidente Volodymyr Zelensky para a criação de uma espécie de brigada internacional irrompeu e foi até aceito por alguns ministros das Relações Exteriores europeus”, explicou o Francesco Marone, pesquisador do Instituto de Estudos Políticos Internacionais, com sede em Milão.

De acordo com dados levantados pelo jornal italiano Il Post, desde 2014, quando as coisas começaram a esquentar na fronteira da Ucrânia com a Rússia, aproximadamente dois mil cidadãos de vários países europeus entraram no conflito, em sua maioria em favor dos ucranianos. Haveria ainda canadenses, australianos e norte-americanos.

O Código Penal Italiano prevê, em seu artigo 288, que “se alistar ou armar cidadãos, para que possam servir ao serviço ou a favor do estrangeiro” é crime passível de quatro a 15 anos de cadeia. Mas pelos dados de Roma, isso parece não estar atrapalhando os planos de quem pretende sair da Itália para matar ou morrer nas terras do leste.

Um caso que também ganhou notoriedade nos últimos dias foi o do hooligan escocês Robert Grady, que foi banido há anos dos estádios britânicos por se envolver em episódios de violência. Aos 61 anos, o fanático torcedor do Hibernian de Glasgow resolveu largar tudo e partir para outra batalha, desta vez fora das arquibancadas. Já está em Kiev, fardado e com um rifle nas mãos.

Com experiência militar no exército real britânico, Grady é outra figura reacionária cheia de certezas radicais e exalando extremismo de direita. Nem o fato de ter netos o demoveu da ideia de ir à Ucrânia “para matar o máximo possível de russos”, segundo suas próprias palavras.

“Meu nome é Rob, sou um avô de 61 anos, da Escócia. Eu viajei para a Ucrânia para ajudá-los a combater os russos. Farei tudo o que estiver ao meu alcance para salvar a Ucrânia de Putin. Qualquer pessoa no mundo, por favor, ajude a Ucrânia. Eles precisam que todos ajudem. Voluntários, por favor!”, escreveu o hooligan da terceira idade em suas redes sociais.

No Brasil a coisa não tem sido diferente. Reportagens recentes apontam que aproximadamente 500 homens, de diversos estados e condições econômicas e sociais, mas que têm em comum a idolatria por Jair Bolsonaro, têm tentado de alguma forma embarcar para a Europa para participar da guerra.

Um instrutor de tiro do sul do país inclusive ganhou seu momento de fama nos últimos dias ao anunciar que estava indo para o território ucraniano para “matar e morrer”, sempre com frases emocionantes e solidárias na ponta da língua. Um outro, que admitiu aos jornalistas que já tentou ser PM, do Exército Brasileiro e até da Legião Estrangeira da França, confessa que, como nada disso foi possível, o negócio é embarcar para Kiev e “curtir” a guerra. Em comum, todos dizem que querem “ajudar o povo ucraniano” e “lutar contra a demoníaca Rússia”, como se alguém realmente acreditasse que tamanha sanha por viver uma guerra e sair dando tiros pra todos os lados fosse alimentada por esses sentimentos tão nobres.