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Cresce o número de moradores de rua em São Paulo e no Rio de Janeiro

A Prefeitura do Rio diz que o número de moradores de rua triplicou em 3 anos; Na capital paulista, há entre 20 mil a 25 mil moradores de rua

Por Profissão Repórter 13/07/2017 08h14
Cresce o número de moradores de rua em São Paulo e no Rio de Janeiro
Reprodução - Foto: Assessoria

É cada vez maior o número de pessoas que moram nas ruas das duas maiores cidades do Brasil: São Paulo e Rio de Janeiro.

No Centro do Rio de Janeiro, 60 pessoas dormem na calçada da Defensoria Pública. Segundo a Prefeitura, o número de moradores de rua triplicou na cidade em três anos e subiu de cinco mil, em 2013, para quase 15 mil em 2016. Muitas dessas pessoas são trabalhadores e outras desempregadas.

Carlos Manoel Gomes, de 28 anos, está no Rio de Janeiro há três meses e dorme nas ruas. Para fazer a barba e escovar os dentes, ele usa o banheiro do aeroporto. No local, há vários moradores de rua que fazem o mesmo. O café da manhã fica a dois quilômetros do aeroporto, no Largo da Glória.

Carlos procura emprego e também o pai. Sua família viveu na cidade até 2001 e depois da separação, ele e a mãe foram morar no Rio Grande do Sul. Ele trabalha desde os 18 anos e teve cinco empregos com carteira assinada. Um deles, em um frigorífico que pertence a JBS, grupo envolvido nos escândalos de corrupção investigados pela Lava Jato.

Na capital paulista, há entre 20 mil a 25 mil moradores de rua e 3% são crianças. Enquanto a população de São Paulo cresce, em média, 0,7% ao ano, o número de moradores de rua aumenta 4,1%.

Tamires Silva mora há oito meses em uma praça no Centro de São Paulo com os dois filhos, Alef de dois anos e Tainá de quatro, e está grávida do terceiro. Ela trabalhava em uma confeitaria e morava com a mãe. Desde novembro, está desempregada. Tamires não conta porque saiu de casa. Hoje, as crianças tomam banho de água gelada em um banheiro do metrô. A maioria dos pertences da família foram doados.

Ações na CracolândiaNa manhã de um domingo, dia 21 de maio, a polícia realizou uma operação para prender traficantes que atuavam na Cracolândia, no Centro de São Paulo. Dois dias depois, a Prefeitura da cidade começou a demolir imóveis para reurbanizar a área.

Depois disso, a maioria dos usuários passou a se concentrar na Praça Princesa Isabel, que fica a poucos metros da Cracolândia. Mas uma série de operações da polícia fez com que os usuários deixassem o local. Depois de um mês da ação polícia, os usuários voltaram a se concentrar na mesma região.

Daniel Silva, de 26 anos, que também é usuário de crack, vive com a companheira em um espaço entre a grade e o portão de uma loja, na região da Cracolândia. Ele explica o motivo de não ir para um albergue: “Eu não gosto de ficar separado de quarto com a minha esposa. Lá tem quarto de homens e de mulheres. Eu sou dono da minha vida, não gosto de regras”.

São Paulo tem 85 albergues, apenas sete permitem que homens e mulheres durmam no mesmo quarto, desde que o casal tenha filhos. “Como aqui existem regras, tem horário pra entrar, pra fazer as atividades, pra tomar banho, pra sair, muitas das pessoas preferem a liberdade das ruas”, afirma Filipe Sabará, secretário de Assistência e Desenvolvimento Social.

O Atendimento Diário Emergencial foi criado há um mês com regras diferentes de um albergue. Os moradores de rua podem entrar em sair quando quiserem e o local fica aberto 24 horas.

A travesti Larissa mora há um mês embaixo do Minhocão, no Centro de São Paulo. Ela pede para não ser identificada porque a família, que é de Belém, não sabe da sua situação. Ela diz que já sofreu ataques homofóbicos em albergues e, por isso, prefere dormir na rua.

Anderson Dias, de 21 anos, morou na rua a primeira vez aos oitos anos, depois de fugir de casa. De lá pra cá foram muitas idas e vindas: “Eu faço amizade, conheço gente nova. Bem, bem eu não vivo, principalmente nesse frio”.