Política

Desaprovação política para de crescer

Filiados a partidos analisam atual condição em que sentimento de indignação vem sendo substituído por resignação

Por Carlos Victor Costa / Tribuna Independente 18/11/2017 09h41
Desaprovação política para de crescer
Reprodução - Foto: Assessoria
No Barômetro Político, levantamento mensal feito pelo Instituto Ipsos, a desaprovação de políticos parou de crescer depois de atingir o ápice nos últimos meses. A pesquisa mostra que o sentimento de indignação começa a ser substituído pelo de resignação. A reportagem da Tribuna Independente trouxe o assunto para o cenário local e ouviu alguns líderes políticos do Estado, como também especialistas na seara eleitoral. Um dos partidos atingidos pelo sentimento de indignação, o PMDB sempre consegue eleger grandes bancadas e tem hoje, mesmo a contragosto popular, o presidente da República. Para o secretário-geral do partido em Alagoas, Ricardo Santa Rita, a mudança apontada pelo levantamento do instituto terá reflexo na eleição de 2018. “Acontece que hoje o surgimento de novos nomes não está da forma que deveria, porque muita gente diz que não quer saber e nem gosta de política e a omissão é a pior coisa que tem. A gente precisa ter consciência política para trabalhar com as alternativas que se apresentem e dê resultados, e não da forma como a gente tem visto. Acredito que nós teremos mudanças razoáveis no próximo pleito”, argumenta. Filiado ao PSDB, legenda que também tem sido alvo de reprovações, o  deputado estadual Rodrigo Cunha  avalia que o país está passando por um momento jamais visto e que isso acaba refletindo em toda cadeia política. “Nós estamos passando por um momento diferente na história do país. Nós vivemos num momento que a presidência foi trocada, em que se tentou tirar duas vezes o atual presidente e que tem um nível baixíssimo de aprovação. A mídia reforça todos os dias a ideia de que todo político é ladrão, porque tem muitos políticos que são ladrões. É isso que eles querem: mostrar que são todos iguais e não é assim. As pessoas têm um poder enorme nas mãos que é o voto”, explica Cunha. Cunha ressaltou ainda que não só os políticos precisam ser fiscalizados. “Temos que olhar todos os lados, principalmente o Judiciário. Aqui em Alagoas mesmo está se completando 10 anos que se investiga os desvios de mais de R$ 300 milhões dentro da Assembleia. Quais foram as consequências disso? As pessoas precisam enxergar a política como prestação de serviços e não como meio de vida”. Para petista, farsa dos movimentos contra a corrupção caiu O PT, um dos principais atingidos também na questão de avaliação popular, também faz a sua avaliação. Para o presidente do partido em Alagoas, Ricardo Barbosa, a desaprovação de políticos é sintomática. “Acompanhei um pouco o que circulou nas redes sociais. Em minha opinião, isso é fruto de tentativas de se desmoralizar a política ou os políticos, colocando essa responsabilidade nas costas principalmente do PT e dos governos do PT. No entanto, essa farsa caiu”, considera Ricardo. Barbosa compreende ainda que a substituição do sentimento de indignação ocorreu após a derrubada do governo Dilma (PT). “As pessoas que estavam indo para ruas, indignadas e sendo chamadas para lutar contra a corrupção, acharam derrubando a Dilma do poder, não acabou com a corrupção. Os brasileiros caíram na realidade de que houve, de fato, um movimento para retirar da presidência uma pessoa com credibilidade e que fora eleita democraticamente”, destacou o presidente do PT em Alagoas, Ricardo Barbosa. Marketing passa a ser umas das prioridades Legendas partidárias buscam profissionais para reverter a impopularidade Embora estejam vivenciando uma nova fase de reconstrução perante a opinião popular, os partidos passam a investir no marketing para estar bem diante do seu eleitorado. É justamente esse contexto abordado pelo publicitário consultado pela reportagem da Tribuna Independente, Einhart Jacome da Paz. Ele acredita que essa resignação irá se transformar em outro cenário quando a eleição se aproximar. “Não acredito nisso de resignação e apatia. O que eu acho é que os caras enchem o saco das pessoas querendo discutir política, quando as pessoas sabem que não adianta discutir política porque nada vai acontecer”. Segundo o publicitário, ao levantamento do Instituto Ipsos mostra que a situação está estabilizada, sem diminuição ou resignação. Destaca também como o marketing político está atuando para reverter algumas situações. “Acham que o trabalho do marketing é enganar o povo e não é verdade. O cliente contrata o homem do marketing para que ele encontre uma fórmula de comunicar determinada coisa”, pontua. Fazendo uma análise do cenário como reflexo em Alagoas, Einhart elogiou a forma como o senador Renan Calheiros (PMDB) vem se comportando. Ele também destacou a juventude como ponto positivo para Renan Filho (PMDB) e Rui Palmeira (PSDB). “Acho que o senador Renan tem agido de uma forma correta. De certa forma, ele achou uma saída estrategicamente interessante, quando ele começou a brigar com o governo Temer. Ele se colocou como oposição e isso dá uma situação interessante para ele. O Renan Filho e o Rui Palmeira já são de uma geração mais jovem. E os dois são experimentados do ponto de vista administrativo. Um é governador do estado e já foi prefeito de um município. São jovens, da geração que mais vão ganhar as eleições. É provável que aconteça aí é que a eleição nacional acabe interferindo em todas as eleições estaduais”, argumenta o publicitário. Mudança não tem a ver com impunidade O cientista político Ranulfo Paranhos, também consultado pela Tribuna,  avalia que o fato da desaprovação ter caído não tem ligação com a aceitação da impunidade. “Tem dois elementos importantes: primeiro é o leque de opções, quando você expõe como leque de opções apenas os indivíduos que estão envolvidos em escândalos em maior ou menor grau, os eleitores vão ter que escolher entre esses indivíduos. Você pode aumentar a taxa de abstenção, de voto nulo e branco, mas no limite, na escolha final, um dos indivíduos será aquele que tem algum tipo de envolvimento com escândalo ou pendência na justiça, mas porque só tinha aquele. Acho que é uma questão que explica do ponto de vista muito prático: tenho que votar, preciso votar, pois o voto ainda é obrigatório”. Para Paranhos, há uma impressão de que na opinião pública, o bom candidato é aquele candidato novo e que não tem passado sujo. “Isso seria ótimo, ter candidato com esse perfil, mas por outro lado sem experiência política. Se a gente trouxer para o cenário daqui do estado, nenhum dos candidatos que se apresenta ele tem menos de 10 anos de vida pública. Ou seja, o candidato mais jovem tem aí no mínimo uma década de vida pública. Essa década vai trazer para ele, quer queira quer não, um passado mais manchado ou menos manchado. Por exemplo, o cara foi deputado e não fez nada e ainda fez aliança com fulano e sicrano, a porque quando foi gestor falhou aqui e ali. O cenário por si só não tem aquele salvador da Pátria, alguém limpo, com melhores propostas. O cenário não muda muito”, finaliza o cientista político Ranulfo Paranhos.