Saúde

Telemedicina revoluciona tratamento cardíaco em Alagoas

Com tecnologia e agilidade no tratamento à distância, pacientes com Infarto Agudo do Miocárdio têm sido salvos no Estado

Por Wellington Santos / Tribuna Independente 08/11/2025 08h15 - Atualizado em 08/11/2025 09h06
Telemedicina revoluciona tratamento cardíaco em Alagoas
'As doenças cardiovasculares viraram um problema de massa e são consideradas novas epidemias' - José Wanderley Neto, cardiologista - Foto: Adailson Calheiros

A cada instante, segundo ou minuto um infarto pode ser fatal. No entanto, em Alagoas, a agilidade no diagnóstico e atendimento a pacientes com Infarto Agudo do Miocárdio (IAM) vem revolucionando a cardiologia alagoana com uma poderosa aliada: a tecnologia. Desde março de 2024, o programa Bate Coração interliga unidades de saúde de todo o estado, por meio da plataforma de Telemedicina Join, promovendo uma verdadeira transformação no cuidado emergencial.

Coordenado pelo Hospital do Coração Alagoano, que tem 3 anos, o Programa Bate Coração funciona como uma central de apoio remoto, disponível 24 horas por dia, onde especialistas avaliam exames, orientam condutas e garantem o atendimento mais rápido e eficaz aos pacientes com suspeita de infarto. A integração inclui as Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), o Serviço Atendimento Móvel de Urgência (Samu), hospitais regionais e demais unidades hospitalares da Rede Estadual de Saúde, além da regulação estadual.

A informação é do cardiologista José Wanderley Neto, um dos responsáveis pela equipe do Hospital do Coração Alagoano, localizado no bairro da Cidade Universitária.

“Hoje é uma tendência no mundo inteiro, você usar a tecnologia. Primeiro para ter acesso a locais remotos e onde não é possível você ter o especialista e não só fazendo o atendimento de consultas, mas também orientando os médicos generalistas do local e o Programa de Saúde da Família”, disse à Tribuna o cardiologista.

“As doenças cardiovasculares viraram um problema de massa e são consideradas novas epidemias. E com o número de especialistas que a gente tem, o modelo tradicional do consultório é impossível se conseguir atender essas pessoas todas. Como para a maioria das doenças existem protocolos, com a telemedicina se consegue atender isso. Isso é um modelo que o Ministério da Saúde está tentando implantar. Não é fácil essa linguagem, primeiro por falta de tecnologia, depois um pouco de investimento financeiro, que não é muito”, completa Wanderley, ao se destacar o emprego da Telemedicina como grande aliada de médicos e pacientes cardíacos.

“Essa tecnologia é para consultas e estratégias também de comunicação e temos um belo exemplo aqui no estado de Alagoas que é o Programa Bate Coração. Alagoas é o único estado que está conectado toda a sua rede de saúde às UPAs nos hospitais do estado e alguns filantrópicos desde Maragogi até Penedo de Penedo até Delmiro Gouveia e todas as pessoas que chegam lá com suspeita de infarto fazem um eletrocardiograma e esse eletrocardiograma já é remitido direto para o Hospital do Coração Alagoano”, pontua Wanderley Neto, ao acrescentar:

“Daí é feito o diagnóstico de infarto e o médico lá do Hospital do Coração Alagoano já orienta esse tratamento porque no infarto do miocárdio o tempo é fundamental. Com uma ‘janela’ de até 4 horas, você consegue reverter o infarto. Se passou disso, aí fica muito difícil. Fica muito difícil, porque o músculo já morreu e não tem mais como se recuperar. Se a pessoa sobreviver, ela vai ficar mutilada, vai ficar sem uma parte do coração”, informa o cardiologista.

Programa Bate Coração interliga unidades de saúde de todo o estado de Alagoas, por meio da plataforma de telemedicina Join (Foto: Neide Brandão / Ascom Sesau)

“Então, esse programa, o doente já começa a ter atendimento imediato. Porque tem duas maneiras de desentupir a artéria. Uma é com a angioplastia, que é um cateterismo cardíaco, e você com o cateter vai lá e desentope o trombo. E a outra é de forma química, com uma medicação genericamente chamada de trombolítico, que dissolve o trombo, aí reperfunde, ele leva sangue para aquela área do coração que não estava recebendo sangue, e a pessoa depois é removida para fazer o cateterismo de forma eletiva. Isso tem baixado de forma espetacular a mortalidade do infarto e a recuperação funcional das pessoas que têm o infarto.

JOIN

Plataforma a serviço da medicina

José Wanderley destaca que no Hospital do Coração Alagoano a telemedicina é um dos diferenciais do Programa Bate Coração por ser uma iniciativa pioneira, que utiliza a plataforma Join, aplicativo desenvolvido pela empresa japonesa Allm para facilitar a comunicação e colaboração entre profissionais de saúde em tempo real. “Este programa inovador reúne cardiologistas qualificados, disponíveis 24 horas por dia, para discussões online imediatas sobre casos de infarto”, completa.

Certificada como dispositivo médico por órgãos como a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e compatível com os mais rígidos protocolos internacionais de segurança, a Join representa um passo importante na modernização da saúde pública em Alagoas. Com uma estrutura que se integra aos sistemas de imagem (PACS) e prontuários eletrônicos (RES), os profissionais de saúde têm em mãos uma ferramenta robusta, segura e eficaz.

O Hospital do Coração é composto atualmente por sete cirurgiões e dezenas de cardiologistas clínicos com cerca de 600 pessoas que trabalham lá. O projeto para o ano de 2026 é ampliar o hospital. Para isso, a classe política vem se reunindo para alocar recursos no orçamento da União para que se amplie e triplique o tamanho do hospital.

“Esse é o grande projeto do ano que vem. O governador já autorizou que fosse feito o projeto e o secretário de saúde deve preparar o projeto, licitar quando os recursos chegarem no orçamento e autorizar a construção da obra para que a gente tenha em dois ou três anos esse conforto para os nossos doentes e não se tenha uma fila muito grande, porque a doença cardíaca tem evolução dela e se você demora demais o paciente pode se tornar inoperável ou a evolução da doença tornar a cirurgia contraproducente e o risco sobe e aí tem que se desistir da cirurgia”, explica.

"Com uma ‘janela’ de até 4 horas, você consegue reverter o infarto. Se passou disso, aí fica muito difícil” - José Wanderley Neto, cardiologista (Foto: Adailson Calheiros)


- Alagoas possui o programa Bate Coração, único estado com rede de saúde conectada para diagnóstico rápido de infarto, diminuindo a mortalidade.

- O Hospital do Coração Alagoano busca expandir o atendimento, incluindo teleconsultas e transplantes, com apoio do governo e recursos estaduais.

- O hospital é referência em transplantes de coração e rins, planejando expandir para pulmão, visando atender a população alagoana independentemente da condição social.

- Há planos para ampliar o hospital, com mais leitos de UTI e enfermaria, para atender à crescente demanda e evitar que pacientes se tornem inoperáveis.

- A prevenção e o diagnóstico precoce são cruciais, com medicamentos eficazes para a maioria das doenças, evitando a necessidade de cirurgias de alto risco.

- O Hospital do Coração busca formar e exportar cirurgiões especializados, priorizando o atendimento aos alagoanos e compartilhando conhecimento.

- O Hospital do Coração é um marco na saúde pública cardiovascular do estado e do Nordeste, buscando sair dos muros e ir para a base, na saúde pública.