Saúde

Estudo evidencia elevada contaminação por parasitas em áreas públicas de Maceió

Pesquisadores afirmam que dados não devem gerar alarme, mas conscientização sobre a necessidade de cuidados coletivos e hábitos de higiene no uso de espaços coletivos

Por Ascom Ufal 25/09/2025 17h59 - Atualizado em 26/09/2025 01h35
Estudo evidencia elevada contaminação por parasitas em áreas públicas de Maceió
Estudante durante a etapa de coleta para a pesquisa - Foto: Ascom Ufal

Levar as crianças para brincar, fazer atividade física e passear com o animal de estimação são algumas das atividades que pessoas de todas as idades costumam realizar em áreas públicas. Esses espaços de convivência coletiva são fundamentais para garantir uma qualidade de vida e precisam ser mantidos limpos pelos poderes públicos e por toda população.

O apelo sobre a importância de manter esses ambientes em condições seguras para a saúde ganha reforço com os dados da pesquisa de mestrado realizada por Vitória Sarmento, sob orientação do professor Müller Ribeiro-Andrade, no Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). O estudo da médica veterinária investigou a presença de parasitas em praças e parques públicos de Maceió, por meio da análise de amostras de solo coletadas em 55 áreas públicas distribuídas pelos oito distritos sanitários da cidade. Os resultados evidenciaram a necessidade de maior atenção ao manejo de dejetos fecais, à limpeza desses espaços e à posse responsável de animais.

Segundo o estudo, foram detectadas formas parasitárias de vermes e protozoários em 47,9% das amostras analisadas, com positividade em todos os distritos sanitários do município. Alguns parasitas identificados têm potencial zoonótico, ou seja, podem infectar humanos e outros animais. Evidenciou-se, ainda, que esses ambientes apresentam uma maior contaminação no período chuvoso (abril a agosto) em relação ao período seco (setembro a março). A pesquisa também constatou a presença de fezes humanas e de outros animais em 96% das áreas públicas avaliadas, ressaltando a necessidade de ações educativas com os usuários desses espaços quanto ao manejo fecal e riscos à saúde.

Professor Muller e Vitória Sarmento, durante participação em evento acadêmico (Foto: Ascom Ufal)

“Esses achados não devem gerar alarme, mas sim sensibilização. É fundamental que tutores recolham os dejetos de seus animais e que haja cuidado coletivo com a preservação dos espaços públicos, evitando práticas que comprometam a saúde da comunidade, bem como a garantia de acesso a sanitários público pela população”, explica Vitória.

Conforme dados das análises realizadas, a maioria dos agentes parasitários detectados provoca infecções intestinais, mas alguns podem atingir outros sistemas, dependendo de sua biologia. Entre os vermes diagnosticados estão Ascaris sp., Trichuris sp., Hymenolepis sp. e Toxocara sp. Também foram encontrados, em menor frequência, os protozoários Entamoeba sp. e Cystoisospora. Um destaque é o grupo dos ancilostomídeos, como, por exemplo, a espécie Ancylostoma caninum, que além de causar infecções intestinais em cães, pode provocar em humanos lesões de pele conhecidas, popularmente, como bicho-geográfico.

O professor Müller Ribeiro-Andrade, orientador da pesquisa, destaca a relevância do trabalho para a saúde multiespécie e a importância de promover melhores hábitos sanitários de toda população (animais humanos e não-humanos) no uso dos espaços coletivos. “A contaminação por parasitas em praças é um problema silencioso, que reflete hábitos culturais e comportamentais. Não se busca com o estudo apontar culpados, nosso objetivo é sensibilizar a população para práticas como recolhimento de fezes, realização de exames parasitológicos e vermifugação racional dos pets e das pessoas, uso de calçados e melhores hábitos de higiene da população que desfruta ou necessita desses ambientes. Em adicional, deve-se incentivar políticas públicas que priorizem a saúde das pessoas em situação de rua, bem como os animais errantes. Esses cuidados reduzem riscos e tornam nossas praças mais seguras para todos”, detalhou Müller.

Mais sobre o estudo

Com o título ‘Saúde Única nas praças: avaliação da contaminação ambiental por parasitas em áreas públicas de Maceió, Alagoas’, o estudo, baseado na abordagem de Saúde Única (One Health), evidencia a relação direta entre saúde humana, animal, vegetal e ambiental. A pesquisa defende ações educativas e campanhas de sensibilização como estratégias eficazes para diminuir a contaminação ambiental, reforçando que a solução depende do engajamento coletivo.

A pesquisa integrou o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic Jr.), financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas (Fapeal), e contou com a participação de 10 bolsistas alunos do ensino médio da Escola Estadual Professor Edmilson de Vasconcelos Pontes. Segundo Müller, a iniciativa reforça a importância do envolvimento da comunidade escolar em pesquisas que promovem o protagonismo juvenil e a saúde coletiva, incentivando, desde cedo, o raciocínio científico.

A médica veterinária Vitória, o orientador Müller e a equipe de estudantes percorreram e realizaram coletas nos oitos distritos sanitários que compõem o município de Maceió. “Os alunos participaram de reuniões semanais que ocorreram durante todo o período de vigência do projeto para formação técnica, apresentaram trabalhos na feira de ciências realizada pela escola e participaram das etapas de coleta e processamento das amostras”, detalhou Vitória.