Saúde

Pesquisadores da Fiocruz descobrem nova espécie de morcego no Brasil

Por Fiocruz 05/06/2025 12h40
Pesquisadores da Fiocruz descobrem nova espécie de morcego no Brasil
'Myotis guarani' é o nome científico escolhido para uma nova espécie de morcego descoberta - Foto: Divulgação

Myotis guarani é o nome científico escolhido para uma nova espécie de morcego descoberta por pesquisadores do Programa de Desenvolvimento do Campus Fiocruz Mata Atlântica, em parceria com cientistas da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), da Universidade do Porto (Portugal) e do Smithsonian Institution (Estados Unidos). Insetívoro, o morcego pesa cerca de 6 gramas. Foi nomeada como “guarani” em homenagem a etnia indígena que originalmente ocupava as áreas de distribuição da nova espécie: o Pantanal, o Chaco e parte do Cerrado e da Mata Atlântica no Brasil, na Bolívia, no Paraguai e na Argentina.

A descoberta da nova espécie foi publicada no Journal of Mammalogy, uma revista internacional de biologia e taxonomia de mamíferos editada pela Sociedade Americana de Mastozoologia. O artigo foi intitulado (em tradução livre) Desvendando a vida em gavetas: uma nova espécie críptica de Myotis (Chiroptera, Vespertilionidae) da América do Sul revelada por abordagem em taxonomia integrativa.

“Essa descoberta teve início em análises genéticas. Fomos percebendo que as sequências de DNA já apontavam para uma nova espécie do gênero Myotis. A partir daí, começamos a investigar a morfologia de morcegos disponíveis em coleções biológicas centenárias e confirmamos se tratar de uma nova espécie", destacou o pesquisador da Fiocruz Mata Atlântica, Roberto Novaes, primeiro autor e correspondente do artigo. "Levamos esse pressuposto para investigar mais sobre a ocorrência e a história natural dessa nova espécie nas expedições que a Fiocruz Mata Atlântica realiza em diversos biomas do país. Especificamente na recente expedição ao Pantanal que aconteceu em março de 2025, conseguimos obter muitos dados e amostras de Myotis guarani, o que vai permitir diversas pesquisas no futuro”.

Novaes explica que indivíduos de Myotis guarani estão depositados em coleções e museus pelo mundo há mais de 120 anos, sendo confundidos com espécies do gênero Myotis. Esse gênero de morcego possui mais de 35 espécies neotropicais, que são muito parecidas entre si e, frequentemente, necessitam de estudos genéticos para ajudar na sua diferenciação.

“Após estudos genéticos iniciais e coletas recentes em trabalhos de campo, foi possível comprovar a nova espécie de morcego que no Brasil ocorre principalmente no Pantanal, mas também nas bordas com o Cerrado e a Mata Atlântica. É importante ressaltar que o morcego, único mamífero que voa, possui um papel fundamental na manutenção e equilíbrio dos ecossistemas, realizando serviços ecológicos de polinização, dispersão de sementes nativas e controle de populações de insetos considerados pragas agrícolas e vetores de doenças. A nova espécie Myotis guarani é um morcego insetívoro, ou seja, que se alimenta exclusivamente de insetos. Esse morcego pode comer mais de 200 insetos (mariposas, mosquitos e besouros) por noite”.

Myotis guarani.

Insetívoro, o morcego pesa cerca de 6 gramas (foto: Divulgação)

A expedição ao Pantanal é parte do projeto de pesquisa intitulado Rede de prospecção e monitoramento de agentes zoonóticos associados a morcegos no Brasil, com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). "O estudo visa avaliar a diversidade de patógenos zoonóticos que circulam em morcegos, além da suas distribuição taxonômica e geográfica e seus hospedeiros, e a relação dessas interações patógeno-morcego com o ambiente”, explica o coordenador da Fiocruz Mata Atlântica e líder do projeto, Ricardo Moratelli.

“Essa pesquisa possui grande importância quando consideramos os potenciais impactos das zoonoses de origem silvestre na saúde pública e economia, como foi evidenciado pela pandemia de Covid-19 e outros eventos anteriores, como epidemias de Nipah, na Ásia, e de Marburg na África", afirma Moratelli. "Se, por um lado os morcegos possuem um papel importante como reservatórios de diversos microrganismos, por outro eles são fundamentais para a manutenção de diversos serviços ecossistêmicos que beneficiam humanos. Isso enfatiza a necessidade de programas de conservação específicos para esses animais, assim como o manejo adequado de populações em contato com humanos".

Campus Fiocruz Mata Atlântica

A Mata Atlântica é um bioma rico em biodiversidade e ameaçado de extinção, com grande variedade de espécies de plantas, animais e microrganismos, muitos endêmicos e ameaçados por pressões antrópicas sobre o bioma. A Mata Atlântica ocupa atualmente 15% do território brasileiro e é a segunda maior floresta tropical do Brasil. Na cidade do Rio de Janeiro (RJ), o maior remanescente de vegetação é a Floresta da Pedra Branca, com mais de 12 mil hectares, que se apresenta como a maior floresta urbana do mundo.

A Floresta da Pedra Branca está localizada na zona Oeste do Rio de Janeiro e, em sua vertente Leste, localiza-se o Campus Fiocruz Mata Atlântica. Por ser um campus diferenciado em suas características geográficas – situado na fronteira entre a área urbana e um importante remanescente florestal, o espaço conta com projetos e ações para o desenvolvimento sustentável e saudável dos territórios adjacentes. Essas ações incluem o levantamento da biodiversidade; restauração ecológica; pesquisas e monitoramento de patógenos que circulam na fauna doméstica e silvestre; estudos e implantação de tecnologias ambientais para sustentabilidade do campus e para comunidades urbanas e periurbanas do Rio de Janeiro. Além disso, existem ações nos campos da promoção da saúde única e da segurança alimentar.