Saúde
Família de idosa denuncia negligência e descaso em hospital particular de Maceió
Paciente aguarda cirurgia após deslocamento de prótese óssea
Familiares da idosa Leni Rocha, de 77 anos, denunciaram negligência e descaso durante internação no hospital da Unimed Maceió, em Alagoas. A paciente deu entrada na unidade no dia 24 de novembro para tratar de uma fratura no fêmur, decorrente de uma queda. Após a realização de cirurgia ortopédica, no dia 26 de novembro, para a colocação de uma prótese femoral, a paciente passou a reclamar de dor intensa, de forma constante, à equipe médica.
O prontuário mostra que Leni poderia ter recebido alta da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) 24 horas após a cirurgia, o que não ocorreu devido à falta de leito de apartamento no hospital. A transferência ocorreu somente dois dias depois, em 28 de novembro, mas a dor lancinante não cessava, de acordo com a paciente. Ainda assim, a equipe do hospital insistia que a idosa deveria estar se movimentando e a acusava de estar dificultando a própria recuperação, pois a dor seria “normal” no processo pós-cirúrgico.
Dias de descaso
Na sexta-feira (29), três dias após a cirurgia, a equipe médica realizou um raio-x que demonstrou deslocamento e luxação da prótese colocada no fêmur da paciente. Não se sabe o motivo da demora, mas somente na tarde de segunda-feira (2) a equipe constatou o problema, e imediatamente sinalizou a necessidade de reabordagem cirúrgica, cuja marcação ficou para o dia seguinte (3). A nova cirurgia, porém, não ocorreu, pois não havia leito disponível na UTI do hospital.
Segundo familiares da paciente, os seis dias entre a cirurgia e a identificação do problema na prótese foram dolorosos. “Ver a minha tia chorando de dor, enquanto a equipe afirmava que ela deveria estar se movimentando, sem nos dar qualquer tipo de orientação a respeito de limitação de movimentos, fisioterapia, ou conduta de recuperação pós-cirúrgica, foi desesperador”, afirmou Ana Célia Rocha, sobrinha da paciente.
O novo diagnóstico da paciente resultou em um impasse: como não havia leito de UTI disponível, ela não poderia ser operada. O cirurgião ortopedista responsável comparece ao hospital apenas às segundas e terças-feiras. Entendendo a situação precária da paciente, porém, disponibilizou-se para realizar a nova cirurgia tão logo houvesse vaga de UTI. Mas as perguntas sem respostas da família só cresciam: caso haja vaga de UTI, quem avisará ao ortopedista? Quem fará o pedido de bolsas de sangue para o procedimento? E a reserva de centro cirúrgico? Por mais três dias, a família permaneceu sem respostas.
Negligência hospitalar e má gestão
Nesta sexta-feira (6), a equipe médica informou à paciente e sua família que um leito na UTI do hospital estava disponível. O ortopedista responsável foi à unidade e conversou com a família e a paciente, que estavam esperançosas. A Unimed Maceió, porém, falhou novamente com sua responsabilidade, de acordo com a família. Segundo relatos, o médico responsável pela UTI não autorizou o uso do leito para a paciente, por não acreditar que havia urgência em acomodá-la na unidade. Foram envolvidos, além dos familiares e do cirurgião responsável, assistente social e outros funcionários do hospital, mas o médico responsável pela UTI continuou irredutível: não autorizou o uso do leito, e a cirurgia não foi realizada.
“É negligência”, afirma categoricamente Ana Célia. “O fato é que a minha tia, que antes era completamente independente para as atividades diárias, já se encontra acamada há quase duas semanas. Ela hoje enfrenta dificuldades até para realizar a troca de sua fralda geriátrica e higiene pessoal, dada a falta de assistência do hospital”, concluiu.
Especialistas da saúde afirmam que o tempo de internação e a demora para retomar a deambulação, somados à ansiedade da espera e falta de respostas do hospital, são consideravelmente proporcionais à possibilidade de uma boa recuperação. Além disso, os riscos de infecção hospitalar e redução da massa muscular da paciente aumentam a cada dia.
Até o momento, no entanto, a idosa segue sem o devido tratamento; e a família sem respostas ou previsão de qualquer resolução. “Quando a gente faz um plano de saúde, que não é barato, a gente acredita que será amparada quando precisar", afirma a paciente Leni Rocha. “Eu sempre achei que estava protegida, mas descobri da pior forma que não é o caso. Estou sofrendo com o descaso da Unimed”, afirma a idosa.
O que diz a lei
A recusa ou embaraço na prestação de atendimento médico à pessoa idosa constitui crime punível com reclusão de 6 meses a 1 ano e multa. A conduta está tipificada no art. 100, III, do Estatuto do Idoso: "recusar, retardar ou dificultar atendimento ou deixar de prestar assistência à saúde, sem justa causa, a pessoa idosa".
Até o momento, a paciente, de 77 anos, continua à espera.
LINHA DO TEMPO:
24/11/24: paciente é internada na Unimed Maceió após diagnóstico de fratura de fêmur
26/11/24: realizada cirurgia, com internamento posterior em UTI, já dentro da programação pós cirúrgica. a alta para UTI poderia ter ocorrido após 24h, porém, em virtude da falta de leito de apartamento, não ocorreu.
28/11/24: paciente é transferida para leito apartamento.
29/11/24: equipe médica realiza raio-X, cujo resultado demonstra luxação da prótese.
02/12/24: equipe insiste que paciente deveria estar deambulando, porém não ofereceu nenhum tipo de orientação a respeito de limitação de movimentos, fisioterapia ou conduta de recuperação pós cirúrgica.
À tarde, o ortopedista responsável pela cirurgia verifica o raio-X e indica necessidade de reabordagem cirúrgica, cuja marcação ficou para terça-feira (03/11).
03/12/24: cirurgia não ocorreu por ausência de leito em UTI.
06/12/24: leito de UTI se torna disponível, porém o médico responsável pela unidade não autoriza o seu uso para a paciente, visto que não identificou necessidade emergencial.
07/12/24: Até o momento, a paciente continua à espera de tratamento.
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