Saúde
Dispositivo pode mudar a espera por um coração na fila de transplantes do Brasil
Hospital Sírio Libanês é pioneiro no país na implantação do dispostivo
Um estudo desenvolvido pelo Centro de Cardiologia do Hospital Sírio-Libanês, comandado pelo médico Roberto Kalil Filho, pode mudar radicalmente o desenho da fila de transplantes no Brasil e garantir uma vida com mais qualidade às pessoas que esperam por um coração no país.
O estudo faz parte do Coração Novo, do programa TransPlantar, criado pelo hospital em 2010. Durante dois anos, o estudo acompanhou a evolução clínica de 20 pacientes cardíacos que receberam o Dispositivo de Assistência Ventricular Esquerda (LVAD), que auxilia o coração ao melhorar a circulação do sangue.
O equipamento é uma opção terapêutica para pessoas com risco de morte, que aguardam na fila pelo transplante de coração. E os estudos mostram que, em cerca de 10% dos casos, a função cardíaca é recuperada.
Em Alagoas, de acordo com a Central de Transplantes, há na fila de transplantes 489 pessoas. No momento, não há no estado, pacientes aguardando um coração para sobreviver. Do total de pessoas na fila, 482 esperam córnea e sete pessoas aguardam rim. A fila para receber fígado também está zerada no momento.
A médica cardiologista e coordenadora do estudo, Silvia Ayub, explicou que os pacientes que receberam o LVAD alcançaram taxas de sobrevida altamente significativas: 90% dos pacientes sobreviveram no primeiro ano após o implante, e 80% nos primeiros dois anos. Tais índices são comparáveis aos dos melhores centros internacionais de cardiologia.
“Durante o acompanhamento, 85% dos pacientes conseguiram retomar atividades cotidianas, como trabalho e exercícios físicos leves, o que evidencia a eficácia do tratamento na recuperação da autonomia dos pacientes com insuficiência cardíaca avançada”, explicou.
Segundo a médica, o LVAD pode representar a janela da esperança para quem está na fila do transplante. Os pacientes que recebem o dispositivo, explicou a médica Silvia Ayub, já estão em fase de fila de transplante.
“Ao tirarmos esses pacientes das longas internações hospitalares à espera do novo coração, estamos evitando infecções oportunistas que facilmente aparecem devido ao período de internações prolongadas. Isso sem falar da qualidade de vida que pode ser novamente experimentada. Os pacientes passam a ter a vida que tinham antes. Podem, trabalhar, fazer atividades físicas”, detalhou a médica.
Entre todas as vantagens do LVAD, há ainda o fato de que o dispositivo não precisa ser trocado com o passar do tempo. Não tem validade para estar dentro do organismo.
“É um grande avanço. A população está envelhecendo. A partir dos 65 anos, a grande demanda do SUS é atender pessoas com insuficiência cardíaca”, acrescentou Silvia Ayub.
O estudo buscou validar o modelo hub-and-spoke de gestão do serviço de cuidados, em que as cirurgias são unificadas em um centro especializado de referência nacional e o acompanhamento é feito em hospitais regionais.
No caso, o Sírio-Libanês é o único centro no Brasil que oferece esse tratamento pelo Sistema Único de Saúde (SUS), recebendo pacientes de diversas regiões do país.
Para Deborah Belfort, médica cardiologista e uma das responsáveis pela produção do estudo, o modelo adotado possibilitou um acompanhamento mais ágil e eficiente, com suporte especializado regional, minimizando a necessidade de transferências recorrentes para grandes centros.
“Com isso, conseguimos promover uma gestão mais eficiente dos recursos de saúde, que é a realidade de um país de renda média como o Brasil. Pela perspectiva dos pacientes, esse programa mudou radicalmente o curso de suas vidas”, avaliou Deborah Belfort.
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