Saúde
Grupo de médicos de Alagoas posiciona-se contra o candidato Jair Bolsonaro
"Não estamos defendendo um partido, estamos defendendo princípios", afirmou médico cardiologista; "nosso código de ética repudia e nos obriga a denunciar qualquer ato de apoio à tortura", disse outro profissional
Uma parte dos médicos de Alagoas tomou um posicionamento diante dos últimos acontecimentos políticos no país e, na noite desta sexta-feira (19), os profissionais da saúde reuniram-se no Sindicato dos Bancários e Financiários de Alagoas, no Centro de Maceió, para debater sobre a defesa da democracia nacional e da saúde pública brasileira contra o candidato Jair Bolsonaro. “O que já está sucateado pode se tornar pior ainda”, afirmou um profissional no local.
O veterano médico cardiologista José Wanderley Neto afirmou que a reunião “Médicos Pela Democracia” se tratava de grupos de médicos, jovens e mais velhos, em defesa de um país democrático. “Resolvemos tomar uma iniciativa nesta época eleitoral. Não estamos defendendo um partido, estamos defendendo princípios. A democracia sempre deve ser defendida contra um possível autoritarismo, pois ela custou muito para pessoas que morreram lutando por ela”, afirmou o cardiologista. Ao olhar para o auditório do sindicato, José Wanderley disse que, vendo tantos jovens no local, dava para ter esperança de que a democracia seria protegida em qualquer que fosse o desfecho político.
Reunião aconteceu na noite desta sexta-feira no Centro de Maceió (Foto: Rívison Batista)
O jovem e recém-formado médico Adelson Silvestre também estava encabeçando a reunião e afirmou à reportagem da Tribuna que o movimento de médicos alagoanos a favor da democracia era “uma surpresa positiva”. “Aqui, estamos vendo médicos que estão se voltando para a preocupação com a sociedade, estão se voltando para a raiz social. Nas últimas eleições presidenciais, não vimos esse discurso autoritário [que é usado pelo candidato Jair Bolsonaro, do PSL]”, falou, com tom de preocupação, o jovem profissional.
Adelson Silvestre também afirmou que a saúde pública brasileira pode ser a grande prejudicada com uma possível vitória do candidato do PSL. “É preocupante, o SUS [Sistema Único de Saúde] já está sem muitos recursos e pode ficar mais sucateado do que já é. O que se esconde atrás da candidatura de Jair Bolsonaro é a diminuição dos gastos sociais”, declarou o jovem, que completou afirmando que a reunião “Médicos Pela Democracia” é um marco histórico na categoria médica alagoana.
Sindicato dos Médicos
O ex-presidente do Sindicato dos Médicos de Alagoas (SINMED), Roberto Lúcio, disse à reportagem que o grupo de médicos pela democracia foi formado em poucos dias. “Quem deu o pontapé inicial foram os estudantes. Esse papel que nós estamos fazendo aqui, deveria ser feito pelo CRM (Conselho Regional de Medicina). Nosso código de ética repudia e nos obriga a denunciar qualquer ato de apoio à tortura [muitas vezes defendida pelo candidato Jair Bolsonaro]”, disse o médico. “Nós fomos às ruas, há décadas atrás, pela anistia e pelas eleições diretas”, completou Roberto Lúcio.
A estudante do 7º período de medicina da Universidade Federal de Alagoas (UFAL) Júlia Morgado era uma das inúmeras presenças estudantis no auditório. “Eu acredito que a maioria da classe médica está posicionada a favor de Bolsonaro. Infelizmente, falta senso crítico. É um momento histórico e muito sério. Meus pais viveram a ditadura militar. Meu pai é sociólogo e minha mãe é historiadora. Eles sabem o que era ter medo de dar opinião, de ter alguns livros e outras coisas. Quem tem conhecimento do que foi aquela época no Brasil não subestima este atual momento”, declarou a estudante.
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