Saúde

Pesquisador de nova droga contra amputações e FioCruz chegam a Alagoas

Tribuna conversa com médico cubano José Esteban Saurí Chávez

Por Wellington Santos / Tribuna Independente 18/08/2018 16h10 - Atualizado em 09/11/2023 17h58
Pesquisador de nova droga contra amputações e FioCruz chegam a Alagoas
Reprodução - Foto: Assessoria

Alagoas foi o primeiro Estado do país a receber, esta semana, o médico com experiência vivenciada em Cuba e outros países que traz uma boa nova para a área da medicina, especialmente para deter os estragos no corpo causados por um inimigo silencioso e avassalador: o diabetes.

Como a Tribuna Independente antecipou, com exclusividade, semana passada, Alagoas já detém o fármaco (remédio) que promete revolucionar a medicina no que pertine ao tratamento de diabéticos.  A droga —  chamada de “Fator de Crescimento Epidérmico Recombinante (FCEhr)” —   vem sendo testada para evitar o grande número de amputações no Estado, apontado em estatísticas recentes do DataSUS com um dos líderes em mutilações dos membros inferiores no Brasil, causadas pelas lesões de úlceras em pés diabéticos.

Pelos dados mais recentes do DataSUS, em 2015, Alagoas, Piauí e Sergipe lideram esse ranking dos que mais amputam per capita. Noventa por cento das amputações maiores e menores são decorrentes do diabetes.

Uma das boas notícias em relação a essa droga é que ela já vem sendo usada em mais de 20 países com resultados considerados pela comunidade médica  como “muito satisfatória”. No Brasil, porém, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) exige para sua liberação no país que o número de pessoas testadas com o produto seja maior do que os outros países, o que vem ocorrendo atualmente em 11 Estados, além de Alagoas.

Também com exclusividade, esta semana, a Tribuna Independente conversou com  José Esteban Saurí Chávez — médico do  Centro de Engenharia Genética e Biotecnologia do Instituto de Pesquisa de Havana, em Cuba, e um dos participantes pioneiros da pesquisa de eficácia e segurança da droga — que veio a Maceió acompanhar o ensaio clínico junto à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e à equipe multidisciplinar do Hospital Arthur Ramos, responsável pelo desenvolvimento da pesquisa no Estado.

“Em torno de 10% da população mundial acima de 19 anos de idade são portadores de diabetes” - José Esteban Saurí Chávez, médico e pesquisador desde o início dos estudos e aplicações da droga em Cuba e outros 20 países

“Um fator importante para que a gente afirme com segurança é que este remédio já está registrado em 20 países e testado em mais de 140 mil pacientes com resultados satisfatórios”, revela Chávez. E uma constatação ainda mais importante, completa o médico cubano.

Ao mesmo tempo em que traz esperanças aos que contraíram a doença, Chávez faz um alerta. Ele afirma que em torno de 10% da população mundial acima de 19 anos de idade são portadores de diabetes. “Temos nesses dados um  problema de saúde pública mundial”, revela.

Entre os benefícios do remédio apontados por Chávez estão o restabelecimento da condução nervosa motora, a atenuação e prevenção de alterações e degenerações nos membros atingidos e prevenção do aparecimento de úlceras plantares (pés) e necrose nos dedos.

“O percentual de aproveitamento terapêutico está entre 70 a 75% entre todos os pacientes submetidos ao tratamento com o fármaco, o que nos mostra um alto nível de resolutividade”, criva Chávez.

FioCruz destaca trabalho e estrutura de equipe alagoana nas pesquisas

O Estado também recebeu esta semana a médica Rosane Will, coordenadora da Fundação Oswaldo Cruz (FioCruz), vinculada ao Ministério da Saúde e a mais destacada instituição de ciência e tecnologia em saúde da América Latina.

Acompanhada do médico cubano José Esteban Saurí Chávez, Rosane veio fazer a chamada pesquisa clínica de supervisionamento do processo de capacitação da equipe multidisciplinar de Alagoas para o uso do medicamento. No Nordeste, os dois médicos seguem ainda para supervisionar os teste em Pernambuco e Paraíba.

A FioCruz será responsável após todo o processo de pesquisa e aprovação dos testes por distribuir no Brasil a droga por meio do Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos).

De acordo com a especialista, cerca de 300 participantes em todo país divididos em 12 centros irão colaborar com este estudo, cujo objetivo é avaliar a resposta dos pacientes brasileiros com diabetes e úlcera nos membros inferiores, caracterizando o quadro de pé diabético, ao medicamento cubano Heberprot-P.

“Alagoas é um dos primeiros estados a receber esse supervisionamento e é importante a presença do doutor Chávez, que participou da experiência em Cuba e outros países, para balizar e fazer os ajustes necessários para que a gente possa ter um padrão único  no tratamento e aplicação com esta droga aqui no Brasil”, ressaltou Rosane, ao elogiar a organização dos trabalhos e estudos feitos pela equipe alagoana multidisciplinar que conta com médicos, enfermeiros, nutricionistas, terapeutas e outros profissionais envolvidos no estudo e aplicação da droga cubana.

“Pela excelente organização do trabalho  e estrutura da equipe no estudo clínico, possivelmente teremos um paciente alagoano a ser incluído como primeiro do País a entrar no processo”, revela Rosane.

“É o início de um processo no sentido de melhorar bastante a qualidade de vida dos diabéticos e aqueles que têm úlceras no pé diabético. Importante frisar que esse produto cubano em sendo aprovado a Bio-Manguinhos (da FioCruz) irá distribuir o medicamento pelo Sistema Único de Saúde (SUS) para que todas as pessoas tenham acesso ao produto”, completa Rosane.

Para o médico angiologista Guilherme Pitta, o angiologista e cirurgião vascular Guilherme Pitta — que coordena a equipe multidisciplinar do Hospital Arthur Ramos há mais de ano com pesquisas sobre pé diabético —  a presença de um dos médicos cubanos que participaram do princípio do estudo do fármaco e da Fiocruz representa prestígio ao Estado de Alagoas e apoio incondicional ao trabalho multidisciplinar e aos estudos realizados. “Isso é motivo de muita comemoração para os profissionais alagoanos envolvidos neste trabalho”, destaca Pitta.

Estado já selecionou dois pacientes para realização de testes

Com a presença do médico cubano Jose Esteban Saurí Chávez e da representante da FioCruz em Alagoas, Rosane Will, esta semana, a equipe multidisciplinar do Hospital Memorial Arthur Ramos aprovou ainda a inclusão do segundo paciente aprovado para os testes com o remédio. A pedido da equipe que coordena a pesquisa e por determinação da FioCruz,  a Tribuna Independente não pôde divulgar o nome nem a imagem dos pacientes voluntários selecionados para se submeter aos testes em Alagoas com a droga cubana.

Envolvida na pesquisa do pé diabético em Alagoas está uma equipe multidisciplinar liderada pelo médico Guilherme Pitta, nutricionistas, fisioterapeutas, enfermeiros e por enquanto dois pacientes diabéticos selecionados com úlceras nos pés.

Hospital alagoano é referência no estudo de pés diabéticos

O Hospital Memorial Arthur Ramos integra um grupo seleto de 12 centros nacionais escolhidos pela FioCruz para participar da pesquisa “Avaliação da eficácia e segurança do Fator de Crescimento Epidérmico Recombinante” (FCEhr) intralesional em participantes com úlcera de pé diabético no Brasil”.

“Esta é uma pesquisa multicêntrica nacional acerca de um medicamento que pode revolucionar a assistência ao paciente portador de úlcera de pé diabético. É um estudo de extrema importância, pois trata-se de uma droga inovadora que permite cicatrizar a úlcera plantar, uma das principais causas de amputação maiores e menores em pacientes diabéticos”, ressalta o médico Guilherme Pitta, que além de coordenar a equipe multidisciplinar dos estudos sobre pés diabéticos, é cirurgião vascular e endovascular do Arthur Ramos.