Saúde

70% dos brasileiros se automedicam, aponta pesquisa

Apesar de não ter dados, prática é comum entre alagoanos, segundo o Conselho Regional de Farmácia

Por Lucas França com Tribuna Independente 20/07/2018 08h51
70% dos brasileiros se automedicam, aponta pesquisa
Reprodução - Foto: Assessoria
O relatório “Fatores predisponentes para a prática da automedicação no Brasil: resultados da pesquisa nacional de acesso, utilização e promoção do uso racional de medicamentos (PNAUM)”, de 2017, apontou que o brasileiro ainda tem pouco conhecimento sobre os impactos ocasionados pela automedicação e diagnóstico. Foram entrevistadas 31.573 pessoas com idade igual ou superior a 20 anos. A pesquisa mostra que 73,6% dos entrevistados afirmaram ter usado algum medicamento sem recomendação médica caso eles já tivessem usado anteriormente esse mesmo produto; 73,8% declararam ter usado medicamentos não prescritos quando o medicamento já estava presente em casa; e 35,5% afirmaram ter usado alguma medicação não prescrita quando conheciam alguém que já havia tomado à mesma medicação. Em Alagoas, apesar de não ter dados, a Secretaria de Estado da Saúde (Sesau) alerta para os perigos da utilização de medicamentos por conta própria ou por recomendação de um profissional não habilitado. A prática no Estado também parece ser comum, a estudante Kellyane Gomes tem o hábito de se automedicar e já sofreu as consequências por isso. “Geralmente vou à farmácia e eu mesmo compro algum remédio para alergia sem prescrição médica ou orientação. Mas, uma vez tomei o Tylenol (Paracetamol) e acabei ficando com os olhos avermelhados e ardendo. Tinha alergia ao medicamento”, conta acrescentando que mesmo assim quando sente uma dorzinha de cabeça corre a farmácia para se automedicar. Outra que faz o mesmo é a chapeira Maria Darlany . “Quando bate aquela dor de cabeça, nem vou ao médico. Já corro para comprar um remédio em alguma farmácia. Sempre faço isso, compro vários tipos de medicamentos”, disse ressaltando que nunca teve problema. Para o Conselho Regional de Farmácia em Alagoas (CRF/AL), o hábito da automedicação já é uma questão de saúde pública em todo país e em Alagoas não é diferente. Segundo o vice-presidente do CRF, Robert Nicácio, as propagandas feitas sobre os medicamentos é um fator de influência para que as pessoas se automediquem. “A gente tem uma legislação falha, na questão de publicidade e propaganda de medicamentos em vários meios de comunicação, ela é livre. Isso de certa forma incentiva à população a se automedicar. A falha na fiscalização é justamente isso, as pessoas acharem que podem comprar o medicamento. Isso acontece muito em farmácias que não têm o farmacêutico para orientar”, explica Nicácio. Mas, a assessora de Assistência Farmacêutica da Sesau, Sybelle Lima, faz um alerta sobre os perigos da automedicação para a saúde. “A automedicação é perigosa, pois o leigo pode tomar o remédio inadequado para seu estado de saúde. Uma atitude que não vai oferecer o efeito desejado, além de expor o paciente a efeitos colaterais diversos”, comenta. Sybelle Lima explica que medicamentos como analgésicos podem mascarar doenças. “Ao reprimir os sintomas, o paciente pode acreditar que resolveu o problema, quando na verdade pode estar provocando um agravamento do quadro”, destaca. Sybelle diz que na automedicação também são ampliadas as chances de uma reação alérgica, que foi o que aconteceu com a estudante. “Ao prescrever uma droga, o médico leva em consideração o seu histórico clínico, e esse cuidado atende ao propósito de resguardar o paciente sobre esse risco”, explica. CRF ressalta que leis proíbem venda de medicamentos sem receita   “Na verdade não existe uma orientação para que as farmácias não vendam medicamentos sem receita. O que existe são leis federais e as portarias da Anvisa, [Agência Nacional de Vigilância Sanitária] que classificam os medicamentos”, explica Robert. Segundo ele, vários medicamentos só podem ser vendidos com a retenção da receita, e outros que não necessitam de prescrição, mas com orientação do farmacêutico. [caption id="attachment_118426" align="alignleft" width="169"] Robert Nicácio ressalta que Conselho realiza campanha permanente durante o ano sobre automedicação (Foto: Ascom/CRF)[/caption] Robert ressalta que o CRF/AL realiza campanha permanente sobre os riscos da automedicação “O nosso objetivo é despertar na população a consciência de que o acompanhamento farmacêutico é importante no tratamento, pois consegue prevenir danos para a saúde do paciente”, explica. De acordo com levantamento do Centro de Informação e Assistência Toxicológica (Ciatox) da Unicamp, em Campinas, 33% dos casos de intoxicação no Brasil se deram por ingestão de medicamentos, em 2017. RECORDISTA O Brasil é recordista mundial em automedicação. Segundo uma pesquisa do Instituto de Ciência Tecnologia e Qualidade (ICTQ), divulgada em 2016, 72% dos brasileiros se medicam por conta própria. Além do uso inadequado, muitos têm o hábito de aumentar as dosagens para obter alívio mais acelerado. Outro dado relevante mostra que 40% da população faz o autodiagnóstico por meio da internet. A edição anterior da mesma pesquisa, feita em 2014, apontou que quanto maior o grau de escolaridade, maior é a prática da automedicação pelos brasileiros.  Uma das alternativas para auxiliar no combate ao uso indevido de medicamentos seria promover a venda fracionada. Isso favoreceria o acesso aos remédios, aumentaria as chances de adesão ao tratamento e, ainda mais importante, evitaria o desperdício. Atualmente tal proposta está em análise no senado, por meio do projeto de lei nº 98/2017.