Saúde

Modo de vida define 70% do envelhecimento

Afirmação é de especialistas que sustentam que apenas 30% dos fatores que fazem envelhecer são genéticos

Por Texto: Lucas França com Tribuna Independente 17/02/2018 11h15
Modo de vida define 70% do envelhecimento
Reprodução - Foto: Assessoria
Uma pesquisa realizada pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, seccional São Paulo (SBGG/SP), em parceria com a Bayer, feita em 10 capitais do Brasil, mostra que 63% das pessoas com mais de 55 anos pensam a respeito do envelhecimento. Pelo menos 33% afirmaram que lidam bem com a condição e outros 14% se disseram assustados com a velhice. O que muita gente ainda não sabe, independentemente da pesquisa, é que 70% do envelhecimento é determinado pelas próprias pessoas, com os hábitos que adotam no dia a dia. Já os outros 30% vêm da carga genética. Quem sustenta esta afirmação é a diretora da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG-SP), a médica Maisa Kairalla. A geriatra diz que os brasileiros não foram ensinados a envelhecer. “Creio que 100% das pessoas tinham que pensar, sim, sobre velhice”, comenta. GERONTÓLOGO A equipe de reportagem da Tribuna Independente conversou com Francisco Silvestre, um gerontólogo social que trabalha em Alagoas com foco no cuidado da saúde em todas as etapas da vida, em especial no envelhecimento. De acordo com ele, em concordância com a médica Maisa Kairalla, de fato, a velhice é determinada, na maioria das vezes, pelas próprias pessoas com os hábitos do dia a dia. “Como a velhice pode ser a última fase de um processo vital para todos que nascem, a partir de certo tempo, nós temos, sim, responsabilidades, desde que as oportunidades sejam favoráveis. A genética determina o envelhecimento quando o nosso processo vital – processo biopsicossocial - não é entendido, favorecido e garantido. A questão da genética está relacionada aos genes. Pois eles é que determinam ao corpo biológico e ao seu envelhecimento, a idade cronológica. Algumas pessoas têm mais tendência a envelhecer primeiro que outras, independentemente dos esforços que façam para manter a boa saúde. Apesar de que o tornar-se velho, hoje, ganhou uma conotação estereotipada para atender os anseios socioeconômicos”, esclarece Francisco Silvestre. Segundo os especialistas, o processo de envelhecimento está associado a modificações no padrão do ‘caminhar’ e no equilíbrio e a diminuição dele tem relação com a diminuição da expectativa de vida. O envelhecimento começa aos 28 anos. O desgaste do corpo ocorre por dois motivos: um deles é a limitação biológica e genética, o outro são os fatores externos, como o estresse, o álcool, o tabaco e o sol. MARCHA A diretora da SBGG-SP, Maisa Kairalla, explica que a velocidade da marcha é um dos cinco sinais para avaliar a condição do idoso no futuro. Os outros sinais são: frequência do pulso, a frequência respiratória, a temperatura e a pressão arterial. O envelhecimento é caracterizado por um declínio do organismo, que pode ocasionar redução de força, perda de mobilidade articular e sensoriais, que prejudicam a capacidade coordenativa. Médica Maisa Kairalla diz que envelhecimento depende muito dos hábitos que as pessoas adotam no dia a dia e é caracterizado por declínio do organismo (Foto: Divulgação) Ela ressalta ainda que estas situações, aliadas ao sedentarismo, geralmente diminuem a mobilidade geral com alteração no equilíbrio e na marcha. “Manter hábitos saudáveis, ao longo das décadas, resulta em uma vivência melhor durante a terceira idade”, explica. Alagoas começa a se destacar no assunto “Tenho 64 anos e me sinto bem jovem. Os hábitos são uma questão de atitude. Aqui em Alagoas mesmo com a falta de políticas públicas que proporcionem longevidade, as pessoas estão por si só adquirindo bons hábitos e indo em buscar de um envelhecimento ‘’tardio”.  Em vários Estados existem academias especializadas e públicas para a terceira idade e pessoas preparadas para atender a esse público. “Aqui começamos a ter de maneira tímida”, comentou Francisco Silvestre. Para o gerontólogo social, o problema não está em envelhecer, mas envelhecer com qualidade. “Não envelhecer é impossível e envelhecer com qualidade de vida saudável hoje é uma determinação. Desde que nascemos, o processo tem início e a tal fonte da juventude que foi atribuída como antônimo de envelhecer está dentro de nós”, comenta Silvestre. Silvestre disse ainda que a questão se diferencia de região para região. E que além dos bons hábitos a aparência tem a ver com o meio que cada um vive. O gerontólogo social disse ainda que as pessoas devem estruturar uma estratégia de vida que lhe proporcione comer melhor, dormir bem, se reunir e conquistar amigos e movimentar o corpo para garantir um estilo de vida dignificante. “Adotado um estilo de vida promissor arraigado de bons costumes para determinar uma salutar qualidade de vida fará ter uma aparência mais jovial”, explica. “Exercício deixa pessoas mais jovens” A personal trainer Prazeres Souza, de 46 anos, disse que as pessoas sempre costumam dar a idade dela ainda na casa dos 30. “Desde infância pratico exercícios físicos. Fui incentivada pelos meus pais. Os exercícios são bons para o corpo e também para nossa saúde e quanto antes começar, melhor vai ser. Além de ter um corpo em dia, eu encaro a rotina do dia a dia com mais disposição. Além da atividade física como a musculação, a corrida e os exercícios funcionais, eu tenho um acompanhamento nutricional que ajuda a manter o corpo em forma”, contou a personal. Prazeres disse que se sente ainda mais jovem que as idades que lhe atribuem. “Eu observo as minhas alunas, meninas de 15 a 18 anos que cansam rápido. Elas não têm a mesma disposição e resistência que as jovens da minha época”, comenta Prazeres. Já a dona de casa Erinalva Guerra, 36 anos, ainda está longe da fase do envelhecimento, mas já mantém bons hábitos para chegar nessa fase com saúde e em boa forma. “Iniciei os exercícios físicos para manter a forma e ter uma qualidade de vida melhor e mais saudável. Adquiri esse hábito com o passar do tempo e por conta própria para me sentir bem com o corpo e com uma saúde melhor”, conta Erinalva, enquanto fazia sua caminhada de rotina. Atividade em qualquer idade é a tônica A prática regular de determinada atividade física reduz substancialmente o risco de morrer de doença cardíaca coronária e diminui o risco de infarto, câncer de cólon, diabetes e pressão alta, entre outras doenças. Para o personal trainer Roney Rocha, a prática vem aumentando consideravelmente entre as pessoas. “A prática de atividades físicas vem consideravelmente aumentando em todas as idades por conta na melhoria da saúde e bem-estar. Desta maneira, sabemos que não existe idade certa para praticar atividades físicas e nem dizer que existe tempo para parar de exercitar”, explica o personal. Rocha esclarece que existem várias modalidades nos dias de hoje e que sempre haverá alguma que se encaixe no perfil de cada indivíduo conforme sua necessidade. “A atividade física no geral trás benefícios à população desde fase da criança até o idoso. Desde uma obesidade infantil, problemas cardiovasculares até mesmo a osteoporose. A prática de atividades físicas proporciona melhorias no equilíbrio, na força e dentre outras. É importante que o idoso exercite atividades que se sinta bem, procurando sempre um profissional da área para proporcionar segurança na atividade física”, ressalta. Para idosos, prática é mesmo fundamental Para o gerontólogo Francisco Silvestre, mesmo com essa falta de governança as pessoas se dedicam à boa prática e para ele, além de cuidar do corpo, é necessário cuidar da mente e do espírito. “É inevitável não alinhar uma coisa a outra. Diz um ditado gerontológico que ‘o corpo que tem fé, balança, balança, mas não cai’. Já outro ditado diz que ‘corpo sem cabeça o mesmo que um barco a deriva’. Acredito que esses sábios ditos populares respondem a importância de exercitamos à fé e a memória”, afirma. Gerontólogo Francisco Silvestre também defende que hábitos são determinantes para a velhice (Foto: Sandro Lima) Para os idosos, a prática de atividade física é fundamental para uma melhor qualidade de vida. Ela fortalece os músculos, ossos e articulações, o que melhora a capacidade de locomoção e realização de tarefas diárias, e ainda diminui a ocorrência de quedas e, consequentemente, lesões. Além de ajudar prevenir e tratar algumas doenças, também ajuda na autoestima do idoso, que quando saudável, consegue ser mais independente, o que minimiza os riscos de depressão e outros problemas psicológicos. Sensação de bem-estar e alívio de dores crônicas Além de contribuir para a sensação de bem-estar, aliviar dores crônicas e melhorar a resistência física, a prática regular de atividade é fundamental para a saúde, atuando na prevenção e tratamento de doenças cardiorrespiratórias, psicossomáticas, metabólicas, alguns tipos de cânceres, AVC, diabetes, hipertensão, osteoporose, entre muitas outras. O alerta é para a pratica atividade física, independentemente da idade e  comece a praticar o quanto antes. É importante buscar orientação de um profissional de educação física a respeito das atividades indicadas, sua intensidade e a melhor forma de realizá-las. Caso exista alguma patologia, é necessário procurar um médico antes de começar a praticar qualquer atividade física. Ele fará uma avaliação e poderá vetar algumas atividades e recomendar outras, de modo a garantir sua segurança, os benefícios das atividades e evitar lesões ou outras complicações.