Roteiro cultural
Criação da peça 'Tempo de Vagalume' começou em Maceió com pesquisas sobre vivências LGBT dos anos 90
Estreia do espetáculo ocorreu em junho de 2024 em Garanhuns (PE), e pela primeira vez será apresentado na capital alagoana dia 13 de dezembro, no Teatro Jofre Soares
"O espetáculo surgiu em Maceió, em 2018. Para ter base empírica, comecei a fazer pesquisas no Arquivo Público de Alagoas, e lendo vários jornais e entrevistas, descobri que as pessoas da comunidade LGBT, nos anos 90, tinham que pagar pedágio para caminhar ou se locomover", contou o ator Joesile Cordeiro, que protagoniza a história da peça e estará na capital alagoana no dia 13 de dezembro, no palco do Teatro Jofre Soares, localizado no Sesc Centro.
O artista também contou que fez uma viagem para São Paulo com um amigo para conhecer a parada LGBT, considerada a maior do mundo. E durante um processo de autorreconhecimento, aconteceu um episódio de homofobia dentro de um vagão do metrô que deu ainda mais gás e revolta para construir a peça.
"Estávamos voltando da parada e do jeito que a gente estava no metrô, ficamos. Em um determinado momento, fomos expulsos de uma forma violenta do local por uma torcida organizada. Para mim não bastava fazer uma denúncia no jornal ou na delegacia, porque não era sobre esse lugar, eu queria poetizar isso e poder me comunicar com as pessoas de outra forma", relatou Cordeiro.
O artista, então, ao voltar para Maceió, começou a escrever sobre o episódio vivido em SP e criou as primeiras linhas do texto. Porém, ele contou que a história carregava muito ódio e raiva, e por isso precisava de mais poesia, para deixá-la mais leve e teatral. Foi nesse momento que Joesile conversou com o dramaturgo e ator alagoano Bruno Alves, que costurou o enredo junto com o artista.
"O texto vinha de um lugar muito duro, e depois que a gente conversou e ajustou algumas coisas do processo, chegamos a um consenso de que o texto deveria ter a metáfora do vaga-lume, ou seja, um ser que tem um brilho muito valioso, que atrai o amor e espanta os inimigos. A peça é universal porque a gente parte do vaga-lume, atravessa o armário, para que possamos encontrar a nossa criança interior, nossas memórias, e seguir com a jornada", explicou Joesile.
O processo continuou e foi finalizado em Garanhuns, onde também ocorreu a estreia em junho de 2024.
Direção e alinhamentos
Além de pesquisas para compor a dramaturgia, o processo criativo também teve relação próxima com as histórias de amigos, familiares, colegas de trabalho, ouvidas por Joesile e toda a equipe, tendo como um dos motes a observação e a realização de jogos teatrais, técnicas cênicas e demais dinâmicas do teatro performativo e contemporâneo. Ao todo, foram dois anos de processo.
Para o diretor do espetáculo André Chaves, que também é ator e produtor cultural há 17 anos, a sensação de ter dirigido a peça foi de dever cumprido e de ter construído algo coletivamente, de forma honesta. Ele contou que foi muito lindo pensar sobre as histórias e trajetórias da comunidade, o que fez com que a equipe olhasse para suas próprias vivências e se conectasse ao que todos tinham em comum.
"O processo começa a me tocar desde o convite. Ao me deparar com as histórias de Joe como um homem negro, da periferia, a partir dessa trajetória o quanto tinha a ver, o quanto que essas crianças existem, o desejo de ser artista, de entender como inventaria a arte como ofício, como essas coisas estão ligadas, esses desejos nossos estão ligados. É uma sensação de acolhimento, aconchego", disse André.
André também explicou que na peça há projeção de imagens, com um trabalho de video mapping, mixagem de imagens em cena, justamente para construir uma estética que estimula a nostalgia, uma experiência de uma artesania única.
Segundo ele, o ponto forte da peça é a parte que Joesile se torna uma figura central e que partilha com o público o controle da sua própria narrativa.
"Além de ser um ato de coragem, é ao mesmo tempo um ato de generosidade e sensibilidade. É um espetáculo muito honesto, construído por gente de verdade através de uma vida real, e que apesar de alguns episódios serem ficção, a matriz da peça vem de uma coisa real. Essa potência de trazer a vida real já é o ponto forte", concluiu.
SERVIÇO
Apresentação da peça "Tempo de Vagalume"
Data: 13 de dezembro
Horário: 19h
Local: Teatro Jofre Soares - Sesc Centro (Maceió)
Ingressos: Sympla
Mais informações: @tempodevagalume (Instragram) | (82) 99982-9628 (Jamerson)
Mais lidas
-
1Grave acidente
Jogador da base do CSA tem amputação parcial de uma das pernas
-
2Em Pernambuco
Médica morre em batida envolvendo um carro e uma moto em Caruaru
-
3Streaming
O que é verdade e o que é mentira na série Senna, da Netflix?
-
4A hora chegou!
‘A Fazenda 16’: Saiba quem vai ganhar e derrotar os adversários no reality da Record TV
-
5Briga de gigantes
Velozes e Furiosos 11 pode entregar uma das melhores cenas de Dominic Toretto