Roteiro cultural
Mesclando poesia e música, compositor Chico Torres lança o disco “Segunda Navegação”
Chico Torres , músico e produtor, lança hoje seu primeiro disco, “Segunda Navegação” , nas principais plataformas digitais. Produzido por ele em parceria com Dinho Zampier, em Maceió, cidade onde Chico nasceu e vive até hoje, o álbum traz 10 faixas inéditas, todas elas fundamentadas no violão. Os arranjos e criações melódicas são assinadas por Chico, a partir de poemas escritos por poetas alagoanos e interpretados por cantoras de todo o Brasil.
O nome do trabalho é uma explicação sucinta e muito eficaz sobre a proposta que o próprio disco carrega consigo: “na Filosofia o termo ‘segunda navegação’ explica aquela vida que há além da vida cotidiana. A primeira navegação você bota o barco para se movimentar, é o dia a dia que a gente faz acontecer. Já a ‘segunda navegação’ traz esse lado da vida enquanto possibilidade da reflexão, do pensamento, do que é mais subjetivo”, emenda Chico, que também é filósofo formado. “De alguma forma penso que o disco é uma ‘segunda navegação’ desses poemas. Que nasceram no papel, como poemas, para serem lidos. E agora ganham um novo campo de expansão, que são as melodias, as canções em si”, ele conclui.
O processo de feitura de “Segunda Navegação” remonta o período pandêmico, onde Chico fez algumas colaborações à distância. “Vi um primeiro poema e tive o ímpeto de musicá-lo. Fiz isso com uns dois poemas e comecei a propor aquelas gravações em ‘modo pandemia’: tela dividida, trocas de ideias e tudo mais… Fui compondo, mas sem pretensão de ser um disco”, ele relembra.
O cenário mudou quando veio a Lei Aldir Blanc e Chico vislumbrou a oportunidade de organizar todas aquelas composições num formato de disco, explorando em suas composições poemas não convencionais, seja em forma ou conteúdo. “Ao longo do processo fui entendendo que seria um álbum interpretado apenas por mulheres, são 10 intérpretes distintas, para 10 poemas distintos. As autorias desses poemas também não se repetem”, entrega o músico.
“Segunda Navegação” foi gravado com banda, apenas uma faixa se mantém somente com violão, piano e cordas. Foi um processo de gravação muito colaborativo, com a presença de músicos alagoanos, que são parceiros de Chico em outros projetos. “Abri mão de algumas coisas também, claro, até pelo tempo que a gente tinha para fazer esse trabalho. Mudou muito das primeiras ideias, mas achei interessante isso, foi um processo importante para mim também no sentido de deixar rolar. O violão é alma de tudo, disso eu não abri mão, mas várias construções ali também partiram diretamente dos músicos que integram a ficha técnica. E no final ficou tudo muito interessante”, ele cita.
São 10 canções que se diferem umas das outras, dificultando propositalmente a construção de uma narrativa única: a intenção aqui é justamente o contrário. “Me inspiro em discos como 'O Grande Circo Místico' (1981) de Edu Lobo e Chico Buarque, e 'Ode Descontínua e Remota para Flauta e Oboé - De Ariana para Dionísio' (2005), no qual Zeca Baleiro musica poemas de Hilda Hilst. Outra grande referência é o experimentalismo de Caetano nos discos dos anos 1970, que nada conversa com nada, cada música é uma investigação diferente. Quis fazer algo assim, um disco que reúne poemas diferentes e, consequentemente, geraram músicas diferentes”, afirma Chico.
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