Ninguém fica parado. Segunda-feira é o dia de forró. Já foi decretado anteriormente em Arapiraca, pelo saudoso baluarte da nossa Cultura, o mestre Afrísio Acácio do Acordeon e dos Oito Baixos. Falta só oficializar.

O mestre nos deixou seu legado: há 14 anos, a Praça Luís Pereira Lima (antiga Praça da Prefeitura), no Centro, vira uma grande palhoça a céu aberto, sempre a partir das 8h.

Segunda-feira é dia, também, da tradicional Feira Livre de Arapiraca.

E se é de tradição que estamos falando, o resgate das raízes nordestinas é sempre mote para os sanfoneiros, zambubeiros, trianguleiros, cantadores, declamadores, emboladores, cordelistas, violeiros, gaitistas e demais artistas que circulam pelo Projeto Cultura na Praça.

Com apoio da Secretaria Municipal de Cultura, Lazer e Juventude de Arapiraca, a nova temporada do projeto será iniciada já nesta próxima segunda-feira (22).

O evento é aberto ao público, na Tenda Cultural Afrísio Acácio — que já ganhou o nome do mestre. Isto é, é gratuito, sem grades. Literalmente, para todos os públicos que queiram apreciar a boa música nordestina.

SHOW TEM QUE CONTINUAR

A continuidade do projeto vem pela permanência do resgate realizado pela Associação Cultural de Tradições Nordestinas de Arapiraca (ACTNA), capitaneado agora pelos filhos do mestre Afrísio.

“O Cultura na Praça foi criado justamente para dar voz e vez aos artistas da terra, muitos deles sem espaço para manifestarem suas habilidades e seus trabalhos. Em grande medida, o projeto acaba sendo uma espécie de ‘terapia’ para as pessoas que frequentam o local, toda segunda-feira, sobretudo as pessoas idosas, que estão na melhoridade — os chamados ‘jovens já bem vividos’. Ao som do forró pé de serra, eles se reconectam com seu espírito jovem escutando músicas de suas raízes, músicas de qualidade melódica e com letras que nos emocionam até hoje”, pontua Arlisson Acácio, também conhecido como “Touro”.

Segundo o filho do mestre, a presença da tradicional Feira Livre de Arapiraca foi fundamental para este projeto se consolidar e ter a força que tem.

“A feira em si é um propulsor dessa gama artística imensa condensada num só lugar, notadamente porque muitas pessoas dos interiores, de cidades vizinhas, elas se locomovem para a nossa Capital do Agreste — muitas delas vêm exclusivamente para acompanhar o Cultura na Praça. Outras vêm para a Feira Livre e depois passam aqui no nosso projeto. Isso nos deixa muito orgulhosos”, diz.

São vários os sanfoneiros que estão por lá, desde mais tradicionais como Severo da Mata Limpa e Bastinho da Sanfona até os jovens Maxsuel do Acordeon e Victor Jordão, ambos outrora alunos do mestre Afrísio.

“Esse é um dos eventos culturais mais relevantes de Alagoas e do Nordeste, por ser um projeto continuado. Inclusive, ano passado, o Cultura na Praça viralizou na internet, com diversos influenciadores digitais e artistas comentando e compartilhando vídeos do nosso forró aqui da Praça Luís Pereira Lima. É o encontro da nostalgia com o novo! Isso é um reflexo de que este projeto já está com fama em todo o nosso Nordeste, sobretudo, por realmente ocorrer todas as segundas-feiras. Esse evento terá vida longa, creio eu, também em memória do mestre Afrísio; também por manter a essência das nossas tradições, colocando o forró pé de serra nos holofotes, dando espaço aos nossos poetas e artistas populares. É pura Cultura viva”, reforça Janu Leite, secretário interino municipal de Cultura, Lazer e Juventude de Arapiraca.

NASCE O PROJETO

E por lá o forró não para um só minuto, tendo tudo nascido de lampejo do saudoso mestre.

“Papai teve essa ideia, muito inspirado no que o Luiz Gonzaga fazia — era algo semelhante que ele levava às feiras, ‘passando o chapéu’ para algum trocado ser depositado para os artistas que se apresentassem. Há miasse uma década, tínhamos um programa em uma rádio comunitária de Arapiraca e queríamos transmitir o forró autêntico e ao vivo, e foi definido que seria às segundas-feiras, que era o dia da nossa tradicional Feira Livre aqui. Nasceu assim o Cultura na Praça. Como o projeto deu mais público que a audiência em si do programa radiofônico, resolvemos focar e unir forças para fazer com que o projeto decolasse a cada segunda-feira do mês. Então, deixamos o programa em questão de lado. Foi a decisão mais acertada na época. Depois do Cultura na Praça consolidado e com parcerias estabelecidas, voltamos à rádio Pajuçara, com o programa Manhãs Nordestinas em paralelo”, comenta Arlisson “Touro” Acácio.

O mestre Afrísio não conseguiria sozinho. Ele contou com o apoio da dona Alcina, sua parceria em vida, e também dos filhos. Foram eles que deram o tom ao evento, ajudando na organização com equipamentos de som e montagem.

DAQUI EM DIANTE

Agora, essa iniciativa do eterno mestre se tornou Patrimônio Cultural Imaterial de Alagoas, titulação concedida através da Lei 96/2023, no último dia 30 de novembro.

“Meu papel hoje é continuar o que eu já fazia anteriormente, organizando a logística para os músicos se apresentarem, além de arrumar festas para eles tocarem ao longo dos meses, junto a ACTNA”, ressalta Arlisson, que também está à frente da Associação agora levando o nome e o legado de ética e seriedade de seu pai adiante.

No próximo dia 17/06, uma segunda-feira, bem que poderia ser decretado o Dia Municipal do Forró em Arapiraca. Marcará os dois anos que o fole do mestre Afrísio Acácio deixou de cantar. Falta só oficializar.

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CULTURA NA PRAÇA 2024 — Início da nova temporada

Data: 22/04/2024

Hora: 08h00

Local: Tenda Cultural Mestre Afrísio Acácio (Praça Luís Pereira Lima, Centro, Arapiraca)

Quanto: Gratuito