Política

Sete etnias de Alagoas pressionam por demarcação de terras

Representantes dos Geripankó, Karuazu, Katokin, Kalankó, Koiupanká, Pankararu Kraunã estão em Brasília para reuniões

Por Emanuelle Vanderlei - colaboradora / Tribuna Independente 26/11/2025 08h04
Sete etnias de Alagoas pressionam por demarcação de terras
Povos indígenas do alto Sertão de AL tratam em Brasília sobre os processos de demarcação de terras - Foto: Acervo Pessoal

A luta pela demarcação das terras indígenas tem se fortalecido em Alagoas. Esta semana, um grupo composto por representantes de seis etnias diferentes foi em comitiva até Brasília para mais uma negociação com a Fundação Nacional do Índio (Funai). Os povos indígenas são da região do Sertão de Alagoas: Geripankó, Karuazu, Katokin do município de Pariconha; Kalankó, de Água Branca; Koiupanká, de Inhapi; Pankararu, de Delmiro Gouveia e Kraunã, Olho d’Água do Casado.

A situação referente ao povo Kraunã ainda está em processo de reconhecimento. Os outros cinco já são reconhecidos e buscam avanço no processo de demarcação. De todos esses, o mais avançado é o povo Kalankó, que já tem um Grupo Técnico de Trabalho (GTT) instituído. O grupo técnico é a primeira etapa no processo de demarcação, e por isso os outros quatro grupos reivindicam a criação do GTT.

Também está forte nos últimos meses, um clima de conflito nas terras Xukuru-Kariri, em Palmeira dos Índios. No caso deles, a demarcação já está avançada, quase em fase de desintrusão para homologação presidencial. Os últimos meses foram marcados por episódios de violência, ameaças a técnicos da Fundação Nacional do Índio e até tiros em escola indígena.

Na avaliação do professor Jorge Vieira, pesquisador das etnias indígenas em Alagoas há mais de 30 anos, a demora para a demarcação tem causado problemas sérios.

“Entra governo e sai governo, e isso não sai do papel. E os índios sofrem ameaças e acabam muitas vezes tendo que sair para tentar sobreviver. Temos até o caso de um alagoano, o Dionísio, que foi trabalhar como ajudante de pedreiro no Rio de Janeiro e morreu em um acidente de trabalho”, afirmou.

Com o direito previsto na Carta Magna, os povos têm cobrado a demarcação. “Eles querem o seu direito, como garante a constituição no artigo 231. Além disso, no artigo 67 a constituição diz que todos têm que ser demarcados em um prazo de cinco anos após a promulgação, que aconteceu em 1988. Tempo hábil já teve”, argumentou Vieira.

A agenda em Brasília foi cheia, de acordo com o Antônio, liderança Kalankó. Na terça-feira (25), pela manhã, estiveram em uma reunião na Funai.

“No setor identificação e delimitação fundiária para tratar da assinatura do TED [Termos de Execução Descentralizada] entre a Universidade Federal de Alagoas e a Funai, para a contratação dos grupos técnicos para fazer o estudo de identificação e delimitação territorial do povo Geripankó, Karuazu, e Katokinn, no município de Pariconha e do povo Koiupanká no município de Inhapi. Tratamos também do grupo técnico que vai fazer o estudo fundiário do povo Kalankó em Água Branca”, relatou, em contato com a reportagem da Tribuna Independente.

As reuniões foram produtivas, os indígenas do alto Sertão saíram do encontro com um cronograma.

“A princípio ficou estabelecido que na segunda quinzena de janeiro o grupo técnico para o estudo latifundiário do povo Kalankó, e no mês de março de 2026 a instalação dos grupos de trabalho de identificação e delimitação dos povos Karuazu, Katokinn, Geripankó e Koiupanká”, disse.

Além desses, o grupo ainda reforçou a pauta dos companheiros por reconhecimento. “Também esteve com a gente o povo Kraunã lá de Olho D’Água, reivindicando o reconhecimento étnico por parte dos órgãos federais, do povo Kraunã-Toá”. Ainda na terça (25), eles foram à Procuradoria Geral da República (PGR).

“Estivemos no setor da Sexta Câmara, solicitando apoio deste órgão para pressionar a Funai a dar agilidade às reivindicações desses povos. Nesta quarta-feira [26], nós temos ainda uma agenda com o Ministério dos Povos Indígenas, também para reforçar essa mesma reivindicação feita na Funai e retornamos a Funai para o setor das políticas sociais para reivindicar as os serviços de assistência sociais das comunidades indígenas do Alto Sertão de Alagoas”, reforçou.

Na PGR, a promessa foi de dar seguimento. “A procuradora disse que iria encaminhar para todos os setores responsáveis as nossas reivindicações para que haja agilidade. E sobre o povo Kraunã também, acionaria ao Ministério Público da Região de Alagoas para que proporcionasse discussões para a assistência ao povo Kraunã”, informou o Kalankó.