Política
Militar incentiva perseguir jornalistas e Governo de Alagoas e Sindjornal reagem
Declaração de palestrante em evento da Segurança Pública causa mal estar na imprensa após repercussão da Mídia Caeté
Reforçando o seu compromisso com a liberdade de expressão e o respeito absoluto pela imprensa alagoana, o Governo de Alagoas emitiu ontem (17), uma nota oficial repudiando o teor das declarações feitas pelo palestrante Marcio Saldanha Walker, durante evento oficial promovido pela Secretaria de Segurança Pública no dia 14 de novembro. Quem também se posicionou com uma forte nota de repúdio foi o Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Alagoas (Sindjornal), e a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj).
“A fala não representa — em nenhuma circunstância — a posição do Governo. Nossa política é clara: defesa da liberdade de imprensa, valorização da atividade jornalística e diálogo permanente com os profissionais de comunicação. Por isso, repudiamos o teor da declaração”, diz a nota.
A declaração foi uma resposta à nota de repúdio divulgada pelo portal de jornalismo independente Mídia Caeté, que sentiu-se atacado e alvo de acusações.
“Fomos atacados com insultos e difamações, vinculando nosso trabalho à propaganda de crime organizado, especificamente nas reportagens relacionadas a Direitos Humanos, foco de nossa atuação”.
Marcio Saldanha Walker é coronel da reserva do Exército. Consultor de comunicação estratégica, e segundo a nota da Mídia Caeté, teria incitado o público (formado por policiais civis e militares) a cometer abuso de poder e desvio de finalidade da Segurança Pública.
“Afirmou que iria ‘explorar a vida’ de um repórter, mas decidiu deixar que a inteligência fizesse o ‘trabalho’; orientou que os participantes da palestra - policiais militares e civis – ‘não permitissem’ que certas palavras fossem utilizadas pelo periódico. Ilustrando, desta vez, reportagem de outro veículo alagoano, sugeriu que policiais ligassem para o repórter para mandar que “corrijam” o que não estiver a contento da instituição”, detalha a Mídia Caeté.
A nota é finalizada com uma provocação do veículo. “Querem que a imprensa pare de falar sobre violência policial ou institucional? Há um caminho eficaz e que dispensa longas palestras: basta que parem de cometer violência policial ou institucional”.
Na nota do Governo do Estado, a Secretaria de Estado da Comunicação (Secom) menciona diretamente o veículo de forma elogiosa. “Reconhecemos e agradecemos o trabalho sério da Mídia Caeté, do Extra Alagoas e de toda a imprensa alagoana, cujo papel é decisivo para garantir informação de qualidade e fortalecer a democracia”.
Ainda na esteira da defesa da democracia, o Estado lembra que tem tomado medidas de fortalecimento da democracia e do jornalismo. “Esta gestão reativou o Conselho de Comunicação Social, instalou o Núcleo de Integridade da Informação, reequiparou o salário do assessor de comunicação ao piso da categoria e consolidou uma relação madura, transparente e respeitosa com a imprensa. Comunicação profissional é pilar de instituições fortes e de uma sociedade melhor informada. Nosso compromisso permanece firme e inalterado”, garante a Secom.
Ainda sobre as declarações, o governo explica que até mesmo na Secretaria em que o fato ocorreu, os pilares defendidos e relacionamento com a imprensa são os mesmos. “Nesse mesmo sentido, deixamos claro que nunca houve, na SSP, qualquer tipo de cerceamento da informação ou ação que pudesse, de alguma forma, dificultar ou impedir o trabalho da imprensa. Pelo contrário — sempre atuamos com transparência, parceria e total respeito ao papel fundamental dos veículos de comunicação no fortalecimento da segurança pública e no serviço à sociedade.
O fato ganhou repercussão negativa na segunda-feira (17), e teve reação do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Alagoas (Sindjornal), que juntamente com a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) soltou nota repudiando “com veemência” a insinuação que buscou associar o trabalho da imprensa alagoana com a narcocultura.
“Reportagens da Mídia Caeté, do Extra, G1 foram irresponsavelmente citadas como propagandas a favor do crime”, destaca a entidade sindical.
Em defesa dos jornalistas, o sindicato aponta o trecho em que trabalhos dos colegas foram apontados como ameaça ao trabalho policial, o palestrante teria sugerido ainda identificar quem na SSP colaborou com as informações.
“Para o Sindjornal, a posição do consultor, configura grave ameaça ao estado democrático de direito, flerta com a volta da ditadura, que no Brasil teve participação ativa de integrantes do Exército, e onde a imprensa, para atender aos caprichos de ditadores chegou a publicar receitas de bolo em jornais, para não denunciar os excessos do Estado e nem ouvir os dois lados do fato, premissa primordial do bom jornalismo”.
Preocupado com a segurança da categoria, o Sindjornal reforça o repúdio a medidas contra profissionais. “Também repudia a criação de dossiês, devassando a vida pessoal dos jornalistas que atuam em Alagoas. Um risco à vida desses profissionais e de seus familiares, que assim como as forças de segurança, precisam ser reconhecidos como aliados da sociedade, da democracia e da cidadania, uma vez que lutam para reduzir as distorções sociais”.
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