Política

Braskem deixa de comprar sal via Porto

De acordo com Porto de Maceió, importação do produto do Chile parou no primeiro semestre, encerrando fábrica do Pontal

Por Ricardo Rodrigues - colaborador / Tribuna Independente com assessoria 30/10/2025 08h20 - Atualizado em 30/10/2025 08h59
Braskem deixa de comprar sal via Porto
Empresa recebeu 170 mil toneladas do produto este ano, contra 554 mil toneladas compradas em 2024 - Foto: Reprodução

A Braskem não compra mais sal do Chile, como vinha comprando nos últimos seis anos, desde que foi proibir de extrair sal-gema em Maceió, para produção de cloro e soda. A importação do produto parou em maio deste ano, de acordo com o quadro de movimentação de cargas do Porto de Maceió. Isso prova que a mineradora vai mesmo encerrar as atividades da fábrica do Pontal da Barra, depois de quase 50 anos de operação na capital alagoana.

Segundo dados divulgados esta semana pela Administração do Porto de Maceió, em 2025, a Braskem importou apenas pouco mais 170 toneladas de sal. Somando a importação do produto nos meses de janeiro (44.036 toneladas), fevereiro (47.229 toneladas), março (46.771 toneladas) e maio (32.516 toneladas). No mês de abril, não houve registro de importação de sal. Do primeiro final do primeiro semestre para cá, a importação cessou.

A importação de sal do Chile começou em 2020, quando a Braskem recebeu, via Porto de Maceió, 102.210 toneladas do produto. Em 2021, a empresa importou 336.810 toneladas; em 2022, importou 515.293 toneladas; em 2023, comprou 548.537 toneladas; em 2024, foram importadas 554.133; e em 2025 apenas 170.552 toneladas. No total, de 2020 a 2025, foram importadas 2.227.535 toneladas de sal do Chile.

O fim da produção de cloro e soda em Alagoas, encerrando oficialmente as atividades da planta localizada em Maceió, foi anunciada no começo de outubro. No entanto, isso não significa que a capital alagoana vai se livrar da estrutura instalada no Pontal da Barra — símbolo da maior tragédia ambiental da história do estado. As instalações serão reformadas para ser usada com depósito.

A mineradora não divulga os detalhes da operação desmonte, mas uma fonte de dentro da empresa assegurar que o espaço será reaproveitado como centro de armazenamento de dicloretano. A substância será importada para abastecer a indústria, na fabricação de PVC e MVC, no Polo Petroquímico de Marechal Deodoro. Em agosto de 2012, a Braskem inaugurou uma nova fábrica de PVC em Alagoas.

À época, a empresa era apontada como a maior petroquímica das Américas e líder mundial na produção de biopolímeros. A nova fábrica de PVC foi inaugura com a presença da então presidente da República, Dilma Rousseff, e do governador Teotônio Vilela Filho. O investimento, de R$ 1 bilhão, é o maior já feito em um único projeto desde a fundação da empresa, há dez anos.

De acordo com informações da época, a fábrica tinha capacidade produtiva de 200 mil toneladas anuais de PVC. Com isso, a planta consolidava a liderança do Brasil na produção dessa resina no contexto latino-americano. Além disso, elevava Alagoas à condição de maior estado produtor de PVC no país. A planta se somou às cerca de 60 empresas já instaladas no polo, que geravam 10 mil empregos diretos e indiretos.

Com a tragédia do afundamento do solo, que impactou pelo menos cinco bairros de Maceió e expulsou de suas casas mais de 60 mil pessoas, de 2018 para cá, a Braskem passou do auge para seu “inferno astral”. O rastro de destruição provocado pela mineração predatória de sal-gema deixou um passivo ambiental tão nocivo que Novonor tem encontrado dificuldade para vender a empresa.

ÁREA CONTAMINADA

Os especialistas em meio ambiente dizem que, mesmo com o desmonte da planta e possível venda da estrutura como sucata, o solo da região do Pontal da Barra continuará impróprio para ocupação humana. A estimativa é que o processo de descontaminação leve ao menos dez anos. Trata-se de um legado tóxico que recairá sobre as próximas gerações, fruto da negligência dos órgãos responsáveis pela fiscalização ambiental.

Além disso, a Braskem evita comentar a situação dos cerca de 300 trabalhadores diretamente ligados à planta do Pontal, mas o clima entre os funcionários é de incerteza e apreensão. De acordo com sindicatos do setor, parte dos empregados poderá ser transferida para outras unidades da empresa no país, enquanto a maioria deve ser dispensada, aumentando o desemprego na região.

Areia é usada para tamponar minas de sal-gema desativadas (Foto: Edilson Omena)

Empresa investe em frota própria de navios mercantes

Por outro lado, a Braskem está investindo US$ 3 bilhões na aquisição de uma frota própria de navios mercantes, com o objetivo de fortalecer sua logística global. Os seis navios, fabricados na China, serão utilizados para importar cloro e dicloretano dos Estados Unidos e da Ásia. Dois desses navios já estão em operação e os demais seguem em construção. Um desses navios foi usado, para trazer cerca de 30 mil toneladas de areia da Bahia para Maceió.

A areia é usada no tamponamento das minas de sal-gema desativadas por decisão judicial, desde 2019. A administração do Porto de Maceió confirmou a importação da areia, em fevereiro deste ano. A mineradora vem comprando o mineral de vários fornecedores de Alagoas e de outros Estados, para a operação tamponamento. No entanto, a mineradora tem se recusado a revelar de quem compra a areia, qual a quantidade adquirida até então e a origem do produto.

Quando a operação tamponamento começou, a partir de 2020, a Braskem vinha comprando areia da praia do Francês, mas como a extração foi suspensa, a pedido do Ministério Público Federal (MPF), a mineradora passou a comprar areia em outros municípios, a exemplo de Coruripe, Satuba, Feliz Deserto e mais recentemente de Piaçabuçu – nas proximidades da praia do Pontal do Peba, na foz do Rio São Francisco, no Litoral Sul de Alagoas.

85 anos do porto

Inaugurado em 20 de outubro de 1940, o Porto de Maceió completou 85 anos de história, reafirmando seu papel como um dos principais vetores de desenvolvimento econômico e logístico de Alagoas. Localizado em posição estratégica no litoral nordestino, o Porto vem se consolidando como um elo essencial para o escoamento de cargas e para o crescimento do turismo marítimo na região.

Ao longo dos últimos anos, a Administração do Porto de Maceió (APMC) tem intensificado esforços para modernizar a infraestrutura, aprimorar a logística e fortalecer a gestão ambiental e administrativa. Esse conjunto de iniciativas tem resultado em maior eficiência operacional e em um ambiente mais atrativo para negócios e investimentos no estado.

“O Porto de Maceió, comprometido com o desenvolvimento do setor portuário e com a economia de Alagoas, tem promovido avanços nas áreas de infraestrutura, logística, ambiental e administrativa nos últimos tempos”, ressalta o administrador do Porto, Diogo Holanda. Segundo ele, esses avanços já se refletem no aumento da movimentação de cargas e no crescimento do número de navios de passageiros que atracam na capital alagoana.