Política

Cacique assume secretaria em Palmeira dos Índios

Posse do indígena Selmo, da etnia Xucuru-Kariri, melhora relação deles com prefeitura municipal e avança na demarcação de terras

Por Emanuelle Vanderlei – colaboradora / Tribuna Independente 20/09/2025 08h10 - Atualizado em 20/09/2025 08h18
Cacique assume secretaria em Palmeira dos Índios
Prefeita Maria Júlia empossa cacique Selmo na Secretaria de Povos Originários de Palmeira dos Índios - Foto: Divulgação

Após um período de dificuldade de diálogo com a gestão municipal, as lideranças indígenas dos povos Xucuru-Kariri, em Palmeira dos Índios, comemoram avanços com a criação da Secretaria de Povos Originários. Assumiu como secretário municipal o indígena Cacique Selmo, da Aldeia Coité, e como assessor especial o quilombola Elson Paulino dos Santos, liderança da comunidade da Tabacaria.

A escolha reforça o protagonismo de representantes legítimos das comunidades indígenas e quilombolas na condução das políticas públicas do município.

De acordo com informações de lideranças, a equipe da Funai retomou as atividades de levantamento fundiário das terras indígenas Xucuru-Kariri, e a iniciativa da prefeita Maria Júlia (MDB) de criar a pasta e nomear como secretário o Cacique Selmo Xucuru-Kariri, demonstra boa vontade em avançar nas negociações das pautas dos povos tradicionais.

Segundo os próprios indígenas, Cacique Selmo é uma das lideranças que luta incansavelmente pelo território Xucuru-Kariri, e tem se inserido na política para garantir o desejo dos povos que há muito tempo sofrem perseguição política em Alagoas. A expectativa da comunidade é que isso possa fortalecer e garantir o processo de homologação.

A nomeação aconteceu no início deste mês, e na ocasião a prefeita destacou que a nova Secretaria será responsável por formular e implementar políticas públicas voltadas à cultura e aos direitos dos povos indígenas e quilombolas. “Esta pasta reafirma o compromisso da gestão em valorizar as nove comunidades indígenas e a comunidade quilombola da Tabacaria, o primeiro quilombo a ter seu território reconhecido no estado de Alagoas”, afirmou.

A terra está demarcada há pelo menos 11 anos, mas falta a homologação presidencial, que concluiria finalmente o processo e tornaria efetivo o direito previsto em constituição. Essa é uma situação comum a várias comunidades indígenas no país, mas no caso dos Xucuru-Kariri , etnia que fica em Palmeira dos Índios, há um diferencial, ela foi incluída no pacote das primeiras 14 terras indígenas que teriam suas demarcações homologadas pelo governo de Lula (PT), a expectativa era para que isso acontecesse até o final de 2024, mas alguns impasses com políticos locais impediram que isso acontecesse até agora.

A principal alegação que vinha sendo feita por narrativas contrárias à demarcação é a preocupação com posseiros (pessoas que estariam ocupando de forma irregular as terras demarcadas). Na última quinta-feira (19), durante viagem a Brasília, Mano Tanawy, liderança Xukuru Kariri, publicou um vídeo em suas redes sociais comemorando o que pode ser mais um passo nesta resolução. Segundo ele, os próprios posseiros têm tomado a iniciativa de resolver, e as condições estão sendo viabilizadas via Governo Federal.

“Há algum tempo, alguns posseiros do território Xucuru Kariri, de Palmeira dos Índios, têm procurado a gente enquanto liderança, têm procurado a Funai, solicitando que fosse feito o pagamento desse processo territorial de lá, e muitos posseiros se colocam à disposição de receber esse pagamento de forma amigável, na condição de boa fé, e a gente conseguiu hoje garantir alguns pagamentos dessa comissão. São mais de quase 200 posseiros que têm procurado a gente e, graças a Deus, a gente está conseguindo dar andamento. Agora em dezembro será paga uma etapa desses posseiros como prioridades, e no primeiro semestre do ano de 2026 será paga mais outra etapa, além do levantamento que estamos fazendo agora, esse ano”, relatou Mano Tanawy.

A informação foi confirmada à Tribuna Independente pelo coordenador da Funai em Alagoas, Cícero Albuquerque, que passou a semana na capital federal. “Nós estamos saindo de Brasília com um encaminhamento prático muito bom em relação a Xucuru-Kariri, que foi a primeira pauta que nos trouxe aqui. Tem um indicativo muito positivo de que nós vamos começar a pagar as benfeitorias de áreas já levantadas agora, ainda este ano, e vamos continuar esse processo no próximo ano. Portanto, avançou. Enquanto isso, a pressão pela homologação que os povos fazem continua”.