Política

PEC da Blindagem causa reação em Alagoas

Políticos e movimentos sociais se manifestam de várias formas desde aprovação da proposta na Câmara dos Deputados, na quarta

Por Emanuelle Vanderlei - colaboradora / Tribuna Independente 19/09/2025 08h05 - Atualizado em 19/09/2025 08h48
PEC da Blindagem causa reação em Alagoas
Deputado Rafael Brito votou a favor da PEC, mas se arrependeu e justificou voto nas suas redes sociais - Foto: Assessoria

A classe política e a sociedade civil organizada em Alagoas reagiram negativamente à PEC da blindagem, aprovada nos últimos dias na Câmara Federal. O senador Renan Calheiros (MDB) tem trabalhado contra a efetivação da proposta, repreendeu os colegas de partido e segue nas articulações para no Senado.

Em conversa com a Tribuna Independente, Calheiros comemorou. “A PEC da blindagem já chegou no Senado e o presidente mandou para CCJ. Uma vitória da resistência de muitos senadores”.

Da bancada alagoana na Câmara, apenas dois parlamentares votaram contra a PEC da blindagem. Foram eles Daniel Barbosa (PP), e Paulão (PT). Nas redes sociais, Paulão reforçou seu posicionamento e também adiantou que vai votar contra a anistia. “É lamentável a decisão da Câmara dos Deputados de aprovar a chamada PEC da Blindagem, contra a qual me posicionei no plenário! Agora, coloca em regime de urgência o PL 2162/23 para conceder anistia aos golpistas de 8 de janeiro. Isso é um desrespeito ao povo brasileiro e uma afronta à nossa democracia”.
Mas já tem parlamentar arrependido. No final da manhã de ontem, Rafael Brito (MDB) se pronunciou nas redes sociais se justificando. “Após refletir sobre a PEC das Prerrogativas e, principalmente, ouvir meus eleitores, reconheço que embora existam aspectos importantes para o momento de crise institucional do país, os pontos negativos são muito mais preocupantes!”.

Brito promete se somar ao grupo contrário à PEC. “Agradeço a todos que compartilharam suas opiniões comigo. Vocês foram essenciais para esta reflexão, valorizo muito a opinião de cada um! Me comprometo a trabalhar para que esta PEC não seja aprovada. A transparência e a prestação de contas são valores inegociáveis em nossa democracia. Continuarei ouvindo, sempre, e defendendo o que realmente importa para o Brasil e para aqueles que confiaram em meu mandato e a quem represento”.

Na quarta-feira (17) o Movimento Nacional De Combate a Corrupção Eleitoral em Alagoas (MCCE/AL) lançou um manifesto sobre o assunto.
De acordo com o movimento, “a PEC da Blindagem não é apenas mais uma proposta legislativa, é o símbolo de uma política que perdeu a vergonha, que virou as costas para a justiça e que decidiu proteger os poderosos enquanto abandona o povo à própria sorte”, diz o manifesto.

O texto considera que estamos vivendo um momento de apodrecimento da política brasileira. “A política, que deveria ser o caminho para mudar a realidade e servir ao povo, se tornou um terreno podre, onde a maioria dos parlamentares prefere usar o mandato como escudo contra a justiça em vez de usar como arma a favor da cidadania. Enquanto hospitais sofrem sem recursos, escolas caem aos pedaços e famílias enfrentam a fome e o desemprego, deputados e senadores se reúnem para costurar um pacto de autoproteção, esquecendo que a Constituição existe para garantir direitos, não privilégios. A PEC da Blindagem não é apenas um ataque às instituições, é um insulto à inteligência e à dignidade do povo brasileiro. É a oficialização do apodrecimento da política, um atestado público de que muitos que ocupam cadeiras no Congresso não estão preocupados com o futuro da nação, mas apenas em garantir que nunca responderão por seus erros e crimes”, afirmou Fernado CPI, coordenador do MCCE em Alagoas.

Nas mídias sociais, o ministro Renan Filho, criticou a PEC da Blindagem e elogiou a decisão da executiva estadual do MDB de Alagoas de advertir os deputados do partido no Estado que votaram a favor da proposta. Segundo ele, não é à toa que proposta está sendo chamada de “PEC da Bandidagem”.

Fernando CPI promete mobilização contra a PEC da Blindagem (Foto: Assessoria)

CPI diz que manifesto circula nas mídias sociais contra impunidade

Segundo o coordenador do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE), Antônio Fernando, mais conhecido como Fernando CPI, a mobilização está sendo feita com a publicação do manifesto em todas as redes sociais e enviada a todos os parlamentares em Brasília. Também estão sendo viabilizados recursos para confecção de panfletos e carro de som, para alcançar a população através de mobilizações de ruas.

Ele condena os eleitos e responsabiliza os eleitores. “Cabe a consciência da nossa sociedade. Porque se diz ‘votou em Fulano porque não sabe ler e não sabe escrever’. Todo ser humano tem discernimento. Não tem essa questão de analfabeto, se eu saio da minha casa pra votar numa mala sem alça, num bandido, num picareta. é porque eu sou igual a ele. Nós fomos fruto de nossas escolhas. O que está aí hoje nos representando, na sua grande maioria porque toda regra tem exceção, não é porque temos uma classe política podre, fedida, que vamos dizer que todo mundo é ruim. Ainda existe algum um aqui, um ali, um aqui um ali e pessoas que merecem o nosso respeito, mas a sua grande maioria venceu a eleição através do abuso de poder econômico, através do abuso de poder religioso, compra de voto. E a sociedade não faz a sua parte elegendo pessoas que tem caráter, vergonha cara e queira fazer alguma coisa pela nossa cidade, pelo nosso Brasil”.

De acordo com Fernando, o MCCE existe no Brasil há 15 anos, e tem representação em Alagoas há 13. Desde o seu surgimento, representa 18 entidades e algumas pessoas físicas. “Algumas faleceram, como no caso do [advogado] Omar Coelho há alguns anos atrás, o restante permaneceu até hoje. Além do manifesto contra a PEC da Blindagem, eles atualmente estão posicionados contra a anistia para golpistas.

“A história do Brasil mostra que todas as vezes que golpista foi anistiado, anos depois deram o golpe. Por exemplo no golpe de 1964. Quem deu o golpe de 64 foram as mesmas pessoas que tentaram derrubar o [ex-presidente] Juscelino Kubitschek e ele anistiou. Não existe essa anistia, esse discurso de pacificação é conversa para boi dormir. Estamos vivendo golpe contra golpe, está aí o cara dos EUA fazendo o que está fazendo contra brasileiro”, argumentou Fernando CPI.

Ele acrescentou que, na sexta-feira (26), será realizado um ato público, no Centro de Maceió, contra a PEC da Blindagem e contra a proposta de Anistia para os Golpistas. A manifestação está sendo organizada pelo MCCE de Alagoas, com o apoio dos movimentos sociais, sindicatos de trabalhadores e partidos políticos de esquerda.