Na Câmara Municipal de Maceió e na Assembleia Legislativa, os parlamentares mantêm posicionamentos divergentes sobre o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e outros sete réus, iniciado ontem e marcado para acontecer ao longo dessa e da próxima semana. Eles são acusados dos crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, organização criminosa, dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado.

O vereador Leonardo Dias, líder do PL na Câmara, acredita que seu colega de partido será condenado. “Todo mundo sabe o fim. Bolsonaro vai ser condenado à prisão, isso já está claro há muito tempo. Alguns preferiram não acreditar, mas a gente sabe que o fim é esse”.

Criticando a instancia máxima do judiciário brasileiro, Dias afirma que isso não pode nem ser chamado de julgamento.

“Dentro dos cinco juízes, que mudaram agora a regra, não vai ser no pleno, vai ser na turma o julgamento dele. Dentro desses cinco juízes nós temos um ex-advogado do principal adversário político dele, que é o presidente da turma, nós temos um outro que já comparou Bolsonaro ao próprio Satanás, e temos o Alexandre de Moraes, que além de juiz é a vítima, é o inquisidor, é o acusador, e faz todos os papéis sozinhos ali. Então não há como ter o julgamento imparcial onde três dos cinco juízes, já sabemos como votará”.

Em sua fala, ele traz o discurso religioso como consolo. “Vão prender um homem inocente, um homem que nunca fez mal a ninguém, que conduziu aí esse Brasil com muito amor e que tenho certeza que um dia a justiça de Deus não falhará”.

A análise da colega de legislatura, a vereadora Teca Nelma (PT), tem outra perspectiva. “O julgamento é fundamental para a defesa da nossa democracia. Os crimes que estão sendo analisados, entre eles golpe de Estado e abolição violenta do Estado Democrático de Direito, são gravíssimos. Quem tenta destruir as instituições, atenta contra a liberdade e os direitos do povo brasileiro precisa ser responsabilizado”.

O risco, na avaliação da vereadora, é de que o crime volte a ser cometido. “Uma eventual anistia significaria abrir as portas para que novos atentados contra a democracia aconteçam no futuro. O recado seria de impunidade para quem tentar golpear o país, e isso enfraquece toda a sociedade”.

Teca defende a condenação. “Eu defendo, sim, a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro e dos seus aliados, porque não podemos naturalizar ataques à Constituição nem permitir que a violência seja usada como ferramenta política”.

Na compreensão dela, o impacto para a população das cidades tem alcance em todas as áreas.

“Na nossa capital, e em qualquer cidade, defender a democracia é defender os direitos básicos da população, como saúde, educação e segurança. A lei é para todos: se não houver justiça agora, quem sofre é o povo no dia a dia, porque sem democracia não existe garantia de nenhum direito”.

Na Assembleia Legislativa, também há o contraditório. Contrário à punição, o deputado estadual Cabo Bebeto (PL) acredita o companheiro de partido precisará de sorte. “Hoje se inicia mais um julgamento do presidente Jair Bolsonaro. Desejo toda a sorte a ele, pois acredito plenamente na sua inocência”. Assim como o vereador Leonardo Dias, ele coloca em dúvida a seriedade do judiciário e apela para a fé. “Infelizmente, vivemos um momento em que a confiança da população na Justiça brasileira está abalada, mas seguimos com fé, confiantes de que Deus está ao lado dele. Milhões de pessoas torcem pelo presidente, e minha mensagem é de incentivo para que siga firme diante desse processo”.

Já o deputado Ronaldo Medeiros (PT), considera o julgamento um capítulo importante da história e destaca ações dos acusados. “É um julgamento histórico, o do Bolsonaro. Um julgamento que vem tendo uma repercussão muito grande, porque se trata de um ex-presidente que ainda, enquanto estava presidente, planejou um golpe de Estado, planejou mortes do presidente eleito, do vice, de ministro de estado do Supremo Tribunal Federal, isso é algo extremamente grave”.

Falando especificamente do processo, o petista chama atenção para provas apresentadas. “Foi provado durante os depoimentos e durante esse tempo todo que aquele trágico 8 de Janeiro, ele não foi por acaso. Tem vários atores envolvidos naquele ato. Pessoas que financiaram, pessoas que pensaram. E eu creio que o STF, com esse julgamento, vai estar fazendo justiça. Não pode, de maneira nenhuma, nem pensar em anistia. Um dos maiores crimes que se comete contra a nação, o seu povo, é você acabar com a democracia. E tudo que Bolsonaro fez, ele foi planejar esse golpe de Estado”.

O parlamentar reforçou a crítica com lembranças da conduta de Bolsonaro durante seu mandato como presidente. “Durante seu governo, ter estimulado o ódio, ter estimulado a violência, na pandemia se comportou de forma trágica. A sua atuação permitiu, infelizmente, que milhares de vidas não pudessem ser salvas, porque ele zombava, nunca levou a sério, recomendando remédios que cientificamente não tinham comprovação científica nenhuma, zombou de mortes. O sofrimento das pessoas, uma família que é um péssimo exemplo”.

E finalizou questionando a conduta de Eduardo Bolsonaro, que está articulando sanções ao Brasil nos Estados Unidos. “Agora mesmo estamos vendo essa traição à pátria. O filho que é deputado federal, que deveria estar no Brasil, está nos Estados Unidos, colaborando para boicotar empresas brasileiras, empregos, empresários, produtos brasileiros e a soberania nacional também. Então o julgamento que tenho certeza que justiça será feita e o destino dele é o destino dos traidores e golpistas, traidores e golpistas só tem um caminho, que é a reclusão, que é a cadeia, que é o local dele, o conjunto da obra mostra que esse senhor jamais deveria ter sido”.