Política
Arquidiocese quer prestação de contas da gestão Dom Muniz
Dom Beto Breis diz não saber o que foi gasto, recebido e o que restou de patrimônio da Igreja Católica em Maceió

Um corretor de imóveis descobriu que era da Arquidiocese, mas teria sido vendido a terceiros, um terreno na Avenida Tomaz Espíndola, vizinho ao Colégio Madalena Sofia, no bairro do Farol, em Maceió. Como esse imóvel foi vendido, por quanto, quem teria vendido e quem teria comprado? As perguntas endereçadas a Arquidiocese ficaram sem respostas, porque o arcebispo de Maceió, Dom Beto Breis, não soube responder.
De acordo com a assessoria de comunicação da Arquidiocese, as contas da Igreja Católica em Maceió, administradas pela gestão anterior, ainda estão em aberto, desde a renúncia Dom Antônio Muniz, em março de 2024. Por isso, sem a prestação dessas contas, não dá para o arcebispo saber quais os recursos e o patrimônio atual da Arquidiocese. O que foi vendido e o que ainda resta. O que foi pago e o que ainda falta pagar.
Segundo a assessoria da Cúria todas essas informações estão sendo cobradas. “O que o Dom Beto pediu, através dos advogados, foi que todas as prestações de contas sejam apresentadas. Ele quer entender o que aconteceu com a contabilidade da instituição, porque a diocese não recebeu nenhuma prestação de contas da gestão anterior”, afirmou a assessoria de comunicação da Arquidiocese.
“Sem essas informações, ele não pode responder se esses imóveis foram vendidos ou não”, acrescentou, referindo-se a Dom Beto. O arcebispo contratou um escritório jurídico de Brasília, para fazer esse questionamento judicial, sobre o patrimônio da Arquidiocese, os contratos, os recursos recebidos, as despesas pagas, as dívidas em abeto, o saldo das contas bancárias e créditos a receber.
A assessoria de Dom Beto disse ainda que quando ele assumiu a Arquidiocese de Maceió, por determinação do Vaticano, em março do ano passado, mudou o comando da Fundação Leobino e Adelaide Motta e solicitou uma auditoria contábil na entidade, que tem um patrimônio gigantesco. Ele saber quanto de dinheiro foi arrecadado com a venda da areia do Sitio Bom Retiro, em Marechal Deodoro.
O terreno pertence a Igreja Católica, fica na praia do Francês e tinha 2 mil metros de frente para o Oceano Atlântico. Há mais de 10 anos, o Sitio Bom Retiro vinha sendo explorado pela empresa Mandacaru Extração de Areia, que tinha contrato com a Arquidiocese para extrair e vender a areia. A Braskem era cliente e comprava a areia para tamponar as minas desativadas de sal-gema, em Maceió.
EXTRAÇÃO DE AREIA
De acordo com o contrato de arrendamento firmado entre Fundação e a Mandacaru, assinado em 8 de abril de 2018, a empresa tinha autorização para extrair um volume estimado em 174.548,49 metros cúbicos de areia fina salinizada. No entanto, a licença de exploração da área havia sido concedida pelo Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), por meio de portaria com data de 8 de outubro de 2013, conforme publicação no Diário Oficial da União (DOU).
Por isso, em janeiro de 2023, quando foi ouvido sobre a denúncia de crime ambiental, que é investigado pelo Ministério Público Federal (MPF), o então diretor-financeiro da Fundação, padre Walfran Fonseca, negou qualquer irregularidade na retirada e na comercialização da areia. Porém, em contato telefônico com a Tribuna Independente, ele confirmou que a parceria com a Mandacaru já durava cerca de dez anos, mas não quis revelar quanto a Igreja já tinha arrecadado com a venda da areia.

Novo arcebispo pede na justiça fim da extração de areia em terreno da Igreja
O negócio era tão bom para a Mandacaru, administrada pelos sócios Elderclenio Correia dos Santos e Ana Cecília Pinto Gameleira Buyers, que a empresa só desocupou o Sítio Bom Retiro, no começo do ano, por decisão judicial. O bota fora foi pedido por Dom Beto – que sempre foi contra a participação da Igreja na mineração predatória de areia. A decisão, dando 24 horas para a Mandacaru parar as extrações de areia no terreno da Fundação, foi tomada pelo juiz da 4ª Vara Civil da Capital, José Cicero da Silva, em 10 de janeiro de 2025.
Os negócios entre a Mandacaru e a Arquidiocese, na gestão de Dom Muniz e do padre Walfran Fonseca, estão sendo investigados pelo Ministério Público Estadual, por meio do Grupo Estadual de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco). A investigação começou em março deste ano e tem como objetivo apurar irregularidades na Arquidiocese e na Fundação Leobino e Adelaide Motta, que é administrada pela Cúria Metropolitana.
No final de março, o promotor de Justiça José Carlos Silva Castro, como integrante do Gaeco, notificou a contadora e professora de Ciências Contábeis da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), Luciana Bandeira, para prestar depoimento sobre as suspeitas de irregularidades nas contas da Arquidiocese. Dias antes de ser convocada, a contadora pediu demissão e confidenciou a amigos que não suportava mais tanta pressão, por parte dos responsáveis pelas receitas e despesas da Arquidiocese.
Nessa ação, Dom Beto quer que o então tesoureiro da Federação da Rede Cristã de Acolhimento e Recuperação do Dependente Químico do Estado de Alagoas (Fundação Recriar), padre Walfran Fonseca; e o conselheiro fiscal da entidade, Ronnie Rayner Teixeira Mota, digam como gastaram o dinheiro que receberam para projetos sociais e prestem contas dos serviços oferecidos ao público-alvo.
Em nota, a assessoria de comunicação da Arquidiocese disse que “a medida foi necessária diante da ausência de informações e documentos relativos àquela gestão, de forma que a ação visa, exclusivamente, assegurar que sejam devidamente prestadas as contas correspondentes. Trata-se de um procedimento que busca garantir a lisura, o cuidado e a responsabilidade que devem nortear a administração de qualquer entidade”, acrescentou.
O processo foi distribuído no último dia 22 de abril para 6ª Vara Civil de Maceió e será julgado pelo juiz Ney Costa Alcântara de Oliveira. A Arquidiocese é representada pelo escritório do advogado Hugo Sarubbi Cysneiros, com sede em Brasília (DF).
O valor da ação foi estipulado em R$ 3.120.000,00, que corresponde ao valor do dinheiro supostamente desviado da Fundação Recriar, que funcionava no mesmo endereço da Arquidiocese, na avenida Dom Antônio Brandão, no bairro do Farol, em Maceió.
OUTRO LADO
A reportagem da Tribuna Independente tentou ouvir Dom Antônio Muniz e o padre Walfran Fonseca, sobre a falta de prestação de contas e a suspeita de desvio de dinheiro da Arquidiocese e da Fundação ligada a ela, mas eles não deram retorno às ligações telefônicas e às perguntas encaminhadas por aplicativo de mensagens.
O empresário Ronnie Mota, que é presidente do Instituto de Previdência do Município de Maceió (Iprev), disse ainda não tinha sido notificado pela Justiça e que só ia se manifestar depois de ter acesso ao processo judicial.
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