Política
Desde 2004, Rio Largo vivencia escândalos e gestores afastados
Gestões de Elisa Alves, Vânia Paiva, Toninho Lins e Gilberto Gonçalves estavam no epicentro das crises políticas

Na última semana, o município de Rio Largo, que detém o terceiro maior eleitorado de Alagoas, localizado na região metropolitana de Maceió, esteve em evidência na política alagoana. Após a leitura de cartas de renúncia do prefeito e do vice-prefeito em sessão extraordinária na Câmara de Vereadores segunda-feira (31), com direito a posse do presidente do Legislativo como novo prefeito, foi iniciada uma guerra, política e judicial, em torno do que o próprio gestor chamou de tentativa de golpe.
O status atualizado até o final da última sexta-feira (4) é de que a justiça anulou o efeito das cartas, e os gestores eleitos, Pedro Carlos (PP) e Peterson Henrique (PP) permanecem nos seus cargos.
Os acontecimentos, em alguns momentos dignos de tramas fictícias, com direito a teorias mirabolantes circulando na boca do povo, vereador tentando forçar entrada no gabinete da prefeitura e prefeito dormindo no gabinete, fazem alguns observadores mais atentos associarem a crise a um perfil reincidente na política riolarguense.
Há mais de 20 anos, os gestores do Executivo têm sido envolvidos em escândalos da mesma natureza, com vários afastamentos. Eleita em 1996 e reeleita em 2000, a prefeita Elisa Alves (PL) foi afastada e reempossada algumas vezes em seu segundo mandato, por decisões de magistrados do Tribunal de Justiça de Alagoas (TJ/AL), por conta de uma ação do Ministério Público que a acusava de improbidade administrativa.
EM CHAMAS
A vice de Elisa, Vânia Paiva, rompeu com a gestora e chegou a recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF) para pedir que suspendesse a liminar que havia reconduzido a prefeita titular ao cargo. Nas eleições de 2004, Vânia foi eleita nas urnas e cumpriu o mandato entre 2005 e 2008, mas não ficou livre dos escândalos. Em 2009, ela foi presa pela Polícia Civil acusada de ter mandado queimar documentos da contabilidade da prefeitura logo após as eleições de 2004. Vânia foi denunciada por incêndio doloso, supressão de documento, formação de quadrilha e dano qualificado.
À época, as investigações apontavam que o incêndio teria sido provocado para destruir documentos contábeis e financeiros da prefeitura com o objetivo de apagar as provas de possíveis delitos praticados e atos de improbidade administrativa. O incêndio ocorreu em outubro de 2004 e teria sido feito a mando de Vânia Paiva, que na época estavam à frente da administração municipal. A denúncia aponta que Jorge Pagão invadiu as dependências do setor de contabilidade da Secretaria de Finanças e, utilizando óleo diesel, ateou fogo, provocando a destruição de diversos documentos públicos financeiros e licitatórios da prefeitura.
PRISÃO E AFASTAMENTO
Em 2008, a população elegeu Toninho Lins (PSB). Em seu primeiro mandato, ele chegou a ser afastado junto com os dez vereadores, por conta de um suposto esquema milionário envolvendo desapropriação de terreno e venda irregular para uma empresa. Toninho chegou a ser preso, mesmo assim foi reeleito, chegando a assumir o segundo mandato. Neste segundo mandato, ele teve como vice a ex-prefeita Elisa, que assumiu a cadeira de prefeita novamente, já que Toninho teve o afastamento determinado pela justiça nos primeiros dias do segundo mandato, em janeiro de 2013.
Em 2016, Toninho foi condenado à prisão, e depois de algumas idas e vindas renunciou ao cargo. Elisa seguiu a tradição e foi também afastada. Dessa vez com direito a bloqueio de bens, novamente sob acusação de improbidade administrativa.
Em 2019 Eliza e Toninho foram condenados pela justiça, junto com o empresário envolvido no esquema. Os três réus tiveram como pena o pagamento de multas, e ficaram proibidos de contratarem com o Poder Público ou de receberem benefícios ou incentivos fiscais e creditícios pelo período de três anos. Toninho chegou a cumprir pena em regime fechado por um período.
Nas redes sociais, o ex-prefeito Toninho Lins chegou a publicar um vídeo criticando a situação de instabilidade política que hoje toma conta da gestão Pedro Carlos.
ERA GG
O próximo prefeito eleito foi Gilberto Gonçalves (PP). Eleito em 2016 ele teve seu afastamento aprovado na Câmara de Vereadores em 2019, acusado de irregularidades administrativas. Apesar de sair da cadeira, o comentário na cidade era de que GG continuava no comando, já que a vice era sua esposa, Cristina Gonçalves (PEN).
Assim como aconteceu com Toninho, Gilberto conseguiu alcançar a reeleição, mesmo em meio a escândalos e afastamento. De volta em 2020, Gilberto foi preso pela Polícia Federal na operação Beco da Pecúnia, em 2022. Segundo a investigação, as contratações e respectivos pagamentos para aquisições de material de construção, peças e serviços para veículos realizados pelo município de Rio Largo, em favor de duas empresas, teriam ocorrido de forma irregular.
A PF informou na época, que entre 2019 e 2022, foram realizados 245 saques “na boca do caixa” de contas de tais empresas, com o valor individual de R$ 49 mil, logo após terem recebido recursos de contas do município de Rio Largo, visando burlar o sistema de controle do Banco Central/COAF, que prevê a obrigatoriedade das instituições bancárias informarem automaticamente transações com valores iguais ou superiores a R$ 50 mil.
EX-ALIADOS
Na eleição do ano passado, o então prefeito Pedro Carlos foi apadrinhado por Gilberto Gonçalves para ser o candidato à sucessão em Rio Largo. Pedro, que aderiu o “Gonçalves”, é sobrinho da esposa de Gilberto.
Antes mesmo da posse, Gilberto já dava sinais de descontentamento com Pedro. A situação política passou a se intensificar após o início do mandato. O prefeito se envolveu em crises com a Câmara de Rio Largo devido às críticas dos parlamentares quanto à influência de Gilberto Gonçalves que estava no posto de secretário de Governo, uma Pasta que servia para o ex-prefeito observar todas as movimentações do atual mandatário.
Esta semana, após mais um episódio em Rio Largo, que poderia culminar com a sua renúncia, Pedro Carlos decidiu demitir Gilberto Gonçalves, e ainda acionou o Ministério Público Estadual de Alagoas, Poder Judiciário e a Polícia Civil de Alagoas para deixar claro que está sendo vítima de uma tentativa de golpe.
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