Política

Candidatos investem nas redes, mas não descartam o guia eleitoral

Influência das redes tem aumentado cada vez mais, porém propaganda gratuita no rádio e TV é indispensável

Por Emanuelle Vanderlei - colaboradora / Tribuna Independente 10/08/2024 08h00 - Atualizado em 10/08/2024 09h58
Candidatos investem nas redes, mas não descartam o guia eleitoral
Eleições municipais deste ano estão com atenção especial por conta das cobranças dos órgãos devido à disseminação de notícias falsas e calúnias nas redes sociais, bem como no guia eleitoral - Foto: Divulgação

Em outros tempos, o guia eleitoral na televisão aberta era praticamente a única forma de se comunicar massivamente com os eleitores. Se um candidato tinha 10 segundos, tinha que conseguir se destacar e mostrar relevância com muita criatividade, porque não haveria outro espaço. Hoje, com as mídias sociais, os canais se pulverizaram. Páginas com milhões de acessos, influenciadores cada vez mais relevantes, é inegável que tudo isso se torna alternativa para quem não tem acesso, mas podemos dizer que o tradicional perdeu força?

Os especialistas acreditam que não. O jornalista e especialista em Marketing Político, Caio Bruno, tem atuado em campanhas eleitorais há 16 anos e afirma que a TV ainda é grande em alcance e influencia, mas que uma acaba ajudando a outra.

“Já trabalhei em campanhas em cidades que há o Horário Eleitoral no Rádio e TV e em outras que não há. É inegável que a televisão ainda tem um poder de alcance muito grande e influencia, por isso as redes sociais são complementares e importantes. Ela entrega o conteúdo on demand, ou seja, conseguimos entregar a informação que desejamos para o público que queremos e ele acessa na hora que desejar. A TV e o Rádio não fazem isso”, destaca.

Segundo Caio, “na grande maioria das cidades de Alagoas e do Brasil não há o Guia Eleitoral próprio e essas populações acabam assistindo os das capitais ou cidades maiores, logo a rede social e a campanha de rua se faz mais presente e necessária. Em cidades sem espaço na TV, sem dúvida, as redes sociais fazem a diferença ainda mais. Por isso, é importante que as campanhas tenham uma boa equipe de comunicação digital”.

Considerando esses fatores, fica ainda mais perceptível que as mídias sociais ocupam um espaço cada vez mais destacado, e isso cresce com o aumento do tempo que as pessoas têm dedicado a elas. Outro fator que pesa muito, é o custo-benefício.

“A influência das redes sociais aumenta a cada eleição por diversos fatores como, por exemplo, o custo do marketing nesses veículos ser menor que nos tradicionais [TV, rádio, etc], a facilidade da comunicação em atingir públicos cada vez maiores em velocidade menor e, principalmente pela segmentação dos eleitores. Pesquisas indicam que cada vez mais pessoas se informam pelas redes sociais e elas já predominam entre os jovens, que raramente assistem TV ou escutam rádio”, ponderou o especialista.

Ou seja, mesmo reconhecendo as mídias sociais, as campanhas ainda dedicam maior parte do orçamento à mídia tradicional. “Em volume de recursos, sem dúvida a parte maior ainda é para produção de TV já que o custo de produção é alto. Nas redes sociais, predomina a produção rápida e em maior quantidade, mas de alcance orgânico. Ainda não há uma cultura, principalmente nas pequenas e médias cidades, de investimento em tráfego pago e impulsionamento”.

Uma pesquisa realizada pelo DataSenado em 2019 já observava que as redes sociais influenciavam o voto de quase metade da população. De acordo com a agência Senado, 45% dos entrevistados afirmaram ter decidido o voto levando em consideração informações vistas em alguma rede social. E a principal fonte de informação do brasileiro era o aplicativo de troca de mensagens WhatsApp, segundo o levantamento.

“Das 2,4 mil pessoas entrevistadas, 79% disseram sempre utilizar essa rede social para se informar”, diz o texto da Agência Senado.

Em 2022, foram muitas as análises de especialistas sobre os resultados das eleições presidenciais. No cenário extremamente polarizado entre Lula e Bolsonaro, é unânime que a campanha nas mídias sociais interferiu no resultado. Mas observando com mais calma, é importante lembrar que a maior parte do conteúdo ou surgia, ou ganhava dimensão na TV aberta. Desde o debate entre os candidatos, até as notícias no telejornal.

NÃO É
BRINCADEIRA

Apesar da linguagem mais informal predominar, é necessário admitir que a as redes sociais precisam ser levadas a sério. Hoje, 5 anos e duas eleições depois dessa pesquisa do Senado, o papel dessas redes vai se aprimorando e se tornando impossível de ignorar. Todo mundo já entendeu que não dá para ser amador nesse setor.

O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Luís Roberto Barroso, declarou em junho deste ano que deve pautar a regulação das redes sociais em breve. Ele fechou um acordo com algumas plataformas para o combate à desinformação e representantes do YouTube, Google, Meta, TikTok, Microsoft e Kwai assinaram a adesão ao programa.

No Congresso Nacional, o assunto também está em discussão. Está tramitando na casa o Projeto de Lei 2630/20, que institui a Lei Brasileira de Liberdade, Responsabilidade e Transparência na Internet. O texto cria medidas de combate à disseminação de conteúdo falso nas redes sociais, como Facebook e Twitter, e nos serviços de mensagens privadas, como WhatsApp e Telegram, excluindo-se serviços de uso corporativo e e-mail.

As medidas valerão para as plataformas com mais de 2 milhões de usuários, inclusive estrangeiras, desde que ofertem serviços ao público brasileiro.

O PL do senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) já foi aprovado pelo Senado, mas chega à Câmara dos Deputados em meio a polêmicas. Enquanto alguns deputados e setores da sociedade acreditam serem necessárias medidas para combater o financiamento de notícias falsas, especialmente em contexto eleitoral, outros acreditam que as medidas podem levar à censura. Outro ponto polêmico é a possibilidade de acrescentar ao texto sanções penais.