Política
CPI da Braskem evita contato com moradores afetados na visita a Maceió
Apenas dois dos quatro senadores da Comissão estiveram nos Flexais, em uma visita rápida, debaixo de chuva, no final da tarde
A CPI da Braskem esteve ontem em Maceió, mas evitou o contato com os moradores das áreas atingidas pela mineração que ficaram fora dos acordos celebrados com a empresa, com o aval dos órgãos de fiscalização e controle.
A comunidade dos Flexais, que reivindica a realocação do bairro, ficou à espera da comitiva o dia interior, mas só no final da tarde, a CPI compareceu ao bairro. Mesmo assim, com apenas dois dos quatro senadores que desembarcaram na capital alagoana, por volta das 11 horas da manhã.
“A visita foi positiva, apesar dos atropelos e da agenda apertada”, avaliou o senador Rogério Carvalho (PT/SE), relator da CPI, ao deixar a comunidade dos Flexais, debaixo de chuva, já no início da noite de ontem. Ele e o senador Rodrigo Cunha (Podemos/AL) entraram em duas residências de moradores dos Flexais.
Na casa do aposentado Ademar Paulo de Barros, na Travessa Faustino da Silveira, eles viram as rachaduras na parede. Entraram também na casa de dona Joselma Ataíde, reside há mais de 30 anos na Rua Faustino da Silveira.
“Senador, aqui nos Flexais, estamos isolados, sem condições nenhuma de moradia e vizinhança”, relatou Joselma. “Na minha casa de 23 metros de parede, 21 estão com rachadura, parece que passaram a faca no bolo e dividiram em duas bandas”, acrescentou a moradora.
Depois de ouvir esse relato, protegidos por guarda-chuva, os senadores decidiram visitar a casa de dona Joselma. Antes, o relator da CPI perguntou o que ela queria. “A gente quer sair daqui, nós estamos lutando há mais de 6 anos pela realocação”, afirmou.
ROTEIRO BUROCRÁTICO
Pela manhã, os moradores dos Flexais realizaram uma manifestação na entrada do bairro, faixas e cartazes chamando a Braskem de “criminosa”, mas a CPI não compareceu. Os senadores preferiram seguir um roteiro burocrático, sob o comando de Cunha, que por ser de Alagoas foi o anfitrião da comitiva.
Depois de desembarcar em Maceió, a comitiva evitou contato com os manifestantes, mobilizados pelo Movimento Unificado das Vítimas da Braskem (MUVB), saindo em carros fechados, por um portão lateral do aeroporto Zumbi dos Palmares.
Do aeroporto, a comitiva seguiu direto para o Centro de Operações da Defesa Civil de Maceió, montado com recursos da Braskem, dentro da parceria com a Prefeitura, na gestão do prefeito JHC (PL). De lá, a comitiva esteve no Pinheiro, onde verificaram o rastro de destruição deixado pela mineração, na zona de exclusão do bairro.
No começo da tarde, o presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD/AM) e o vice-presidente, senador Hiran Gonçalves (PP/RR) retornaram a Brasília, conforme informou a assessoria da Comissão. Eles não participaram da reunião no Ministério Público Federal de Alagoas (MPF/AL), nem estiveram na visita aos Flexais.
RELATÓRIO
Na reunião com as vítimas da Braskem, no auditório do MPF/AL, antes de ouvir os moradores, os senadores concederam entrevista à imprensa. Cunha disse que a CPI deve entregar o relatório final no próximo dia 15, uma semana antes do prazo final da Comissão, marcado para 22 de maio.
“Tudo está se encaminhando para a Comissão encerrar os trabalhos dentro do prazo. Acho muito difícil um pedido de prorrogação”, afirmou o senador alagoano. Segundo ele, a CPI vem cumprindo com sua missão, de buscar os responsáveis pelo desastre e propor uma reparação justas para as vítimas da mineração.
O relator Rogério Carvalho abriu os trabalhos, na reunião com as vítimas, fazendo um balanço da Comissão. Segundo ele, a CPI só não esteve pela manhã nos Flexais, porque houve um problema de logística na saída de Brasília.
“A saída estava prevista para as 7h30 da manhã, mas tivemos um pequeno problema com a aeronave e só conseguimos embarcar para Maceió por volta das 10 horas”, argumentou Carvalho, tentando justificar o fato da CPI não ter ido pela manhã visitar a comunidade dos Flexais, como estava programado.
Movimento das vítimas critica roteiro da comissão e falta de reprentatividade
Quando foi apresentada a relação de pessoas selecionadas para falar, as lideranças do movimento viram que ficaram de fora e começaram a reclamar, fazendo perguntas aos senadores. Antes que o tumulto tomasse conta do auditório do MPF/AL, um integrante do MUVB sugeriu que aquela reunião fosse encerrada e os senadores fossem visitar os Flexais.
Nesse momento, o relator aceitou a proposta feita pelo sindicalista Maurício Sarmento, integrante do MUVB, encerrou a reunião e junto com Cunha se dirigiu à comunidade dos Flexais, onde chegaram por voltas das 17h15, debaixo de chuva.
No trilho do VLT, os senadores conversaram por alguns minutos com alguns moradores do bairro. O relator ficou sensibilizado com o drama de dona Joselma e decidiu visitar a casa dela, onde constataram as rachaduras provocadas pela mineração predatória.
Quando a comitiva deixava o bairro, os moradores que acompanhavam os senadores, debaixo de chuva, gritavam palavras de ordem, contra a empresa responsável pela tragédia: “O povo na rua, Braskem a culpa é sua”.
Os integrantes do Movimento Unificado das Vítimas da Braskem (MUVB) ficaram decepcionados com a CPI da Braskem, que evitou ao máximo contato com os moradores dos bairros atingidos pela mineração em Maceió.
Pela manhã, eles estiveram no aeroporto, para recepcionar os senadores, mas a comitiva deu um drible nos manifestantes e saiu por um portão lateral, em carros fechados, sem falar com ninguém.
No dia anterior, o movimento tinha divulgado o roteiro da Comissão, incluindo uma visita aos Flexais, na parte da manhã, mas a comitiva só esteve lá no final da tarde, início da noite.
“O MUVB tem a honra de anunciar que estará recepcionando os senadores integrantes da CPI da Braskem na manhã do dia 08/05, não apenas no Aeroporto Zumbi dos Palmares, mas também nos locais de moradia das comunidades afetadas, como Flexais, Quebradas, Marqueis de Abrantes e Vila Saem, às 9 horas. Estaremos presentes com faixas e cartazes para expressar nossa posição sobre as questões em discussão”, informaram os integrantes do Movimento, nas mídias sociais.
“Além da nossa recepção no aeroporto, os moradores das comunidades mencionadas também aguardarão a CPI em seus locais de moradia, com a esperança de que suas preocupações sejam ouvidas e resolvidas”, acrescentaram os integrantes do MUVB.
Relator garante que vai cobrar construção de um novo cemitério à Prefeitura
Para eles, a chegada dos senadores a Maceió marcaria um momento crucial na investigação sobre as atividades da Braskem, “e o MUVB receberá os membros da CPI com a importância devida para discutir questões de interesse das vítimas afetadas pela Braskem”.
No entanto, os senadores preferiram visitar as instalações da Defesa Civil Municipal, a ter um contato direto com os moradores dos Flexais, que desde às 8 horas da manhã aguardavam a comitiva na entrada do bairro.
BOCAS CALADAS
O fato da Comissão não ter comparecido aos Flexais, na manhã de ontem, provocou a indignação dos moradores do bairro, que se deslocaram, à tarde, para a sede do MPF/AL, no Barro Duro, onde protestaram contra a CPI da Braskem e os órgãos federais, com faixas e cartazes.
“Estamos punhos cerrados e boca calada porque a CPI não quer nos ouvir”, protestou o músico Emmanuel Dias, mais conhecido como Mano Di, autor de músicas que falam sobre a tragédia dos bairros que afundam em Maceió.
A insatisfação das vítimas da Braskem, com relação à vinda da CPI a Maceió, só não foi maior, porque – pressionado pela repercussão negativa, circulando nas mídias sociais, de não ter comparecido aos Flexais –, o senador Rogério Carvalho decidiu visitar a comunidade, acatando uma sugestão de um integrante do MUVB.
Antes de se deslocar para o bairro, os senadores ouviram três representantes das vítimas. O professor Balbino reclamou do fechamento do Cemitério de Bebedouro, por conta da mineração da Braskem, dizendo que uma pessoa do povo que morre demora de três a cinco dias para ser sepultada em Maceió.
“LAVRA AMBICIOSA”
O relator prometeu colocar no relatório essa questão, até porque a Braskem repassou recursos para a prefeitura de Maceió (R$ 1,7 bilhão), para que esse dinheiro seja utilizado para isso. Rogério Carvalho disse que ia cobrar da Prefeitura a resolução desse problema, construindo um novo cemitério. Afinal, dinheiro não falta.
Os senadores disseram ainda que já está comprovada a responsabilidade da Braskem com o desastre do afundamento do solo em Maceió. Segundo Cunha, um dano irreparável. Já o relator encerrou a sua fala dizendo que a Braskem praticou “lavra ambiciosa”. “Isso acontece quando a mineradora retira do solo mais minério do que era permitido, para aumentar seu lucro”.
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