Política

Engenheiro das minas falta ao depoimento e será ouvido coercitivamente

Por Ricardo Rodrigues - colaborador / Tribuna Independente 08/05/2024 08h45 - Atualizado em 08/05/2024 10h11
Engenheiro das minas falta ao depoimento e será ouvido coercitivamente
Segundo o presidente da CPI, senador Omar Aziz, depoimento será remarcado para a semana que vem - Foto: Divulgação

O engenheiro de minas Paulo Roberto Cabral de Melo, mais conhecido como ‘Paulo Sucateiro’, faltou ontem ao depoimento na CPI da Braskem, alegando – de última hora e por meio de um telefonema – problemas de saúde, mesmo depois de ter conseguido junto ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), um habeas corpus preventivo para só responder as perguntas que quisesse.

O depoimento dele é considerado de fundamental importância para os senadores entenderem como foram implantadas as 35 minas de sal-gema exploradas pela Braskem e que teriam provocado o afundamento do solo de pelo menos cinco bairros de Maceió. Ele foi o responsável técnico das minas por mais de 20 anos, de 1976 a 1997. Além disso, depois atuou como consultor da Braskem.

A ligação dele com a mineradora é tão grande que até para conceder uma entrevista, como foi solicitada pela reportagem da Tribuna Independente, ele diz que só fala com autorização expressa da Braskem. Logicamente, a empresa não autorizou a entrevista, temendo que o engenheiro confirme os erros cometidos ou não tenha com responder as denúncias de negligência que pesam contra sua atuação.

Segundo o presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM), o depoimento do engenheiro será remarcado para a semana que vem. “O senhor Paulo Roberto vai ser convocado de novo, agora sob vara (coercitivamente), quando será obrigado a comparecer. Nesse sentido, a CPI estará tomando as medidas jurídicas cabíveis, para o comparecimento dele à sessão da Comissão”, afirmou Aziz.

Na denúncia encaminhada ao senador Renan Calheiros (MDB-AL), quando este estava colhendo assinaturas para criação CPI, o denunciante revela que Paulo Cabral recebeu o apelido de ‘Paulo Sucateiro’, porque comprava tubulações usadas da Petrobras para usar nas minas de sal-gema. À época, ele era responsável por toda a operacionalização dos poços de prospecção de sal-gema, instalados em Maceió.

“Senador, seria interessante investigar por que este maldito engenheiro usava tubos de ação usados, comprados em ferro-velho, que a Petrobras vendia como sucata; tanto que ele era conhecido pelos seus colegas da Braskem como ‘Paulo Sucateiro’. É muito simples basta pedir as notas fiscais dos tubos que a Braskem adquiriu para usar nas minas, uma simples auditoria confirmará isto”, revelou o denunciante.

Segundo essa pessoa, cujo anonimato foi solicitado para evitar represálias, a exploração desenfreada das minas e sem nenhum critério, comandada pelo engenheiro Paulo Cabral, resultou nessa tragédia. “Ele abandonou as minas sem nenhum monitoramento. “Isto está dito nos relatórios da CPRM (atual Agência Nacional de Mineração), inclusive com fotos provando isto”.

Para o denunciante, o antigo Departamento Nacional de Produção Mineral (DPEM), que passou as atribuições para ANM, foi omisso pois não fiscalizou e consentiu as operações ao longo de todos estes anos. “Um tal de plano de fechamento de cada mina era para ter sido apresentado no final de cada exploração, mas isso nunca aconteceu. Simplesmente abandonaram as minas”.

“Resumindo, este engenheiro incompetente já devia estar na cadeia desde 2018, mas continua impune rindo disso tudo e de todos”, opinou o denunciante. Segundo ele, o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Alagoas (CREA/AL) foi conivente com os erros de ‘Paulo Sucateiro’, que nunca apresentou uma ART (Anotação de Responsabilidade Técnica) sobre a operação e exploração de sal-gema.

A assessoria do CREA/AL disse que a presidente Rosa Tenório não quis comentar a denúncia, nem a atitude do engenheiro de minas, alegando que Paulo Cabral já ter sido conselheiro do órgão. “Por uma questão de ética profissional, a presidente preferiu não se pronunciar a respeito do caso”, justificou o assessor de comunicação do CREAL/AL.