Política

"Racha do MUVB só favorece a Braskem"

Movimento divulgou carta-resposta aos dissidentes que renunciaram aos cargos da entidade esta semana

Por Ricardo Rodrigues - colaborador / Tribuna Independente 26/04/2024 08h51 - Atualizado em 26/04/2024 15h20
'Racha do MUVB só favorece a Braskem'
Cássio Araújo (à esquerda) diz que carta esclare “equívocos e inverdades” - Foto: Agência Senado

A coordenação-geral do Movimento Unificado das Vítimas da Braskem (MUVB) divulgou uma carta-resposta aos dissidentes, que haviam renunciado aos cargos da entidade, essa semana. De acordo com Cássio Araújo, o documento representa um posicionamento dos integrantes que permanecem no Movimento, contra os “equívocos” e as “inverdades” assacadas pelos três ex-integrantes: Alexandre Sampaio, Dilson Ferreira e Neirevane Nunes.

“Na noite de 22/04/2024, com surpresa, e sem qualquer discussão prévia, os integrantes do MUVB tomaram conhecimento de uma carta renúncia de três de seus membros, que além das inverdades publicadas internamente, viram essas narrativas nocivas serem publicadas na imprensa local. Diante das agressões assacadas contra membros do Movimento que permanecem, decidimos prestar os esclarecimentos”, diz o trecho inicial da carta-resposta.

A CARTA

“A carta começa fazendo alusão a diversas qualidades que um participante de uma entidade ou associação deve possuir: ser solidário, ter empatia, ser companheiro, ter um objetivo comum, ser corajoso, trabalhar em cooperação e não fazer disputa de ego. Divulgar uma carta renúncia, com ataques a outros membros, de surpresa, e sem qualquer discussão prévia, anulando qualquer direito de defesa, sobre possíveis problemas internos existentes: É ser solidário? É ter empatia? É ser companheiro? É ter um objetivo comum? É ser corajoso? É trabalhar em cooperação? É não fazer disputa de ego? Que cada um tire suas próprias conclusões”, questionam os signatários do documento.

Segundo eles, diferentemente da justificativa de partidarização da entidade, feita pelos dissidentes, a coordenação geral do MUVB afirmou que o Movimento “é, foi e sempre será, um movimento e uma entidade apartidária, embora entenda a importância de manter contatos e articulações com todas e quais autoridades, seja de que partido for, ou sem partido, que se disponham a ajudar o movimento em defesa das vítimas por uma reparação integral”.

“Fazermos críticas ao passado de uma determinada autoridade porque antes nada ou pouco fez, mas que hoje se dispõe a ajudar é restringir consideravelmente a possibilidade de apoios em prol de nossa causa e deixar a Braskem livre para angariar todos os apoios que ela precisar”, destacaram os integrantes do MUVB. “Todos os apoios que venham agora são bem-vindos e quem achar que não devemos aceitar esses apoios é ajudar a Braskem a manter suas injustiças e aleivosias”, acrescentaram.

AJUDA DE POLÍTICO

Os signatários da carta-resposta admitiram que o Movimento recebeu ajuda de políticos para participar de uma audiência em Brasília, mas garantiram que essa colaboração teria sido aprovada pela entidade.

“Quanto a audiência pública sobre a Braskem na Comissão de Relações Exteriores do Senado: Foi destinado pelo Senador Renan Calheiros duas passagens para as vítimas, que seriam pagas pelo Senado, e que outras vítimas que quisessem ir poderiam participar com recursos próprios. Isso foi definido em reunião com a presença de todos os interessados e negar isso é negar os fatos. Se depois o Senador destinou outras passagens para outras pessoas é do alvedrio dele. Embora equivocado, ele fez o que achou mais acertado no momento”, relataram.

Coordenadores dizem que inimigos são a empresa e poderes que acobertam crimes

Em outro trecho da carta-resposta, os coordenadores do MUVB falam sobre a saída de Alexandre Sampaio do Grupo de Trabalho (GT) do Governo do Estado sobre a Braskem. “Foram nomeados formalmente para este GT, representando as vítimas, Alexandre Sampaio e Maurício Sarmento. Realmente as vítimas não participaram das duas ou três reuniões que houve com a Braskem, e em razão disso foi feito o devido protesto, se comprometendo o Governo a chamar as vítimas numa próxima reunião, que nunca mais ocorreu. Por conta disso houve uma acalorada reunião do MUVB em que a ampla maioria decidiu pela permanência no GT, mas o Alexandre Sampaio, passando por cima da decisão tomada pelo MUVB resolve por conta própria anunciar sua saída do GT”.

Na carta-resposta, os coordenadores do MUVB confirmaram a ameaça de morte sofrida por Alexandre Sampaio, que preside a Associação dos Empreendedores Vítimas da Mineração em Maceió. Segundo os integrantes do Movimento, a entidade se mostrou preocupada com as ameaças de morte e se solidarizou com o militante da causa ameaçado.

“No dia 02/12/2023, numa reunião preparatória para o Ato Unificado Contra o Crime da Braskem, que aconteceria no dia 06/12, por volta das 12h15, tomamos conhecimento uma mensagem macabra noticiando a morte do Alexandre Sampaio, num matagal da estrada de São Miguel dos Campos. Todos ficaram horrorizados e nos solidarizamos com ele”, garantiram os militantes do MUVB.

Eles encerram a resposta criticando a “carta-renúncia” dos dissidentes, dizendo que a atitude dos dirigentes que renunciaram representa “um grande desserviço para a causa do MUVB, e uma vitória para a Braskem, pois mostra uma profunda imaturidade democrática dos seus signatários, e um desejo de impor a qualquer custo seus pontos de vista”.
A carta-resposta, com 14 assuntos pontuados, é concluída com a seguinte mensagem: “O MUVB continuará em sua jornada de luta pelos direitos das vítimas por reparação integral quanto aos danos materiais e imateriais que todos os atingidos tenham sofrido, pela realocação das comunidades remanescentes dos Flexais, das Quebradas, da Marquês de Abrantes, da Vila Saem e do Bom Parto, bem como, por reparações aos danos sofridos dos moradores das áreas do entorno, que vai da Chã de Bebedouro ao Farol”.

Ouvidos sobre a carta-resposta, os ex-integrantes – Alexandre Sampaio, Dilson Ferreira e Neirevane Nunes – rebateram os argumentos usados pelos coordenadores do Movimento, dizendo que “os reais inimigos das vítimas são a Braskem e os poderes que acobertam seus crimes”.

“Tomamos a decisão de sair do MUVB para, de um lado, preservar nossa saúde física e mental. De outro, poupar energia para os diversos enfrentamentos necessários à luta por justiça, que já temos desde 2019, quando a Associação dos Empreendedores e Vítimas da Mineração foi criada”, afirmaram os dissidentes, em nota conjunta.

“Os atingidos pela mineração, a sociedade e a imprensa sabem da integridade e da história de vida de Neirevane Nunes, de Alexandre Sampaio e de Dilson Ferreira na luta contra a Braskem e pela sua punição exemplar, bem como pela reparação integral das vítimas pelos danos sofridos. O tom da resposta do MUVB deixa claro que o ambiente ficou tóxico e desfavorável a nossa permanência, escolhendo adversários imaginários”, acrescentaram.

“Gostaríamos muito que todos os movimentos que dizem defender as vítimas realmente o façam e dividam conosco, mesmo em trincheiras diferentes, essa carga difícil e pesada de carregar. E que entendam que os reais inimigos das vítimas são a Braskem e todos os poderes que acobertam seu crime”, concluíram.