Política

Racha no MUVB provoca a renúncia de três coordenadores

Na carta-renúncia, Alexandre Sampaio, Dilson Ferreira e Neirevane Nunes alegam questões políticas

Por Ricardo Rodrigues - colaborador / Tribuna Independente 24/04/2024 09h02 - Atualizado em 24/04/2024 18h06
Racha no MUVB provoca a renúncia de três coordenadores
Para representantes dos movimentos das vítimas, há clara partidarização pró-governo do MUVB, sobretudo durante este ano eleitoral de 2024 - Foto: Sandro Lima

Em carta-renúncia dirigida à comunidade, três coordenadores do Movimento Unificado das Vítimas da Braskem (MUVB) – Alexandre Sampaio, Dilson Ferreira e Neirevane Nunes –renunciaram a seus cargos na entidade, alegando divergência com os demais integrantes do grupo. No entanto, garantiram que vão continuar lutando contra a mineração predatória praticada pela Braskem e cobrando punição dos responsáveis pelos danos causados pelo afundamento do solo de cinco bairros de Maceió.

“Queremos deixar claro para o MUVB, para todos e todas atingidas pela Braskem e para toda a sociedade Brasileira que seguiremos firmes na luta, seja através da Associação dos Empreendedores e Vítimas da Mineração, seja através do exercício pleno da cidadania e da luta defendendo o direito das vítimas à reparação integral dos danos causados pela Braskem, buscando em todas as instâncias sua punição pelo maior crime socioambiental do mundo em Área Urbana”, afirmaram os ex-coordenadores.

Entre os motivos da renúncia, além de questões de falta de concordância na condução da entidade e de omissões em casos de ataques a integrantes do grupo, os signatários da carta-renúncia alegaram questões políticas. “A clara partidarização pró-governo do MUVB, sobretudo neste ano eleitoral de 2024, torna impossível a nossa permanência na Associação do Movimento Unificado das Vítimas”, argumentaram os renunciantes, acrescentando que essa partidarização comprometeria a luta contra a Braskem.

Para os ex-coordenadores, o Movimento tomou o caminho errado ao se atrelar a governo do Estado ou à Prefeitura de Maceió. “Pois isso enfraquece o enfrentamento devido à confusão de interesses políticos e partidários, que passam a ser mais importantes que o objetivo inicial do movimento de buscar reparação integral das vítimas e a punição dos culpados, entre eles integrantes do governo de Alagoas, como o IMA [Instituto de Meio Ambiente], e não apenas a gestão do atual prefeito JHC”, destacaram.

OUTRO LADO

O atual coordenador-geral do MUVB, Cássio Araújo, lamentou a saída dos ex-coordenadores, respeita a decisão dos colegas, mas discorda das alegações apresentadas na carta-renúncia. “Sinceramente, acho que a divulgação desta Carta Renúncia será muito bem-vista pela Braskem. Ela irá aplaudir essa iniciativa”, afirmou Araújo, que ficou de dar uma resposta aos ataques contra ele inseridos no documento. “Peço um tempo para preparar a resposta a ela, considerando que sou mencionado várias vezes”.

Coordenador-geral do movimento, Cássio Araújo lamenta saída de líderes

A reportagem da Tribuna concedeu o espaço, mas até o fechamento da matéria Cássio não conseguiu entregar a resposta, alegando que ainda estava redigindo o texto com os demais integrantes da diretoria do MUVB, mas que divulgaria o posicionamento do restante do grupo, depois que a resposta fosse aprovada pelo coletivo.

MAURÍCIO SARMENTO

Para Maurício Sarmento, que também é da coordenação do Movimento, “a construção colaborativa do MUVB foi um marco de participação popular na luta contra a Braskem, mas o descontentamento de Alexandre Sampaio por não ser escolhido como coordenador geral ameaçava a unidade”.

“Sua [do Alexandre] campanha divisionista, permeada de hipocrisia e soberba, representa um desafio para os valores que o movimento defende. É crucial superar essas divisões internas para preservar a integridade e o propósito do MUVB. Juntos, podemos prevalecer sobre essas adversidades e avançar em direção aos nossos objetivos comuns”, argumentou Maurício Sarmento.

“Com relação às supostas ameaças sofridas por Alexandre, lhe demos total apoio, inclusive acompanhando-o à delegacia. Um inquérito foi aberto, porém não tive retorno sobre os desdobramentos”, pontuou, acrescentando: “Com relação a página difamatória tiramos os encaminhamentos de formular denúncia na Secretaria de Segurança Pública”.

NEIREVANE NUNES

Ouvida a respeito da sua saída do grupo, a bióloga Neirevane Nunes disse que para ela foi muito doloroso, muito sofrido, mas necessário sair para ter paz. Veja na íntegra o posicionamento dela sobre a carta-renúncia:

“Tomar a decisão de sair do MUVB movimento de luta do qual fui cofundadora e ajudei a construir durante três anos foi muito difícil, mas ao mesmo tempo necessária. Eu me dediquei por completo ao MUVB, deixando de lado meu trabalho, minha saúde, minha família, tanta luta para depois receber desrespeito com ataques e acusações injustas de companheiros de luta fui muito doloroso, tanto que adoeci, passei a fazer terapia, me afastei e ainda passei por uma situação muito séria de saúde que quase ninguém sabe, poucos me procuraram para saber nesse período como eu estava, como também não recebi nenhum pedido de desculpas. Cada um tem o seu limite, eu tenho consciência do que sou, das referências que tenho de meus pais, da história de vida e de luta que tenho que é bem anterior ao crime da Braskem e ao MUVB. A convivência no grupo não estava mais saudável para mim, cada um conhece seus limites”.

Em relação ao empresário Alexandre Sampaio, que também deixou o grupo, ela disse que “fora a ameaça que ele sofreu e que May lembrou que fomos à delegacia, vieram muitos outros ataques pesados através de perfil criado no Instagram e Facebook. Ataques ao Alexandre, ao MUVB e também envolvendo Senador Renan Calheiros. O MUVB emitiu uma Nota em apoio ao Dr. Ricardo Melro que também recebeu ataques nas redes, mas depois de semanas desse perfil atacado Alexandre, não houve uma Nota do MUVB de Repúdio a isso e de apoio ao Alexandre”.

Neirevane encerra sua fala dizendo que tem gratidão e orgulho de tudo que o grupo construiu, mas que se retirou do MUVB, com a cabeça erguida e consciente de que deu o seu melhor. No entanto, continuará na mesma luta como afetada pelo crime da Braskem, através de outros espaços.