Política

Divaldo Suruagy deixou obra que defende a mineração em Maceió

Por Ricardo Rodrigues - colaborador / Tribuna Independente 27/03/2024 09h13
Divaldo Suruagy deixou obra que defende a mineração em Maceió
Em 1982, abriu-se perspectiva para implantação de um pólo cloroquímico em Alagoas, relata livro - Foto: Divulgação

No livro ‘Momentos’, publicado em 1993, o ex-governador Divaldo Suruagy dedica um capítulo à Indústria Química, defende a mineração e confirma que foi um dos mentores da implantação da Salgema em Maceió, nos anos 70. O ensaio tem 16 páginas, mas só nas três últimas páginas, ele aborda a questão local, dizendo que o depoimento dele, sobre a indústria química brasileira, não estaria completo se não se referisse à importância do setor cloroquímico, em território alagoano.

“Com relação a essa última atividade, é indispensável fazer referência ao empreendimento da Salgema, em meu Estado, iniciado em 1972, com um projeto de joint venture entre o BNDE, a Du Pont e o grupo Euvaldo Luz. Em razão do seu pioneirismo e de um tumultuado processo de implantação, a empresa apresentava, em 1980, um alto endividamento e, por consequência, um nível de despesas financeiras que a tornavam deficitária. Nesse ano, o BNDE e a Petroquisa juntas controlavam 94% do seu capital, contra apenas 6% da Du Pont”, escreveu Suruagy.

Segundo o ex-governador, foi a criação da Norquisa que permitiu, em 1981, que se operasse a privatização da empresa, através de uma operação em que o BNDE vendeu suas ações ordinárias à Norquisa, subscrevendo com a importância apurada em igual valor de ações preferenciais.

“Paralelamente, a Copene adquiriu a parcela de capital em puder da Du Pont, aportando novos recursos que permitiram o saneamento financeiro da empresa. Com o capital dividido entre a Norquisa e a Copene, foi possível iniciar o processo de sua consolidação e crescimento que lhe permitiu adquirir, ainda nesse mesmo ano, o controle da Companhia Química de Recôncavo, produtora de soda e cloro, na Bahia. Com esse processo de virtual privatização, a Salgema se transformou na maior produtora de soda/cloro da América Latina, dividindo-se seu capital votante em 35,23% da Copene, 34,33% da Norquisa e 30,32% da Petroquisa”, acrescentou Suruagy.

POLO CLOROQUÍMICO

“Em 1982, a consolidação da Salgema abriu perspectiva para a implantação de um polo cloroquímico em Alagoas, visando não só projetos de química fina, mas também qualquer empreendimento voltado para a obtenção de produtos clorados. Isso nos levou à fundação, nesse mesmo ano, da Cinal – Companhia Industrial de Alagoas, responsável pela implantação da central de utilidades do polo, bem como pela definição de seu complexo básico”, relatou o ex-governador. A Cinal, segundo ele, foi constituída de uma associação entre a Norquisa, a Salgema, o BNDESPAR – que é a empresa de participações do BNDE, que substituiu a Fibasa – e a Codeal – Companhia de Desenvolvimento Econômico de Alagoas.

Alagoas e a “vocação irreversível para cloroquímica”

“O que em Alagoas pôde ser feito em apenas duas gestões, tornando irreversível a definição da vocação de nosso Estado para a cloroquímica, foi igualmente obtido por Pernambuco, durante a gestão do então governador e hoje nosso colega, o senador Marco Maciel, e de seu sucessor, o governador Roberto Magalhães: a implantação de um polo alcoolquímico. As vantagens comparativas de Pernambuco para esse fim não dizem respeito à sua posição de destaque como grande centro de produção alcooleira. Lá funciona, desde 1965, um dos empreendimentos alcoolquímicos pioneiros no País, a Coperbo – Companhia Pernambucana de Borracha, o que lhe deu, seguramente, ao lado da visão de estadista revelada por seu governador, uma posição privilegiada para comandar a reativação da alcooquímica no Brasil”, relatou Suruagy.

“Constituída inicialmente como uma sociedade de economia mista, a Coperbo se transformou, em 1971, em uma sociedade por ações diretamente controlada pela Petroquisa. Em 1981, a criação da Companhia Alcoolquímica Nacional, um empreendimento sob a liderança da Norquisa em associação com a Conepar, uma holding do grupo Econômico e da própria Coperbo, permitiu a definição de um projeto para a produção de ácido acético e do acetato de vinila, que são matérias-primas básicas para a química fina. No ano seguinte, a Coperbo foi privatizada, incorporando a Alcoolquímica, através da permuta proporcional de ações com acionistas externos. Esta transação permitiu que a Norquisa e a Conepar passassem a deter 52% do capital votante da empresa, que, dessa forma, ficou liberada para o eventual e futuro desenvolvimento da química fina”.

Para o ex-governador, “esse conjunto regional de polos cloro e alcoolquímicos, em Alagoas e Pernambuco, se completa no vizinho Estado de Sergipe, com o empreendimento pioneiro da Petrobras no Brasil para a exploração das jazidas de potássio descobertas, a partir das ocorrências petrolíferas das jazidas de Carmópolis, em 1963 e 1964”.

“Todos esses passos, aqui apenas sumariamente indicados, nos dão ideia do que foi a luta para a implantação, expansão e consolidação desses dois setores básicos da indústria química brasileira, materializados, a rigor, num período de menos de vinte e cinco anos”, completou Suruagy.

QUATRO POLOS

“A indústria química brasileira, portanto, se distribui hoje em quatro polos petroquímicos, um polo regional alcooquímico e cloroquímico, abrangendo Bahia, Sergipe, Alagoas e Pernambuco; enquanto a carboquímica brasileira se situa nas áreas produtoras de carvão mineral, notadamente no Rio Grande do Sul, além das áreas em que essa indústria é virtualmente subsidiária do parque siderúrgico nacional, localizado em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, igualmente produtor de fertilizantes naturais”, destacou o ex-governador.

Segundo ele, o patrimônio representando hoje pela indústria química brasileira é de um valor inestimável para a continuidade do desenvolvimento industrial do País. “Parece-me indispensável garantir-lhe condições de expansão e sobrevivência, até mesmo para que o esforço de anos de pesquisa, planejamento e liderança pública nesta área, a que se juntaram pioneiros do setor privado, não se perca, nem se deteriore, gerando, no futuro, dependência externa”, observou.

“A biotecnologia, em que tem relevante papel, a química fina, a tecnologia especial e a de comunicações, depende, para seu desenvolvimento futuro, de contribuições da indústria química em geral. A desejada expansão da fronteira agrícola, por sua vez, não se fará sem que esteja garantido o suprimento de fertilizantes adequados aos solos que ainda estão por ser conquistados ou incorporados como áreas produtivas”.

“Tudo isso justifica, em meu entender, a necessidade de acompanharmos de perto e de maneia sistemática, no Congresso Nacional, os esforços que estão sendo feitos pelo setor público e pelo setor privado, para garantir a continuidade do nosso desenvolvimento”, acrescentou.

“Nós não podemos ficar presos às perplexidades da crise econômica, mesmo se admitirmos que ela é de natureza estrutural. Estrutural e conjuntural, ela tem que ser vencida, e enquanto empregamos nisso o nosso esforço e as nossas energias, não podemos nos descuidar do futuro, dependente, como procurei demonstrar, de ações que têm que ser desenvolvidas hoje, já e agora, para que mais tarde não venhamos a nos lamentar da nossa imprevidência ou da falta de visão dos que são hoje responsáveis pela continuidade do progresso e do desenvolvimento nacionais”, concluiu o ex-governador.