Política

Famílias querem manutenção de mandatos

Estratégia de deputados estaduais é investir no pleito deste ano para reeleger vereadores que tenham mesma ligação familiar

Por Emanuelle Vanderlei - colaboradora / Tribuna Independente 09/03/2024 08h05 - Atualizado em 09/03/2024 11h31
Famílias querem manutenção de mandatos
Zé Márcio Filho e Lelo Maia são exemplos de famílias com força política e representantes na Câmara e ALE - Foto: Adailson Calheiros e Ascom ALE

Em Maceió, é possível encontrar tanto na Câmara de Vereadores quanto na Assembleia Legislativa do Estado (ALE), alguns sobrenomes comuns devidamente ligados à política, exemplos cada vez mais crescentes da participação familiar nas eleições. Na maioria dos casos, são vereadores que crescem, conseguem mandato na ALE, e trazem algum familiar para ocupar a vaga que já “pertence” à família no Legislativo da capital. O contrário também acontece, mas é menos comum.

E como em 2024 o ano é de eleições municipais, as movimentações para manutenção de políticos com os mesmos laços familiares na Câmara de Vereadores já é vista.

Na atual legislatura, por exemplo, há pelo menos cinco nomes com ligação familiar de primeiro grau. O deputado Lelo Maia (União Brasil) é irmão do vereador Zé Marcio Filho (MDB), e ambos são filhos do ex-vereador Zé Márcio. O deputado Dudu Ronalsa (MDB), por sua vez, tem a irmã Gaby Ronalsa (PV) encerrando o mandato de vereadora esse ano. Gaby anunciou que não vai tentar a reeleição, mas os Ronalsa pretendem manter a família na Casa, e já estão trabalhando desde o ano passado o nome do primo Milton. O deputado Marcos Barbosa (Avante) é casado com a vereadora Silvana Barbosa (MDB).

Chico Tenório (PP), deputado em sexto mandato, elegeu como vereadora a filha, Olívia Tenório (MDB). E o deputado Galba Novaes (MDB) deixou a sua vaga de vereador na Câmara para Galba Netto (MDB), que atualmente preside a Casa. Vale ressaltar que a vaga na Câmara Municipal de Maceió foi conquistada primeiro pelo avô do atual presidente da Câmara. Galba Novaes de Castro, que ocupou a cadeira por décadas, deixou a herança para o filho, que já saiu para a ALE e mantém o legado da família.

Sendo o maior colégio eleitoral do Estado, Maceió é um campo estratégico que ajuda não apenas a garantir mais espaço para atuação, e estrutura para acomodar os aliados, mas também a conquistar e manter o mandato de deputado.

Em alguns casos, a atuação da família tanto na Câmara quanto na ALE ocupa a mesma posição no jogo político de Alagoas. É o caso de Zé Marcio e Lelo Maia, que estão alinhados com o grupo dos Calheiros e do governador Paulo Dantas, do MDB.

Já em outros casos, a estratégia é “deixar um pé em cada barco”. Os Tenório, por exemplo, não fazem oposição em nenhuma das Casas. Chico está na bancada do governador, enquanto Olívia fortalece a bancada do prefeito JHC.

Vereador considera importante as lideranças terem espaços no Legislativo

Na opinião do vereador Zé Márcio Filho (MDB), é esperado que as lideranças em Maceió tenham o seu espaço na Assembleia Legislativa do Estado (ALE).

“É normal, aqui tem 25 vereadores, é natural que alguns desses vereadores busquem a Assembleia do Estado. Não tem prefeitos de regiões como Junqueiro, aquela região ali, que tem representante na Assembleia? Não tem Arapiraca que tem representante na Assembleia? Não tem o Sertão que tem representante na Assembleia? Então, é natural que a capital, Maceió, por ser a principal cidade do estado, também tenha a representação da Assembleia”, argumenta o vereador.

No caso dele, a atuação da família nas na Câmara de Maceió e na ALE normalmente tem muitas situações compartilhadas. “O mandato dele, lógico, tem muito a ver com o meu. Ele fortalece demais o meu mandato em Maceió. A gente tem muitas pautas que são conjuntas, a pauta da saúde, por exemplo, é uma pauta que é conjunta da gente. A mobilidade urbana também. Mas tem algumas pautas dele que são pautas específicas dele, que ele também tem um brilho próprio”.

Segundo ele, há iniciativas que partem dos dois lados e são compartilhadas. “A pauta da saúde, por exemplo, começou por mim. O Lelo abraçou a saúde através de mim, porque eu venho fazendo trabalho na saúde há mais de 10 anos, eu foquei na parte de saúde. Ele ajuda a gente com mais recurso, trouxe essa pauta para o Estado. Então, acaba que fortalece o mandato automaticamente, ele como deputado estadual também cobrando ações específicas para o povo que a gente atende”.

Por outro lado, isso limita algumas escolhas na atuação. “A gente tenta ter uma coerência política. Eu era da base do prefeito JHC, por que eu saí da base do prefeito JHC? Porque o Lelo estava na base do governo, e estava muito complicado para a gente explicar ao nosso eleitor essa via de mão dupla. Não estavam conseguindo entender por que ele estava em um lugar e eu estava em outro. Como a gente tem um mandato muito forte em relação à conjuntura, a discutimos juntos e sem impedir, lógico, de que ele também tem as pautas individuais dele, eu também tenho minhas pautas individuais”.

Essas relações entre a Câmara de Vereadores de Maceió e a Assembleia Legislativa do Estado podem até ser ampliadas nas eleições deste ano. O deputado Cabo Bebeto (PL), por exemplo, já tem filho o Caio Bebeto atuando na gestão municipal de Maceió como secretário. Ele deve disputar também uma vaga na Casa. Outro caso é o deputado Silvio Camelo (PV), que deve lançar o filho Silvio Sampaio Camelo candidato a vereador em 2024.