Política

Apoiadores de Bolsonaro fazem ato na Avenida Paulista

Manifestação foi convocada pelo ex-presidente em meio às investigações sobre a participação dele em uma tentativa de golpe de Estado

Por G1 25/02/2024 16h08
Apoiadores de Bolsonaro fazem ato na Avenida Paulista
Apoiadores de Jair Bolsonaro se reúnem na Avenida Paulista em manifestação convocada pelo ex-presidente para este domingo (25) - Foto: G1

Apoiadores de Jair Bolsonaro (PL) fazem um ato neste domingo (25) na Avenida Paulista em defesa do ex-presidente, investigado pela Polícia Federal por uma tentativa de golpe de Estado para mantê-lo no poder e evitar a eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Bolsonaro chegou à Paulista de carro junto com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).

Também participam do ato a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, os governadores de Minas Gerais Romeu Zema (Novo), de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), de Santa Catarina, Jorginho Mello (PL), além de parlamentares aliados e do pastor Silas Malafaia.

Por volta de 14h30, o ato ocupava três quarteirões e meio. A Polícia  Militar mobilizou 2 mil homens para fazer a segurança na Paulista.

O ex-presidente deve discursar em um carro de som estacionado perto do Museu de Arte de São Paulo (Masp).

O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, alvo de operação da PF na investigação sobre a tentativa de golpe e preso em flagrante no dia 8 por estar com uma arma irregular e com uma pepita de ouro, discursou mais cedo no carro de som e disse que, graças aos eleitores de Bolsonaro, o PL se tornou o "maior partido do Brasil".

Devido às investigações, Bolsonaro e Valdemar não podem manter contato, por ordem do Supremo Tribunal Federal (STF).

Michelle fez um discurso de motivação religiosa. Ex-ministro de Bolsonaro e eleito governador de SP com o apoio dele,  Tarcísio de Freitas agradeceu o ex-presidente, a quem chamou de amigo.

"Eu não vou chamar nem de presidente agora, vou chamar de Bolsonaro, meu  amigo Bolsonaro. Você não é mais um CPF, você não é mais uma pessoa,  você representa um movimento", afirmou.

Tarcísio também fez elogios ao governo de Bolsonaro e disse que o público "estava com saudade de vestir o verde e amarelo."

Bolsonaro está inelegível até 2030 por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Foram duas condenações: a
primeira pelos ataques sem provas ao sistema eleitoral durante reunião  com embaixadores no Palácio da Alvorada em julho de 2022; A segunda, por abuso de poder político e econômico durante as celebrações dos 200 anos da independência.

Camisetas amarelas

Os apoiadores do ex-presidente chegaram ao local nas primeiras horas da manhã, com bandeiras do Brasil e camisetas amarelas.

Alguns portavam bandeiras de Israel. Na última semana, o governo de Benjamin Netanyahu foi criticado por Lula, que chamou de genocídio a morte de palestinos  em Gaza e comparou as ações do Exército israelense ao extermínio de  judeus por nazistas no Holocausto. Em resposta, Israel declarou Lula “persona non grata”, o que significa que sua presença não é bem-vinda.

Alguns apoiadores levaram cartazes contrários ao comunismo e com lemas em defesa da pátria e da família.

Estavam presentes: Jair Bolsonaro, a ex-primeira-dama Michelle e o pastor Silas Malafaia; os governadores de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos); Minas  Gerais, Romeu Zema (Novo), Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil); e Santa Catarina, Jorginho Mello (PL); o presidente do PL, Valdemar da Costa  Neto – ele discursou antes da chegada de Bolsonaro; os deputados federais Gustavo Gayer (PL-GO) , Nikolas Ferreira (PL-GO) e Carla Zambelli (PL-SP); o senador Magno Malta (PL-ES); o ex-deputado federal  João Roma (PL); e outros.

Investigação da PF


Bolsonaro foi um dos alvos da operação Tempus Veritatis, deflagrada pela PF há duas semanas. De acordo com as investigações, o  ex-presidente, alguns de seus ex-ministros e militares se organizaram para tentar um golpe de Estado e impedir a chegada de Lula ao poder.

Esse plano incluía, de acordo com as investigações: desacreditar o sistema eleitoral e as urnas eletrônicas com a disseminação de conteúdos falsos;  fomentar, planejar e executar atos antidemocráticos, com acampamentos em frente a quartéis do Exército;  monitorar opositores e autoridades, entre elas o ministro Alexandre de Moraes, do STF;  elaborar documentos que pudessem fundamentar juridicamente iniciativas golpistas;  incitar militares a aderirem ao golpe e pressionar aqueles que fossem contrários.

Os advogados de Bolsonaro afirmam que ele nunca pensou em golpe e que prestará depoimento às autoridades quando tiver acesso à investigação.

O ex-presidente teve que entregar seu passaporte às autoridades e está proibido de manter contato com os outros investigados, entre eles o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, e os ex-ministros Braga Netto e  Augusto Heleno, que são generais do Exército.

A reunião

As investigações da PF revelaram que Bolsonaro, ainda no cargo, recebeu e pediu ajustes na minuta do golpe,
um documento elaborado com o objetivo de anular o resultado da eleição  vencida por Lula e que também previa a prisão de Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Uma cópia da minuta foi apreendida na casa do ex-ministro da Justiça Anderson Torres.

A PF descobriu também um vídeo de uma reunião ministerial realizada em 5 de julho de 2022, três meses da eleição, na qual Bolsonaro e seus então ministros  discutiram ações para evitar a vitória de Lula. Essa gravação foi encontrada no computador de Mauro Cid, ex-ajudante de Bolsonaro que está colaborando com as investigações.

Na reunião, Bolsonaro disse aos ministros que eles não poderiam esperar o resultado da eleição para agir. Segundo a PF, o então presidente  exigiu que seus ministros — "em total desvio de finalidade das funções
do cargo" — deveriam promover e replicar todas as desinformações e  notícias fraudulentas quanto à lisura do sistema de votação, com uso da  estrutura do Estado brasileiro para "fins ilícitos e dissociados do  interesse público".

Ainda de acordo com a PF, na reunião o então ministro chefe do GSI,  general Augusto Heleno, afirmou que conversou com o diretor-adjunto da  Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para infiltrar agentes nas  campanhas eleitorais.

Veja abaixo o que mais as investigações da PF revelaram:

Bolsonaro discutiu o teor da minuta do golpe e pediu ajustes. A versão inicial  previa a prisão dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar  Mendes e Alexandre de Moraes, além do presidente do Senado, Rodrigo
Pacheco, mas Bolsonaro pediu que os nomes de Pacheco e Gilmar fossem  retirados do documento. Ele também quis que fosse mantido o trecho que previa a realização de novas eleições.  Após as mudanças, Bolsonaro convocou generais e comandantes das Forças Armadas para apresentar a minuta e pressioná-los a aderir ao golpe.  O  governo Bolsonaro mantinha uma estrutura de inteligência paralela que  monitorava a agenda de autoridades e era comandada pelo ex-assessor  especial de Bolsonaro Marcelo Câmara.

Uma das agendas acompanhadas em tempo integral era a de Alexandre de Moraes para, caso  fosse dado o golpe militar, ele pudesse ser preso. Segundo as investigações, Marcelo Câmara já tinha o "itinerário exato de  deslocamento do ministro" nas semanas finais de dezembro de 2022. Militares da ativa pressionaram colegas contrários ao golpe para tentar fazê-los  aderir ao movimento. Em uma das conversas captadas pela PF, o general
Braga Netto, ex-ministro da Defesa, chegou a chamar o comandante do Exército, general Freire Gomes, de "cagão".  Bolsonaro convocou uma reunião em julho de 2022 com a alta cúpula do governo, incluindo o então ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, para  discutir estratégias que assegurassem a sua vitória nas eleições.

Na  ocasião, o general Augusto Heleno, que chefiava o Gabinete de Segurança  Institucional (GSI), defendeu que, se tivesse que "virar a mesa", que fosse "antes das eleições". A PF encontrou um vídeo da reunião em um computador apreendido na casa de Mauro Cid.  Em dezembro de 2022, o então chefe do Comando de Operações Terrestres do  Exército, general Estevam Cals Theóphilo Gaspar de Oliveira, se reuniu  com Bolsonaro no Palácio da Alvorada e disse que colocaria as tropas  especiais nas ruas se ele assinasse a minuta do golpe.

O grupo agia em seis núcleos para organizar uma tentativa de golpe de Estado. Entenda aqui como, segundo a PF, eles estavam articulados.  A organização tinha cinco eixos de atuação: 1 - ataques virtuais a  opositores; 2 - ataques às instituições (STF e TSE) e ao sistema  eleitoral; 3 - tentativa de golpe de estado; 4 - ataques às vacinas  contra a Covid-19; e 5 - uso da estrutura do estado para obter  vantagens, como desvios de bens, a exemplo do caso das joias.  Pessoas muito próximas a Bolsonaro, como Mauro Cid, ajudaram a articular e financiar os atos golpistas que levaram à invasão e depredação das sedes dos Três Poderes em 8 de janeiro. Ele deu orientações e chegou a receber de um major do Exército  pedido de R$ 100 mil para ajudar na organização dos atos em Brasília.

Em outra frente, o PL, partido de Bolsonaro, foi usado para financiar  narrativas que atacavam as urnas eletrônicas. O ápice dessa estratégia  foi a apresentação de um estudo questionando o resultado da eleição.
Na sede da legenda, os policiais encontraram um documento com argumentos para decretação do estado de sítio. O advogado Fábio Wajngarten, que representa Bolsonaro, disse que o  "padrão do conteúdo não condiz com as tradicionais e reconhecidas falas e frases do presidente". Afirmou ainda que "não tem limite a vontade de  tentar trazer o Presidente Jair Bolsonaro para um cenário político que ele jamais concordou".