Política

Eleger mulheres continua sendo o maior desafio dos partidos em Alagoas

Maioria do eleitorado, elas ainda têm pouca representatividade nos espaços de decisão

Por Emanuelle Vanderlei - colaboradora / Tribuna Independente 30/12/2023 08h00 - Atualizado em 30/12/2023 09h11
Eleger mulheres continua sendo o maior desafio dos partidos em Alagoas
Deputada Cibele Moura é uma das seis representantes na ALE e defende um movimento partidário para eleger mais mulheres em cargos eletivos - Foto: Assessoria

Apesar da perceptível mudança nos discursos e de a maioria dos partidos demonstrar uma preocupação de incluir direitos das mulheres na pauta, a realidade em Alagoas ainda é de um baixo índice de mulheres eleitas atuando nos cargos legislativos e executivos. Com disputa de 2024 se aproximando, o quadro precisa de ações mais efetivas para ser transformado.

De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), 53% do eleitorado de Alagoas é formado por mulheres em 2022. Mas ao abrir as urnas, a realidade foi de zero representatividade no Congresso Nacional, já que não temos hoje nenhuma deputada federal nem senadora, e poucas na Assembleia Legislativa Estadual. São apenas seis mulheres com mandato de deputada estadual, menos de um terço dos parlamentares.

Na Câmara Municipal a situação se repete, são quatro vereadoras na atual legislatura. Gaby Ronalsa (PV), Olivia Tenório (MDB), Silvania Barbosa (MDB) e Teca Nelma (PSD). Para o próximo pleito Gaby já anunciou que não disputa a reeleição e que apoiará a candidatura do irmão Milton Ronalsa (PSB). Considerando a possibilidade de renovações dos mandatos, isso pode reduzir ainda mais a presença feminina na Casa.

No MDB, a deputada Cibele Moura defende que seja feito um movimento para eleger mulheres. “Acredito na força da mulher sempre e sei que o MDB tem um quadro com mulheres extremamente competentes e com vontade em lutar, não só aqui em Maceió, como nos municípios alagoanos. Acredito que com muito diálogo partidário formaremos chapas que farão toda a diferença nas eleições municipais”.

Segundo ela, o trabalho a ser feito é prioritariamente de conscientização. “O primeiro passo é reconhecer a disparidade e a necessidade de mudanças. Hoje, as mulheres têm alguns mecanismos que garantem suas candidaturas e, de certa forma, ajudam nessa luta pela eleição a cargos públicos. Porém, o caminho ainda é longo. Precisamos que a população enxergue o potencial das mulheres, que suas candidaturas sejam vistas com seriedade, e não apenas cotas a serem preenchidas. É uma batalha diária e, pouco a pouco, estamos conquistando avanços, mas a luta não vai parar até que mais mulheres ocupem os espaços de poder”.

Cibele Moura acredita que essa baixa representatividade é uma questão cultural e que os papéis que a mulher exerce na vida privada dificultam. “Em todas as esferas políticas, a representação feminina está aquém do necessário. Um dos fatores para a sub-representação é o fato de que muitas mulheres têm jornada dupla de trabalho, precisam cuidar de seus lares, de suas famílias, e acabam forçadas a se afastar da esfera política. É uma estrutura social que está enraizada em nossa sociedade, o que resulta no pensamento, entre as próprias mulheres, de que ‘lugar de mulher não é na política’”.

A deputada estadual acredita que as coisas já estão avançando. “Com essa nova geração, fico feliz em ver que o pensamento está mudando. Cada vez mais, nossas meninas entram no meio político, expõem suas opiniões e lutam pela mudança que querem ver”.

No Partido dos Trabalhadores (PT), a participação das mulheres é uma das pautas prioritárias tanto no discurso quanto em algumas legislações próprias, como ressalta o presidente do diretório municipal de Maceió, Marcelo Nascimento. “O PT foi o primeiro partido político no Brasil que garantiu estatutariamente a paridade de gênero em todas as instâncias internas. Desde o diretório nacional, passando pelos diretórios estaduais, até o municipais então leva muito a sério a questão da igualdade de gênero”.

Segundo Nascimento, os preparativos para as eleições 2024 já foram iniciados no partido e há candidaturas de mulheres entre as prioritárias para a Câmara de Maceió. “Desde dezembro do ano passado que nós estamos montando a chapa do PT, embora nessa nova configuração o PT faz parte de uma federação junto com o PV e o PC do B. Então a chapa será compartilhada. Mas o PT já identificou cerca de 10 mulheres que serão candidatas a vereadora de Maceió. Elas já estão passando por um processo de preparação política técnica, de planejamento das suas candidaturas, preparação do seu marketing eleitoral para quando efetivamente começar o calendário eleitoral, elas já terem um planejamento para colocar em prática com recurso do fundo eleitoral que está assegurado às mulheres”.

PT garante prioridade na construção de candidaturas femininas

Ainda no Partido dos Trabalhadores (PT) em Alagoas, o presidente do diretório em Maceió, Marcelo Nascimento, garante que haverá mulheres entre as prioridades do partido na campanha. “Em torno de três candidatas deverão ser a prioridade número 1 ou número 2. Tem mulheres que já tem uma caminhada política de mais de uma década, com candidaturas, com inserção nos movimentos sociais, vem acumulando capital político de outras eleições. Todo esse histórico contribui para que, através de uma avaliação objetiva e subjetiva, a gente possa elencar algumas mulheres na condição de candidaturas prioritárias”.

Nascimento reconhece que ainda assim, a política ainda é um espaço hostil para as mulheres. “É claro que é uma luta, porque nós historicamente herdamos uma cultura machista patriarcal, onde as mulheres sempre foram colocadas num lugar secundário, e na política não é diferente porque a política ainda é uma atividade majoritariamente patriarcal”.

E reafirma o compromisso do partido e fala sobre estratégias adotadas. “Essa luta pela emancipação, pela paridade de gênero das mulheres no PT e na política como todo é uma das prioridades, uma das bandeiras de luta do Partido dos Trabalhadores. Foi criado um projeto chamado de Elas por Elas, que já vem funcionando desde a eleição de 2020 e é um projeto basicamente que funciona não só no período eleitoral, mas ele antecipa o período eleitoral preparando mulheres candidatas identificando companheiras que possam ir para a disputa com viabilidade eleitoral no mesmo pé de igualdade dos candidatos homens”.

Reconhecendo que os investimentos nas eleições fazem parte das obrigações legais, o petista garante que faz a sua parte além disso. “Na prática nós investimos o percentual financeiro já estabelecido pela justiça eleitoral, mas internamente, independente do período eleitoral, há um investimento real nos quadros femininos, para que possam se preparar e ter condições de disputar com viabilidade”