Política

Audiência na ALE destaca necessidade de investimentos contra tragédias

Proposta pela deputada Fatima Canuto (MDB), a sessão teve o objetivo de debater soluções que evitem os danos causados pelas chuvas anualmente

Por Valdirene Leão 18/09/2023 16h14 - Atualizado em 19/09/2023 09h17
Audiência na ALE destaca necessidade de investimentos contra tragédias
Audiência pública na Assembleia Legislativa - Foto: Edilson Omena

Uma audiência pública realizada na manhã desta segunda-feira (18) na Assembleia Legislativa de Alagoas (ALE) destacou a necessidade de criar um programa para aproveitamento da água em Alagoas. Proposta pela deputada Fatima Canuto (MDB), a sessão teve o objetivo de debater soluções que evitem os danos causados pelas chuvas anualmente e também discutir questões sobre a seca que atinge o estado. Participaram técnicos, engenheiros, entidades e associações, com o objetivo de elaborar um projeto para que sejam dados encaminhamentos efetivos.

O engenheiro Alex Gama apresentou um projeto cujo objetivo é ampliar a disponibilidade hídrica por meio de ações físicas, recuperação e construção de reservatórios com barragens. O projeto prevê a armazenagem de chuvas no inverno para combater a seca em Alagoas no período de estiagem. Ele relembrou que, em 2010, após vários anos, conseguiu estruturar junto com outros colegas de trabalho o programa chamado ProHidro, que traz um mapa de precipitações médias no estado, com as regiões do Agreste, Sertão, Zona da Mata, tendo uma distribuição das chuvas em todo o território alagoano.

“A estratégia do ProHidro é simples e de desenvolvimento econômico, com o aproveitamento das águas de chuva, que a gente poderia estar armazenando no inverno para usar no verão, então nós teríamos de março a setembro o período chuvoso, quando a gente poderia estar guardando um volume de água do desenvolvimento econômico, para usar a partir do mês de setembro, outubro, até abril do ano seguinte. São em média de 180 a 210 dias de período de estiagem onde se pode usar essa água”, frisa Alex Gama.

A deputada Fátima Canuto destacou que da audiência devem sair algumas propostas para resolver, através de políticas públicas, os problemas de cheias e enchentes no estado de Alagoas. “Que não só tem dado prejuízos financeiros e econômicos ao estado de Alagoas, até perdido vidas”, salienta ela.

Deputada estadual Fátima Canuto (Foto: Edilson Omena)

“Daqui sairá um documento, junto com essas reuniões que faremos posteriormente regionalmente. Alguns municípios já estão dispostos a fazer [reunião], como Pilar, Cajueiro, União dos Palmares e o Alto Sertão alagoano, para que seja feito um documento final técnico para ser entregue às autoridades competentes: Governo do Estado, senadores, para que daí pra frente a gente possa fazer políticas efetivas para acabar de vez com essas enchentes recorrentes no estado de Alagoas”, reforça a deputada.

Fátima Canuto afirmou ainda que aparentemente há soluções que não são tão caras, mas que podem mudar a vida dos alagoanos. “Então é hora de escutar esses técnicos, que são professores, muito deles doutores, pesquisadores, que vão trazer essas soluções.”

O professor da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) Fernando Pinto, especialista em Hidrografia e Meio Ambiente, identifica a origem dos problemas. “O maior problema que nós temos hoje é que temos uma vazão hídrica muito forte de eventos críticos de precipitação dentro das zonas urbanas. Esses eventos críticos geram tragédias, como a gente já viu no Rio de Janeiro em 2011, onde morreram mais de mil pessoas. Foi a maior tragédia climática da história do Brasil e de todas as zonas urbanas de uma maneira geral, algumas mais.”

Sobre a capital, a situação é mais específica, segundo Fernando Pinto. “Mas no caso de Maceió, temos 15 pontos de alagamentos, 200 pontos de lona, que são encostas com perigo de desmoronamento. Nós temos aí uma situação muito grave, que são as áreas impermeabilizadas dentro da cidade. Elas não permitem a infiltração da água. Então a gente precisa desobstruir essas áreas, fazer com que a gente tenha uma política de educação ambiental pra população para que não jogue lixo na rua, pra não tamponar os bueiros e criar uma infraestrutura que dê vazão e suporte a esses eventos críticos de precipitação, que são chuvas muito intensas."

O professor avalia que esses eventos exigem um planejamento maior. “Prevejo assim um planejamento de 4 anos. Criar uma infraestrutura hídrica que suporte em torno de 200 m³/s nas galerias de águas pluviais de Maceió. Precisa associar todas as forças políticas do estado e dos municípios. Todos juntos nessa tarefa de socorrer as populações mais carentes, que estão à mercê desses eventos climáticos, porque moram em encostas por uma situação social precária”.

Vladimir Caramori, professor da Ufal, explica a ligação entre a cheia e a estiagem. “Por se tratarem de eventos climáticos extremos, nos quais não tem como brigar com eles, a gente tem que aprender a conviver com eles e minimizar os riscos, aos quais a gente está sujeito.”

Região metropolitana de Maceió

O debate ocorrido nesta segunda-feira (18) vem um ano após a Cooperativa dos Jornalistas e Gráficos (Jorgraf) iniciar a discussão sobre os desafios na região metropolitana de Maceió. De maio a agosto de 2022, os ciclos de debates discutiram ações de segurança hídrica e desenvolvimento econômico, águas subterrâneas e suas relações com as da superfície (rios e sistema lagunar), gestão de resíduos sólidos, integração de políticas de saneamento e gestão de recursos hídricos.

Um dos participantes da audiência pública, Alex Gama, foi um dos participantes dos ciclos de debates promovidos pela Jorgraf com a parceria da empresa GQTech.

Alex Gama na audiência pública (Foto: Edilson Omena)

Ele é mestre em Engenharia de Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e ex-secretário de Estado de Recursos Hídricos de Alagoas e já dizia em entrevista à Tribuna Independente em maio de 2022: "O pensamento de uma região metropolitana, como a de Maceió e seu entorno, com densidade habitacional alta, tem que se dar a partir de sua bacia hidrográfica. Temos que olhar as demandas dessa região, por meio de um planejamento dos recursos hídricos. Quando a gente fecha o ciclo de visão das cidades que compõem a região e esquece a dimensão da bacia hidrográfica, é possível que tenhamos problemas no atendimento às demandas", destacou à época.