Política

Renan Filho sinaliza um cenário eleitoral áspero contra Arthur Lira

Ministro endossa coro liderado pelo senador Renan Calheiros para tentar desgastar presidente da Câmara

Por Emanuelle Vanderlei – colaboradora com Tribuna Independente 26/08/2023 08h04
Renan Filho sinaliza um cenário eleitoral áspero contra Arthur Lira
Ministro Renan Filho lembrou que já rivalizou em todas as eleições contra o deputado federal Arthur Lira e seu grupo político e não será diferente nas eleições municipais em 2024 - Foto: Sandro Lima e Divulgação

A rivalidade declarada entre o senador Renan Calheiros (MDB) e o atual presidente da Câmara dos deputados Arthur Lira (PP) é uma situação já conhecida pelos alagoanos. Em lados opostos da política no estado, a troca de acusações e críticas já é conhecida nacionalmente. Agora, a disputa começa a se potencializar graças ao posicionamento na última semana de mais um personagem importante que é Renan Filho (MDB), atual ministro dos Transportes do governo Lula (PT) e senador licenciado.

Renan Filho tem se destacado como um dos mais atuantes do governo do PT, e com isso ganha uma visibilidade que ultrapassa os limites da Terra dos Marechais. Diferentemente do pai, ele costuma ser mais comedido com as palavras e não profere declarações diretamente acusatórias contra o presidente da Câmara dos Deputados.

No entanto, a última semana foi marcada pela repercussão de uma entrevista concedida por ele ao programa Roda Viva, da TV Cultura, conhecido por pautar o debate nacional com figuras de grande visibilidade no momento. Lira, por exemplo, foi entrevistado no dia 31 de julho deste ano.

Em resposta a uma pergunta da jornalista Vera Magalhães sobre a possível entrada de Arthur Lira no governo, Renan Filho fez questão de esclarecer a relação que tem com Lira. “Primeiramente eu queria dizer que não me considero inimigo de ninguém, nem político nem de maneira geral. Adversário do Arthur Lira eu sou mesmo, disputei com ele todas as últimas eleições em Alagoas, e por isso sou adversário político e penso diferente dele muitas coisas e costumo dizer, sobretudo lá. Agora no ministério do presidente Lula eu tenho trabalhado para que o governo tenha condição de aprovar as suas pautas no congresso, eu sou ministro de uma área técnica, não política”.

A realidade é que os Calheiros demonstram claro desconforto com negociação entre governo e Centrão, que é praticamente encabeçado pelo maior adversário político do grupo que eles comandam em Alagoas.

A tentativa clara de desgastar a imagem do deputado do PP teria alguns objetivos. Um deles seria enfraquecer sua atuação no congresso nacional, e talvez até atrapalhar os planos de fazer um sucessor na presidência da câmara.

A correlação de forças que está sendo desenhada em Brasília acaba transformando Alagoas em um pequeno estado com importância política diferenciada. Basta observar como a distribuição de cargos federais aqui no estado se tornou um jogo de xadrez, estando até agora com muitas nomeações em aberto.

Na avaliação da cientista política Luciana Santana, os dois lados deveriam buscar um entendimento em nome da governabilidade.

“Enfim, a gente sabe que é uma rixa local, ou seja, está localizada aqui em Alagoas, uma disputa de poder, de força política dentro do Estado, e que realmente tem sido nacionalizada porque ambos são atores políticos que têm uma expressão nacional, que estão em posições ali de força. Isso, de alguma maneira, pode sim potencializar problemas na coordenação da coalizão de governo. Então o ideal seria que houvesse ali. A despeito dos problemas que existem entre ambos, que houvesse ali um espírito mais colaborativo em questões que são de interesse do governo. Então, isso seria o desejável”.

Sobre a sucessão da Câmara dos Deputados, a cientista política entende que não tem como saber ainda. “Acho que está cedo para se discutir. Isso vai ser só em 2025, a gente ainda tem muita coisa para acontecer até lá, mas hoje Arthur Lira, ele tem uma situação muito tranquila de fazer o sucessor na Câmara dos Deputados. Agora, se isso vai beneficiar ou não Alagoas, depende muito, não é uma coisa que a gente pode dizer que tão de forma tão assertiva. Com certeza, se for um nome indicado por Arthur Lira, as chances dos benefícios serem mantidos no Estado são maiores, mas é um jogo que é jogado com vários atores políticos, com muitos jogadores, então é difícil você prever o que vai acontecer no futuro. Mas claro que é desejável que atores políticos de Alagoas tenham essa força política nacional, estejam ali bem-posicionados nesse cenário político”.

Já na seara local, com as articulações para as eleições municipais a pleno vapor, Renan está se preparando para disputar um espaço que tem sido o forte de Arthur Lira, as prefeituras.

“Os parlamentares têm um peso interno nas eleições municipais. E aí, claro, essas lideranças políticas vão, de alguma maneira, tentar ampliar suas bases nas prefeituras, buscando obter mais vitórias em prefeituras do que já tem, ou tentar manter as que têm. E aí é uma coisa muito interna mesmo, não acho que a rixa que vem se nacionalizando vá prejudicar. Isso aí são questões internas, questões locais que precisam ser resolvidas no âmbito local”.