Política

Corregedoria investiga policial aliado de Arthur Lira

Bilionário, Murilo Sergio Jucá Nogueira Junior é apontado como sócio oculto do deputado

Por Ricardo Rodrigues - colaborador com Tribuna Independente 16/06/2023 09h35 - Atualizado em 16/06/2023 15h09
Corregedoria investiga policial aliado de Arthur Lira
Nome de Murilo Jucá veio à tona na operação da Polícia Federal que investigou desvio de recursos do Fundo de Desenvolvimento da Educação - Foto: Divulgação

A Secretaria de Segurança Pública de Alagoas (SSP/AL) informou ontem (15/6), por meio da sua assessoria de comunicação, que o policial civil Murilo Sergio Jucá Nogueira Junior, apontado como “laranja” do deputado federal Arthur Lira (PP), está sendo investigado pela Corregedoria da Polícia Civil.

“A Delegacia Geral da Polícia Civil determinou que a Corregedoria da instituição apure o caso”, afirmou a assessoria de comunicação da SSP/AL, acrescentando que, por enquanto, o policial civil Murilo Sérgio Jucá Nogueira Júnior continuará em serviço, respondendo pelas acusações em liberdade.

O nome de Murilo Jucá veio à tona durante a operação da Polícia Federal, que investigou desvio de recursos do Fundo de Desenvolvimento da Educação (FNDE), na compra superfaturada de equipamentos de robótica. Ele acusado de participação no esquema, de ser o dono do cofre encontrado com cerca de R$ 4 milhões em Maceió e ter lavado dinheiro até para integrantes da facção criminosa PCC, em Alagoas.

A agência de notícias Sportlight publicou esta semana uma reportagem bombástica sobre o policial civil alagoano, aliado bilionário de Arthur Lira, o líder do Centrão – maior bloco partidário em atuação no Congresso Nacional.

“Apesar de ser um bilionário com inúmeros contratos governamentais, propriedades imobiliárias e sete empresas, Murilo Jucá ainda trabalha como policial civil na Central de Flagrantes, no bairro do Farol, em Maceió, com salário bruto de R$ 10.531,82”.

Ainda de acordo com a reportagem, Murilo Jucá ganha dinheiro mesmo como “empresário” e empresando o nome para lavagem de dinheiro. A ligação dele com o presidente da Câmara dos Deputados vai além da amizade. No pleito de 2002, ele teria feito uma doação generosa à campanha eleitoral de Arthur Lira, no pleito de 2022.

R$ 1 bilhão

“Com a influência de Lira, o policial teria arrecadado cerca de R$ 1 bilhão em contratos com a administração pública; comprado uma fazenda de 1 milhão de metros quadrados e uma mansão na Praia da Barra de São Miguel, cujos donos da casa seriam ligados ao PCC”.

Assinada pelo jornalista Lúcio de Castro, a matéria da Agência Sportlight apresenta cifras e informações detalhadas sobre o patrimônio do policial alagoano e sua rede de influência junto às organizações governamentais.

“Ele é acusado de ter faturado mais de R$ 1 bilhão, em contratos com governos estaduais, prefeituras e a União. Uma fazenda recém adquirida com 1 milhão de metros quadrados, equivalentes a 100 hectares. Uma mansão em praia paradisíaca. Sete empresas com capital total de R$ 23 milhões”.

A reportagem mostra ainda que os bens em nome de Murilo Sergio Jucá Nogueira Júnior não deixam dúvidas: “trata-se de um bilionário. Ao menos, considerando o que consta no nome dele”.

Na matéria, há informações até sobre a rotina do policial. A rigor, como agente de polícia ele teria que trabalhar 12 dias por mês dentro de uma delegacia, em plantões de 24 horas, que começam às 7h e só terminam no mesmo horário da manhã seguinte. “Com adicional noturno, o salário bruto do policial de 1 bilhão chega a R$ 10.531,82. Em maio, o valor da remuneração líquida ficou em R$ 7.629,72”.

“Operação Hefesto” encontra R$ 4,4 milhões em endereço de Murilo

“No último dia 1º de junho, algumas luzes começaram a ser jogadas sobre esse misterioso personagem. Durante a “Operação Hefesto”, deflagrada pela polícia federal (PF) para cumprir mandados de prisão e de busca e apreensão, foram encontrados R$ 4,4 milhões em dinheiro vivo em cofre num endereço ligado a Mário Sérgio Jucá”, acrescentou o jornalista que assina a matéria.

Segundo ele, o objetivo da operação era aprofundar as investigações sobre os desvios em contratos para a compra superfaturada de kits de robótica com dinheiro do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação).

De acordo com a PF, o policial civil teria recebido R$ 550 mil do empresário Edmundo Catunda, pai do vereador por Maceió João Catunda, sócio da empresa Megalic e aliado do presidente da Câmara Federal, Arthur Lira.

CARREIRA POLICIAL

Murilo Jucá não abandonou a carreira policial, mesmo tendo faturado como empresário, ao longo dos anos, cerca de R$ 1 bilhão, em contratos com diferentes governos, por meio de suas empresas. “Nem mesmo diante dos estressantes plantões de 24 na Central de Flagrantes de Maceió, maior delegacia das Alagoas, iniciados em 11 de agosto de 2003, quando foi admitido na corporação”.

Segundo o autor da matéria, em 2005, foi aberta a primeira das sete empresas que aparecem em seu nome. A partir daí ele consegue os primeiros contratos com entres governamentais. “Vinte anos depois, coleciona contratos com diferentes esferas de governo. A maior parte desses contratos foi obtida nos últimos quatro anos”.

Embora tenha negócios em outros Estados, é em Alagoas que ele encontra maior campo para seus esquemas. “Com o governo do Estado de Alagoas, nossa reportagem encontrou, através de fontes públicas, R$ 372.659.539,15 milhões, em contratos”.

O repórter detalha que uma parte desses contratos é com a BRA Serviços Administrativos, mas a maior parte pertence à Reluzir Serviços Terceirizados. “A imensa maioria dessas verbas vem da Secretaria de Saúde, via Fundo Estadual de Saúde”, em contratos para prestação de serviços de limpeza e conservação.

“No governo federal, as empresas de Murilo Jucá têm no total R$ 49.940.983.59 milhões, a maior parte entre a BRA Serviços e o MEC. Também podem ser encontrados acordos com a Reluzir e com a Ancol Anjos Engenharia”, acrescentou.

Suspeito teria contratos milionários com a Prefeitura de Maceió e DF

No Distrito Federal, segundo a agência de notícias, o governo de Ibaneis Rocha tem sido pródigo em contratar os serviços de Murilo Jucá. “Em seu mandato, encontramos R$ 346.630.561,16 milhões, todos através da BRA Serviços Administrativos”, detalhou a reportagem da Agência Sportlight.
Segundo a reportagem, Murilo Jucá teria também contratos com a prefeitura de Maceió, cujos valores somam R$ 80.942.377,34, via BRA Serviços. Entre 2022 e 2023.

“Com o governo de Santa Catarina, embora a reportagem não tenha encontrado lançado o valor no portal da transparência, identificamos via Diário Oficial do Estado ao menos um contrato de R$ 65.958.966,00 com a BRA Serviços Administrativos, assinado em 19 de janeiro deste ano, e tendo como objeto a prestação de serviços continuados de limpeza, higienização e conservação de bens (móveis e imóveis), a serem executados nas dependências internas e externas dos prédios do Poder Judiciário daquele Estado”.

No total, os contratos de Murilo Jucá com o governo federal, de Alagoas, do DF, Santa Catarina e prefeitura de Maceió, somados chegam à cifra de R$ 916.132.427,24 milhões. “Por isso, falar em um bilhão não é apenas arredondar esse montante”.

O repórter escreveu ainda que outros contratos encontrados pela reportagem em diários oficiais não foram somados em sua totalidade porque não foi possível quantificar o total, já que não conseguimos via portais da transparência.

“Mas nesses diários, encontramos pelo menos contratos de Santa Catarina, sem confirmação no Portal da Transparência sobre o montante; e ainda da ‘Disk Container’, com o governo estadual de Alagoas, esses últimos verificáveis em contratos, mas de soma total sem acesso no portal. Assim, com tantos outros, os R$ 916 milhões, já perto do 1 bilhão, podem ultrapassar a marca facilmente, com eventuais contratos espalhados por prefeituras e governos estaduais Brasil afora”.