Política

Novonor assume que Braskem está à venda e confirma proposta da Unipar

“Não podemos deixar que a empresa seja vendida sem que nossos direitos estejam garantidos”, diz liderança de moradores

Por Ricardo Rodrigues - colaborador com Tribuna Independente 14/06/2023 10h13
Novonor assume que Braskem está à venda e confirma proposta da Unipar
Braskem já havia recebido uma outra proposta no valor de R$ 37,5 bilhões; em Maceió, petroquímica enfrenta desastre ambiental e social - Foto: Reprodução

Em comunicado ao mercado de ações, com data do dia 12 de junho, a Novonor (antiga Odebrecht) assumiu que a Braskem está à venda e confirmou que recebeu da Unipar Carbocloro uma proposta de compra da petroquímica. A notícia da proposta foi divulgada pela própria empresa interessa em adquirir a Braskem.

“Recebemos da Unipar Carbocloro, no último dia 10 de junho de 2023, a proposta não vinculante para a aquisição do controle da Braskem. Segundo os termos da Proposta, a Unipar passará a deter 34,366%, (representativas do controle da Braskem) do total de ações de emissão da Braskem, tendo sido cada ação avaliada em R$ 36,5”, informou a Novonor, no comunicado ao mercado, acrescentando que, mesmo assim, a empresa permanecerá com uma participação minoritária, representativa indiretamente de 4% do total de ações de emissão da Braskem atualmente.

Esta é a segunda proposta de compra da Braskem que a Novonor recebe, só este ano. A primeira foi feita por uma multinacional americana (Apollo) em parceria com uma estatal árabe (Adnoc), por R$ 37,5 bilhões. Com isso, cada ação individual da petroquímica estaria valendo até R$ 47,00. A proposta foi recusada pela Novonor, porque os valores não seriam pagos em espécie, mas sim em ações.

Oferta

Já a oferta feita pela Unipar, apesar de apresentar um valor menor (cada ação por até R$ 36,5), parece mais atrativa, pois o pagamento seria feito em dinheiro vivo, não em ações. No entanto, a direção da Novonor ainda não bateu o martelo, disse apenas que está analisando a questão e que no momento certo irá comunicar ao mercado se aceitou ou não a proposta da Unipar.

“A proposta está condicionada à realização de uma auditoria confirmatória de certas premissas e à implementação de uma série de condições precedentes, dentre ela o não exercício pela Petrobras do seu direito de preferência ou seu direito de tag along, conforme previstos, respectivamente, nas Cláusulas 7.5 e 7.12 do Acordo de Acionistas da BRK Investimentos Petroquímicos S.A e da Braskem S.A. em vigor nesta data entre a Novonor e a Petrobras”, explicou a Novonor, no comunicado ao mercado.

Em Recuperação Judicial, Novonor garantiu ainda que avaliará os termos e condições da proposta feita pela Unipar, “em conjunto com as instituições financeiras detentoras da alienação fiduciária das ações da Braskem S.A. de propriedade da Novonor, assim como tem feito com as demais ofertas anteriormente comunicadas aos acionistas”.

Nas “declarações prospectivas”, a Novonor comunica aos acionistas que a negociações em torno da venda da Braskem levará em consideração outros fatores, a exemplo do desastre ambiental provocado pela mineradora em pelo menos cinco bairro de Maceió.

“Essas declarações não se tratam de fatos históricos, sendo baseadas na atual visão e estimativas da administração da Companhia quanto a futuras circunstâncias econômicas e outras, condições do setor, desempenho e resultados financeiros, do evento geológico em Alagoas e procedimentos legais relacionados e da COVID-19 nos negócios, condição financeira e resultados operacionais da Companhia”, registou a dona da Braskem, no comunicado aos acionistas.

Movimento unificado das vítimas da empresa está atento às negociações

Questionado se, com a venda da Braskem, os moradores dos bairros afetados pelo afundamento do solo poderiam ficar no prejuízo, o procurador Cássio Araújo, que milita no Movimento Unificado das Vítimas da Braskem (MUVB), disse que atrapalha em nada, mas alerta para a importância de acompanhar as negociações, para evitar surpresas desagradáveis.

“Não altera nada, a responsabilidade continua com a Braskem. O que acontece é que o novo adquirente costuma manter posição mais dura e até a negar a responsabilidade (mesmo sem fundamento), por isso é bom ficar de olho”, afirmou.

Para a bióloga Neirevane Nunes, que coordena o MUVB, é preciso que as reivindicações dos moradores e do poder pública sejam asseguradas, antes da venda da Braskem. “Não podemos deixar que a empresa seja vendida sem que nossos direitos estejam garantidos, bem como os prejuízos causados ao poder público e ao meio ambiente”, argumentou a bióloga.

PERFIL DA COMPRADORA

Veja a seguir o perfil da Unipar, com base nas informações contidas no site oficial da empresa na internet.

A Unipar é líder na produção de cloro e soda e a segunda maior produtora de PVC da América do Sul. Se destaca como uma das principais fornecedoras para os setores de saneamento e construção civil e produz matérias-primas para todas as indústrias, entre elas têxtil, de papel e celulose, de desinfetantes, alumínio, brinquedos, sapatos, alimentos, bebidas e farmacêutica, entre outras. As ações da Unipar estão listadas na B3 S.A. – Brasil, Bolsa e Balcão sob os tickers: UNIP3, UNIP5 e UNIP6.

A companhia está presente hoje no Brasil e Argentina, com escritórios em São Paulo e Buenos Aires, e fábricas em Santo André e Cubatão (SP) e também em Bahía Blanca (Argentina), além de estar construído nova planta em Camaçari (BA). As suas fábricas combinadas produzem: Cloro; Soda Líquida; Soda Anidra; Ácido Clorídrico; Hipoclorito de Sódio; Dicloroetano; PVC Suspensão e PVC Emulsão. A Unipar tem ainda duas joint ventures para autoprodução de energia renovável, com dois parques eólicos na Bahia e Rio Grande do Norte e um parque solar em Minas Gerais.

Evento geológico em Alagoas tem papel central

Constituída em 1969 com atuação no segmento químico e petroquímico, a Unipar é uma empresa de origem brasileira e tem hoje cerca de 1.400 colaboradores.

O propósito da Unipar é ser confiável em todas as relações. E naturalmente para ser confiável atua de forma sustentável em todas as dimensões: interna, sociedade e comunidade, clientes, investidores e instituições e fornecedores.

Ao longo de sua história, a Unipar atuou para a expansão industrial, preservação ambiental e se conectou às comunidades onde opera apoiando projetos focados no saneamento e no desenvolvimento humano, nas frentes de cultura, educação, esporte e ações sociais.

EVENTO GEOLÓGICO

A assessoria da Unipar destaca ainda que o evento geológico em Alagoas tem papel central nas negociações – os passivos estão provisionados nas demonstrações financeiras da Braskem.

“A Unipar espera haver a negociação final de uma solução, de forma satisfatória a todos os agentes públicos e partes relacionadas e que atenda plenamente as comunidades e pessoas atingidas”, afirma em nota.

A empresa lembra ainda que, “em 2018, a extração de sal-gema pela Braskem provocou um abalo sísmico em cinco bairros de Maceió, que deixou rachaduras em milhares de imóveis e abriu crateras em ruas da cidade, forçando mais de 55 mil pessoas a deixarem suas casas”.

A Unipar foi criada em 1946, com o projeto da refinaria e exploração de petróleo União, em Capuava, no ABC paulista. Hoje, a empresa é controlada pela Vila Velha Administração e Participações, que detém 57,8% das ações. O investidor Luiz Barsi Filho detém 13,9% das ações da companhia.

A petroquímica tem três unidades, localizadas em Cubatão (SP), Santo André (SP) e Bahía Blanca (Argentina). Também tem participação na Solalban, empresa de geração de energia na Argentina.