Política

Comandante da PM/AL na mira dos golpistas

Após reuniões com TSE e a equipe de transição de Lula, coronel Paulo Amorim entra para lista de “traidores” de bolsonaristas

Por Carlos Amaral com Tribuna Independente 26/11/2022 07h26 - Atualizado em 26/11/2022 19h31
Comandante da PM/AL na mira dos golpistas
Bolsonaristas estão divulgando nos grupos do WhatsApp e Telegram imagens do comandante da PM/AL, Paulo Amorim, com Alexandre de Moraes - Foto: Reprodução

Acredite se quiser, mas o comandante-geral da Polícia Militar de Alagoas (PM/AL), coronel Paulo Amorim, entrou para a lista de “traidores” dos bolsonaristas que seguem a reivindicar um golpe de Estado no Brasil, a partir de aglomerações em frente aos quartéis do Exército em todo o país.

O motivo da “traição” foi a participação do coronel da PM/AL em duas reuniões em Brasília, uma com a Comissão de Transição do governo Lula (PT) e a outra com presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Alexandre de Moraes, com comandantes das polícias militares de todo o país no último dia 23.

Em postagens replicadas em grupos no aplicativo de mensagens Telegram e nas redes sociais, Twitter e Facebook, os golpistas organizaram uma lista intitulada “obedecem ao advogado do PCC” na qual consta o nome do coronel Paulo Amorim, e uma foto da reunião.

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O caráter das postagens segue o mesmo padrão dos ataques proferidos à juíza Fátima Pirauá, que atuou na Justiça Eleitoral neste ano e que determinou a retirada de materiais irregulares de campanha pró-Bolsonaro de um comitê paralelo da candidatura à reeleição montado no bairro de Jaraguá, em Maceió.

Via de regra, a lista com os nomes dos comandantes das polícias militares vem precedida do seguinte texto: “Lista dos comandantes gerais das polícias militares que TRAÍRAM o pacto federativo e aderiram ao GOLPE de Moraes”.

Mas também há postagens com teor de paranoia anticomunista. “Essa foto parece até a nova KGB tupiniquim, faça-me o favor senhores comandantes da PM”.

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O detalhe curioso é que antes de ir para Brasília, o comandante da PM/AL esteve no Batalhão de Infantaria Motorizado (BIMtz) do Exército, localizado na Avenida Fernandes Lima, em Maceió, onde – em frente – os defensores do golpe de Estado se aglomeram desde a vitória eleitoral de Lula em 30 de outubro.

O encontro, realizado no dia 21, no 59º BIMtz foi registrado pela assessoria de comunicação da PM/AL e publicado nas redes sociais da Corporação. A reunião se deu com o comandante da 10ª Brigada de Infantaria Motorizada.
“O coronel Paulo Amorim esteve acompanhado do subcomandante-geral, coronel Gerônimo do Nascimento e do coronel Walter Do Valle, chefe do Gabinete do Comando Geral. Participaram também outros representantes do Exército, tanto da 10ª Bda Inf Mtz quanto do 59º BIMtz. A reunião antecede a visita de inspeção e orientação técnica que o general fará à PM/AL na terça-feira (22) – procedimento padrão e rotineiro, visto que as polícias militares dos estados são, constitucionalmente, forças auxiliares e reserva do Exército Brasileiro”, relatou a assessoria de comunicação da PM.

Reunião entre PM e Exército, em Maceió

A reportagem da Tribuna Independente procurou o comando da PM/AL, através da assessoria de comunicação da Corporação, mas não obteve resposta até o fechamento desta edição.

BRASÍLIA

O senador eleito, Flávio Dino (PSB-MA), e um dos coordenadores do grupo técnico de Justiça e Segurança Pública da Comissão de Transição, disse que a relação da equipe de Lula com os comandos das polícias militares caminha para a “normalização”. Já Alexandre de Moraes agradeceu, em nota, o apoio dos policiais na organização das eleições.

“A reunião com comandantes serviu, inclusive, para desfazer certas visões preconcebidas”, disse Flávio Dino à imprensa. No encontro, ele chegou a negar que Lula proporá a extinção da Polícia Militar. “Havia essa dúvida e ela surgiu na reunião. Fizemos distinção do que é trigo do que é joio”.

Flávio Dino é cotado para assumir o Ministério da Justiça e da Segurança Pública. “Vários disseram, estamos comprometidos com o estado democrático de direito, com a lei, e não estamos comprometidos com a ideologia, não queremos uma polícia ideologizada”, afirmou o senador eleito ao relatar a postura dos comandantes das polícias militares.