Política

‘Usina nuclear em Alagoas gera benefícios’

Para Geoberto Espírito Santo, especialista em energia, o Estado seria contemplado na economia e na segurança energética 24h

Por Thayanne Magalhães com agências / Tribuna Independente 03/09/2022 10h06 - Atualizado em 03/09/2022 13h50
‘Usina nuclear em Alagoas gera benefícios’
Segundo Geoberto Espírito Santo, Alagoas poderia ser contemplada com bilhões em investimentos por conta de uma usina nuclear - Foto: Divulgação

Após decisão por unanimidade, o Supremo Tribunal Federal (STF), que declarou a inconstitucionalidade de normas de Alagoas, Bahia e Maranhão que impõem restrições ao exercício de atividades nucleares nesses estados, as especulações sobre a construção de uma usina nuclear em Alagoas voltaram a ser assunto. A decisão se deu, na sessão virtual finalizada em 15 de agosto deste ano, no julgamento das Ações Diretas de Inconstitucionalidade (ADIs) 6899, 6901 e 6903. A Tribuna Independente tem repercutido a temática com especialistas.

Para Geoberto Espírito Santo, que é especialista em energia, professor da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), e ex-secretário-adjunto de Energia e Recursos Minerais à época do governo Teotonio Vilela (PSDB), existem vantagens em uma construção de uma usina nuclear em Alagoas, com benefícios para economia e segurança energética dos usuários.

Geoberto Espírito Santo (Foto: Arquivo pessoal)


“Meu foco profissional sempre foi energia e eu defendo que o Brasil, que é um país que tem grandes reservas de urânio, sendo o sexto país no mundo, domina por completo o ciclo do enriquecimento desse elemento químico. Então, por que não aproveitar isso em eletricidade?”, questiona.

Geoberto reforça que a energia nuclear é uma energia de base, aquela que nos assegura o acesso à eletricidade por 24 horas.

“Nós precisamos de energia 24 horas e isso não é possível com energia eólica e solar. Além disso existem outras energias renováveis, mas o Brasil está precisando de uma energia de base”, explica, Geoberto Espírito Santo.

“Agora com a crise [países estão em guerra] da Rússia e da Ucrânia, estamos vendo que está havendo uma transição energética que está sendo retardada. A Alemanha que passou a ser 40% dependente do gás natural da Rússia, não vai mais desligar suas usinas nucleares e essa dependência foi uma das razões, segundo alguns ideólogos, que a Rússia encontrou espaço para atacar o país vizinho. Praticamente toda Europa depende do gás da Rússia”, continuou.

Geoberto comentou ainda que a curto prazo, não há como cobrir uma crise energética com energia eólica e solar, e isso pode aumentar o consumo de carvão.

“O inverno na Europa vai começar em novembro e requer um gasto de energia muito grande com os aquecedores, um problema que nós não temos aqui no Brasil, mas, para ter energia de base, 24 horas, não podemos contar apenas com o carvão, que é um combustível fóssil, com o bagaço da cana, que só funciona durante seis meses do ano. Nós temos fontes menos problemáticas que é o gás natural e a energia nuclear que não emite CO² e isso foi dito na União Europeia. A energia nuclear é considerada energia verde”, afirma o consultor.

Para Geoberto Espírito Santo, a decisão do Supremo Tribunal Federal, é decorrente da lei de privatização da Eletrobras.

“A ENBPar [Empresa Brasileira de Participações em Energia Nuclear e Binacional S.A] vai assumir as atividades da Eletrobras que não podem ser privatizadas, como as empresas Itaipu Binacional e Eletronuclear [Usinas Angra 1, 2 e 3] e a gestão de políticas públicas. Essa foi a essência da decisão do Supremo, porque todos os problemas que acontecem em Angra 3 estão relacionados com a permissão da iniciativa privada de participar do setor nuclear, que não envolve somente energia, mas medicina e agricultura”, contou.

Eletronuclear visitou estados e planeja instalar unidade no Sudeste/Centro-Oeste


Em contato com a Tribuna Independente, a Eletronuclear, subsidiária da Eletrobras, que tem a finalidade de operar e construir usinas termonucleares no Brasil informou que em 2020, foi realizado um estudo de todo o território nacional buscando encontrar grandes áreas capazes de receber as futuras usinas nucleares brasileiras. Como resultado desse estudo, 40 regiões foram encontradas, abrangendo quase todos os estados brasileiros, incluindo Minas Gerais.

Os técnicos da estatal também estiveram em visita em Alagoas, bem como aos estados de Sergipe e Pernambuco. O comunicado da Eletronuclear à Tribuna destaca, ainda, que o Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE) 2031 – divulgado pelo Ministério de Minas e Energia (MME) – prevê a necessidade de se construir uma quarta usina nuclear, com potência de 1.000 MW, a ser instalada no subsistema Sudeste/Centro-Oeste.

“Foi um estudo preliminar, ou seja, qualquer evolução depende de estudos pormenorizados, que estão sendo conduzidos pelo MME, em parceria com o Centro de Pesquisas de Energia Elétrica [Cepel]. Somente ao final desse trabalho, os locais ou municípios específicos poderão ser elencados”, finaliza a Eletronuclear.

‘BURBURINHO’

Quando o debate sobre usina nuclear ganhou notoriedade em Alagoas, em agosto de 2009, no governo Teotonio Vilela Filho (PSDB), uma das cidades especuladas para receber a unidade seria Piranhas, localizada no Sertão, e que margeia o Rio São Francisco.

À Tribuna Independente, a assessoria da prefeitura da cidade informou que o prefeito Tiago Freitas (MDB) afirmou que não existe nenhum tipo de especulação nesse sentido. “Esse é um burburinho muito antigo. Nada recente nesse sentido”, disse.

TOMAR POSIÇÃO

À época, Geoberto Espírito Santo, defendeu que seria importante que o “Estado de Alagoas se posicionasse com mais clareza sobre o tema”.

Ele lembrou que, durante o governo Teotonio Vilela, sofreu críticas ao lado de integrantes do governo por considerar o investimento importante para a região.

“Até porque, se as lideranças ignorarem o projeto por preconceito ou temor de riscos de acidentes, que hoje são mínimos, poderão ver em breve uma usina nuclear construída em uma cidade na outra margem do São Francisco sem que o Estado seja beneficiado pelos bilhões de dólares investidos”.

Geoberto Espírito Santo cita que especialistas na temática nuclear estimam que se o plano de uma usina nuclear for concretizado, o investimento total até 2050 chegue a cerca de US$ 50 bilhões.

Em 2021, Ministério de Minas e Energia realizou estudos em 21 áreas do país

Atualmente, o Brasil conta com duas usinas nucleares em funcionamento: Angra 1, com 640 megawatts (MW) de potência, e Angra 2, com 1.350 MW. Em 2014, a energia nuclear respondeu por 2,87% da geração do Sistema Interligado Nacional.

Em 2019, o ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, disse que 21 pontos estratégicos em todas as regiões brasileiras estavam em estudo para que sejam instaladas mais quatro usinas nucleares no país.

Potenciais fornecedores de equipamentos para as usinas nucleares foram convidados para essas viagens de reconhecimentos de áreas candidatas. Quatro grupos estão na disputa: Rosatom (Rússia), China National Nuclear Corporation (China), EDF (França) e Westinghouse (EUA).

RELEMBRE

Em 2009, no governo Teotonio Vilela Filho (PSDB), o então chefe do Poder Executivo alagoano esteve no Rio de Janeiro com o objetivo de conhecer o funcionamento de uma central nuclear, e visitou as usinas nucleares Angra 1 e 2. Vilela esteve acompanhado por representantes do Ministério Público, dos poderes Legislativo e Judiciário, da Universidade Federal de Alagoas e de secretarias estaduais.

À época, Teotonio Vilela afirmou que um empreendimento como esse sempre agrega desenvolvimento ao estado. “Estou falando de emprego, de renda, de receita por meio de royalties, acrescentou.