Política

Governo Bolsonaro e orçamento secreto da Câmara fizeram investidores estrangeiros baterem em retirada do Brasil

“Nos últimos três anos, Brasil sofreu destruição reputacional no exterior”, diz consultor internacional de investimentos

Por Mauro Lopes com Revista Fórum 09/05/2022 07h02
Governo Bolsonaro e orçamento secreto da Câmara fizeram investidores estrangeiros baterem em retirada do Brasil
Arthur Lira e Jair Bolsonaro - Foto: Isac Nóbrega/PR

A combinação da degradação dos indicadores econômicos e ambientais no governo Bolsonaro com as emendas do relator na Câmara dos Deputados (conhecidas como “orçamento secreto”) é a grande responsável pela fuga do investimento estrangeiro do país, especialmente na área de infraestrutura e concessões, que pressupõem relacionamento com o poder público. A corrupção sem freios no bolsonarismo é outro tema que tem afugentado os investidores.

Segundo Claudio Frischtak, sócio e gestor da Inter B Consultoria Internacional de Negócios, "nos últimos três anos [período do governo Bolsonaro], o Brasil sofreu destruição reputacional no exterior por não conseguir acompanhar a mudança de mentalidade que está ocorrendo nos negócios". Ele falou à Folha de S.Paulo.

A questão ambiental é outro tema que faz com que os investidores fiquem horrorizados com o governo de extrema direita do Brasil. "Empresas, fundos de investimento e de pensão, importantes investidores de longo prazo, estão incluindo o meio ambiente na análise de retorno do investimento. Quem insiste em ignorar isso vive em outro planeta”, assegurou Frischtak.

O analista foi taxativo quanto ao prejuízo causado ao Brasil pelo orçamento secreto implementado pela dupla Bolsonaro-Arthur Lira: "A qualidade do investimento público sofreu um enorme retrocesso com a adoção das emendas do relator como uma forma de financiar obras públicas".

Os dados disponíveis indicam que setor público investiu, em média, R$ 46 bilhões ao ano em infraestrutura entre 2018 e 2021, enquanto o setor privado investiu R$ 94 bilhões em média. Nos três anos anteriores, de 2016 a 2018 [o período Temer], a média do setor público foi de R$ 57 bilhões, e a do setor privado, praticamente os mesmos R$ 94 bilhões.

Ou seja, ponderou o analista, enquanto o investimento público teve queda de 19%, o privado ficou igual. Os valores consideram o impacto da inflação.

Durante os governos do PT os números eram de outra magnitude, segundo as consolidações da consultoria. O setor público colocou quase R$ 105 bilhões em infraestrutura em 2010, e o privado chegou a investir R$ 119 bilhões em 2014.

Manoel Pires, coordenador do Observatório de Política Fiscal do FGV IBRE (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas) disse que o país sofre com anos seguidos de retração generalizada do investimento público, o que agrava ainda mais a situação.

Ele adverte que os governos Temer e Bolsonaro fizeram uma revisão de fundo ideológico do modelo econômico brasileiro, o que levou a um cenário desastroso: "A ideia de reduzir a participação do Estado na economia foi posta em prática. Então, o setor público investe menos, o BNDES assume outras funções e buscam-se reformas para atrair capital privado". Hoje, no entanto, não há nem investimento público nem privado.

Houve uma retração no investimento público no início do governo Lula, explicou Pires:. "Lá atrás, foi preciso fazer um ajuste fiscal no início do primeiro governo Lula, que levou à redução do investimento público num curto período, mas foi seguido de retomada". Agora, no entanto, não há retomada alguma no horizonte.

"Ao que tudo indica, a redução do investimento público não chegou ao piso e vai cair mais ainda", afirmou Pires.

A única chance de reverter essa situação é a eleição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em outubro.