Política

Decisões do STF causam abalo eleitoral na corrida presidencial

Senador Renan Calheiros está na relatoria da CPI e Lula livre para disputar a eleição e fortalecer oposição

Por Carlos Amaral com Tribuna Independente 24/04/2021 09h07
Decisões do STF causam abalo eleitoral na corrida presidencial
Reprodução - Foto: Assessoria
A semana política girou em torno de dois personagens: Lula (PT) e o senador Renan Calheiros. O primeiro por ter referendado pelo pleno do Supremo Tribunal Federal (STF) a suspeição de Sergio Moro e, assim tendo suas condenações anuladas lhe garantindo a elegibilidade para 2022. O segundo, por ter sido escolhido o relator da CPI da Covid-19 no Senado. Para o cientista político Ranulfo Paranhos, é como se as coisas tivessem voltado uma década no tempo. Já sua colega, Luciana Santana, ressalta que os dois fatos enfraquecem Jair Bolsonaro (sem partido). “Quando você recoloca o Lula no tabuleiro e o Renan volta a ganhar visibilidade, parece que a gente voltou dez anos atrás, onde essas figuras ocupavam espaços de destaque”, comenta. “Quando o Lula entra na jogada, ele meio que mexe com o tabuleiro, forçando o Bolsonaro a se posicionar como candidato. E como candidato, ele terá de tomar decisões administrativas corretas porque isso resvala em 2022. Também se força uma rearrumação no centro porque o Lula é opositor e polo oposto ao Bolsonaro. E o centro, isso que se resolveu chamar de centro, ainda está muito fragmentado. Você tem muitos nomes, Ciro, Mandetta, Flávio Dino, Dória, Eduardo Leite... Fora os outros. Esse centro está muito embolado. Então, é possível que force uma aliança grande no centro”, completa Ranulfo Paranhos. Já para Luciana Santana, “tanto a elegibilidade de Lula quanto Renan Calheiros na relatoria da CPI no Senado, enfraquecem mais Bolsonaro do que ele já estava fragilizado. Um é um candidato realmente competitivo e, no caso da CPI, há a possibilidade de que se vá, realmente, colocar o dedo na ferida e cobrar a responsabilidade do Governo Federal no enfrentamento da pandemia, o que pode contribuir mais para a fragilização de Bolsonaro e, com certeza, impactará em 2022”. Para Ranulfo Paranhos, aproximação de Lula com o PSB e PL visa diminuir o arco de Ciro Gomes (PDT).“Logo após à primeira decisão do Edson Fachin, Lula já tinha sinalizado de iria conversar com o PSB. É uma tentativa de tirar o PSB do Ciro. Ao conversar com o PL, que era o partido de seu vice, José Alencar, ele também mira esse movimento porque o PL estava em conversas com o PDT. Lula tenta primeiro desarmar o Ciro Gomes porque esse é mais fácil, pois são do mesmo arco de alianças, à esquerda e centro-esquerda. Mas mesmo enfraquecendo o Ciro Gomes, tem os partidos de centro de centro-direita que preferem negociar com o PSB e o PDT”, pontua. “Também não será estranho se a ala do MDB ligada ao Renan Calheiros apoiar o Lula. Essa é uma negociação que deu certo em eleições passadas e, se está de olho nas próximas eleições, acho que ele tá no caminho correto”, completa Ranulfo Paranhos. Luciana Santana pondera ainda ser cedo para definições de alianças. “Não há um movimento tão incisivo de ampliar uma frente de esquerda, pelo menos que seja liderada por Lula. Até porque o ex-presidente sempre menciona que não é o momento adequado ainda pra discutir a eleição, mas a gente sabe que nos bastidores da política, com certeza, conversas acontecem e Lula é um político que vai conversar não só com a esquerda, mas vai conversar também com o partido de direita e partidos ali mais próximas ao centro”, comenta. “A meu ver, o PSD tem a possibilidade grande de se aliar ao provável candidato Lula. Tem também os outros partidos pequenos, como o PSOL. O PDT que parece que não deve aliar. Está claro que deve seguir numa frente mais independente. É difícil você hoje ter uma certeza com relação a isso, sobre o que acontecer daqui um ano. E outra, os bastidores da política não param e não se restringem a partidos de esquerda. Então, quando, efetivamente, Lula entrar em campo e começar realmente as negociações, a gente vai ver uma mobilização muito maior do que apenas os partidos de esquerda”, completa Luciana Santana. Favoritismo ainda é de Jair Bolsonaro Mesmo com Lula podendo ser candidato em 2022, Jair Bolsonaro, por “ter a máquina” do governo, é favorito para a reeleição. “O Bolsonaro tem o poder da máquina e isso faz muita diferença. Tem maior probabilidade de vitória porque usa a máquina.  Veja, esse orçamento de 2022 é um orçamento que prevê esse funcionamento da máquina, mas para atender, essencialmente, as emendas de bancadas, parlamentares. O orçamento de 2022 foco muito mais direcionado para as políticas públicas assistenciais. Essas criadas desde o governo Fernando Henrique. Por quê? Porque Bolsonaro sabe que perdeu força junto à classe média e sobrou a classe mais baixa. Em ano eleitoral, é possível que ele reforce o auxílio emergencial, as bolsas, os programas, para tentar conquistar ou manter esse perfil do eleitorado”, analisa o cientista político Ranulfo Paranhos, em entrevista à Tribuna. “O outro ponto positivo é que ele tem aí a seita. Esses bolsonaristas que, independentemente do que ele faz, seguem votando nele, que está aí na casa dos seus 25%, não acredito que chegue a 30%. Então, 25% é um ponto de partida muito bom para qualquer candidato há um ano das eleições”, completa. “O ponto negativo é que contra o Bolsonaro candidato você tem o Bolsonaro presidente, que é muito ruim. Ele tem muitos erros, muitos deslizes. Eu acredito que essa CPI no Sendo não dê em pizza. O Renan Calheiros, essa semana, deu o tom do que ela vai ser. ‘Nós vamos investigar, vamos encontrar os erros e vamos identificar os responsáveis pelas mortes’. Veja, se se o Governo tivesse tomado decisões corretas, menos mortes teriam acontecido. Isso dizer que o Governo passa a ser o culpado pelo excedente de mortes, no erro da política pública. E quem é o responsável direto pelo governo?”, argumenta Ranulfo Paranhos. Ainda segundo ele, os erros do governo são combustível para o derretimento da popularidade de Jair Bolsonaro. “O impacto disso sempre aparece nas pesquisas de intenção de voto e nas pesquisas de aprovação do Governo que falta de coordenação. Não políticas públicas, mas falta de coordenação na tomada de decisão política”, comenta Ranulfo Paranhos. “Bolsonaro tem alguma chance, ainda tem competitividade porque tem 30% do eleitorado, mas não significa que manterá esse apoio todo até a eleição. Aí depende muito dos acontecimentos dos próximos meses. Enfim, até, realmente, quando iniciar período eleitoral em 2022. Ele é um candidato competitivo, mas não é imbatível”, analisa Luciana Santana. Ela destaca que a base eleitoral de Jair Bolsonaro não é a mesma de 2018, é menor, contudo, mais fiel ao presidente da República. “A base de Bolsonaro é muito coesa e, com certeza, vai partir para cima também. Não vai ser algo fácil. Vai se utilizar de todos os recursos disponíveis para tentar desinformar, voltar com do antipetismo, requentar coisas que foram feitas na eleição de 2018. E essa base não é a mesma que elegeu Bolsonaro em 2018. Aquele eleitorado é muito mais amplo do que a base que se mantém ainda apoiadora de Bolsonaro. Hoje essa base é muito mais reduzida e sente menos as pancadas e revezes. Então, na medida em que a gente tiver os primeiros resultados da CPI, quando isso começar a veicular na imprensa, a gente vai perceber efetivamente o quanto se sentiu e o quanto se sentiu essa base bolsonarista que ainda existe até hoje”, diz Luciana Santana.