Política

Em reunião, Bolsonaro disse que perseguição à família justificaria troca da PF do Rio

Presidente, segundo a fonte, fez uma defesa enfática dessa troca durante a reunião, ocorrida dois dias antes da demissão de Moro e do então diretor-geral da PF, Maurício Valeixo

Por Reuters 12/05/2020 22h58
Em reunião, Bolsonaro disse que perseguição à família justificaria troca da PF do Rio
Reprodução - Foto: Assessoria
Em reunião ministerial no dia 22 de abril, o presidente Jair Bolsonaro disse que a perseguição a seus familiares justificaria a troca do então superintendente da Polícia Federal no Rio de Janeiro e afirmou que, se ela não fosse efetivada, trocaria o diretor-geral da PF e o próprio ministro da Justiça e Segurança Pública, cargo então ocupado por Sergio Moro, relatou à Reuters uma fonte com conhecimento do vídeo da reunião. O presidente, segundo a fonte, fez uma defesa enfática dessa troca durante a reunião, ocorrido dois dias antes da demissão de Moro e do então diretor-geral da PF, Maurício Valeixo. Mais cedo, a defesa de Sergio Moro havia afirmado que o vídeo da reunião “confirma integralmente” declarações do ex-ministro de que, naquela ocasião, o presidente teria cobrado a troca do superintendente da PF no Rio de Janeiro e defendeu a divulgação na íntegra da gravação. “Assistimos hoje ao vídeo da reunião interministerial ocorrida em 22 de abril. O material confirma integralmente as declarações do ex-ministro Sérgio Moro na entrevista coletiva de 24 de abril e no depoimento prestado à PF em 2 de maio”, disse o advogado Rodrigo Sánchez Rios em nota. “É de extrema relevância e interesse público que a íntegra desse vídeo venha à tona. Ela não possui menção a nenhum tema sensível à segurança nacional”, completou. Procurada pela Reuters para comentar, a Secretaria de Imprensa da Presidência não respondeu de imediato. Moro veio a Brasília assistir à exibição do vídeo pessoalmente, ao lado de seu advogado e de outros envolvidos no caso. Segundo depoimento prestado por Moro no âmbito de investigação sobre as acusações que fez contra Bolsonaro, o presidente teria dito na reunião que iria interferir em todos os ministérios e, quanto à pasta da Justiça e Segurança Pública, se não pudesse trocar o superintendente da PF no Rio, trocaria o diretor-geral da corporação e o próprio ministro da Justiça. Essas declarações levaram à saída de Moro e de Valeixo do governo e à abertura de um inquérito pelo Supremo Tribunal Federal (STF) para apurar as declarações. Por ora, o ministro Celso de Mello, relator do caso no STF, ainda não liberou a divulgação da íntegra do vídeo após a Advocacia-Geral da União (AGU), que representa Bolsonaro no inquérito, ter dito inicialmente que haveria temas sensíveis e de estado alheios à investigação tratados no encontro. O ministro do STF já tinha decidido que todo o andamento do inquérito será público e poderá em breve decidir sobre a divulgação ou não do vídeo, tido por envolvidos no caso como uma das principais provas que pode haver contra o presidente, segundo duas fontes envolvidas relataram à Reuters.