Política

'Nordeste não se curva ao entreguismo'

Vice-governadora de Pernambuco, Luciana Santos diz que governos nordestinos investem enquanto presidente corta recursos

Por Jairo Silva com Tribuna Independente 07/09/2019 06h22
'Nordeste não se curva ao entreguismo'
Reprodução - Foto: Assessoria
Luciana Santos é pernambucana formada em engenharia elétrica pela Universidade Federal de Pernambuco. Assumiu o mandato de deputada estadual em 1996 e elegeu-se em 1998. Em 2000, foi eleita pelo PCdoB como a primeira prefeita comunista do Brasil, em Olinda, Pernambuco, sendo reeleita em 2004, no primeiro turno, onde exerceu o mandato até 2008. Em 2015, foi eleita presidente do diretório nacional do PCdoB, sucedendo Renato Rabelo. Foi reconduzida à presidência do partido durante o 14º Congresso do PCdoB, realizado em novembro de 2017. Nas eleições de 2018, foi eleita vice-governadora do estado de Pernambuco na chapa de Paulo Câmara (PSB) para um mandato até 2022. Tribuna Independente – O que representa para o partido estar aqui em Alagoas fazendo este momento de filiação? Luciana Santos – É muito significativo! Alagoas tem muito a ver com a gente e com a história de Pernambuco e com a história do partido, aqui nos tivemos uma participação muito ativa na com a história das construções políticas do nosso campo, é como uma espécie de argamassa que sempre se moveu para grandes conquistas. Isso desde o meu amigo Eduardo Bonfim, deputado constituinte, e que ajudou a construir o partido; temos companheiros como Ênio Lins, Secretário de Comunicação, Cláudia Petuba, Secretária de Esportes. Agora o Naldo, que assume a presidência do partido em Alagoas, enfim, é um partido vivo! Tribuna Independente – Recentemente foi criada uma frente de oposição composta por partidos de direita e de esquerda. Como você analisa este movimento de fazer oposição a este governo e este momento da esquerda no Brasil? Luciana Santos – Então, eu acho que o grande desafio que nós temos é constituir ‘frente ampla’ e isso não é uma coisa de hoje, pra governar ou para mobilizar. O Brasil é um pais continental plural, tem muitas correntes de pensamento, e a gente tem sempre que buscar forjar a unidade, a exemplo da campanha ‘o petróleo é nosso’ que mobilizou toda a sociedade. O desafio é montar as perspectivas de um novo projeto de desenvolvimento, que possibilite o Brasil entrar nas cadeias emergentes, das tecnologias portadoras do futuro e que agregue valor. Isso é o que tem pautado o nosso partido atualmente. Tribuna Independente – Os governadores do Nordeste têm buscado alternativas dentro e fora do Brasil. Como é vista esta iniciativa, já que boa parte deles é de partidos da oposição do governo federal? Luciana Santos – Eu acho que o Nordeste é grato e, além da gratidão, o Nordeste teve um sentimento e um posicionamento político progressista e avançado quando apostou no projeto nacional e popular, que a candidatura de Fernando Haddad representava naquele momento, isso tudo depois de uma crise política gigante que levou ao impeachment da presidente da República, e independentemente dessas coisas todas, o Nordeste se fez presente revivendo todo o legado do que foi construído no combate da desigualdade social no Brasil. O consórcio do Nordeste é um fórum especial e decisivo que se apresenta para o país contestando uma retirada de direitos, contestando o entreguismo que tem pautado o governo Bolsonaro e é sem duvida, um front decisivo para a gente dizer e fazer um contraponto, um exemplo. Enquanto ele [Bolsonaro] corta recursos para a educação, os estados do Nordeste investem mais em educação; enquanto ele reduz a assistência social, os estados do nordeste dizem: “nós não vamos arredar um milímetro do investimento nas obras sociais”. E quando se trata de algumas bandeiras que dizem respeito à questão nacional, como a questão da manutenção da Chesf, a construção da Transnordestina, a transposição do Rio São Francisco, entre tantas, estas são questões que nos unem e fazem com que a gente construa uma barreira de contenção para resistir aos ataques, as retiradas de direitos e também a defesa de questões estruturantes. Tribuna Independente – O governo Bolsonaro vem atacando os Direitos Humanos e em apologia a ditadura, falou sobre a morte do pai do presidente da OAB nacional. Recentemente, atacou a alta comissária da ONU e ex-presidente do Chile, Michelle Bachelet, agredindo a memória de seu pai, morto na ditadura naquele país. Como a senhora vê estes ataques do governo em relação aos Direitos Humanos? Luciana Santos – É uma tragédia! É o que eu penso de alguém que faça apologia a tiranos. Você pega uma figura como o coronel Ustra, que torturou a presidente Dilma e ele faz alusão a ela tratando como brilhante Ustra no dia da votação do impeachment; depois ataca Fernando Santa Cruz (presidente da OAB); depois ao pai de Michelle Bachelet, é o tipo de figura que procura estabelecer um tipo de embate reduzido e rebaixado contra conceitos básicos. Estamos discutindo questões muito caras, os direitos humanos, que é a luta contra a barbárie. Você não pode ter idolatria por tiranos, pois assim nós perderemos toda a nossa humanidade. Nós nos movemos por isso, pela democracia, pela compaixão, pelo respeito ao outro, estes são conceitos básicos que devem mover a nação. É uma tragédia lamentável no limite da barbárie, mas nós estamos aqui para isso, para fazer valer a resistência e a denuncia, e o que for possível construir para resistir a isso tudo. Tribuna Independente – Quais as perspectivas para as eleições 2020? Candidaturas, coligações com a esquerda? Luciana Santos – A gente sempre teve muita capacidade de construir ‘frentes amplas’ para fazer avançar a luta do povo e ao mesmo tempo, cuidar da nossa presença politica, ter atores políticos que possam ajudar nesta construção. Eleger prefeitos e vereadores faz parte desta estratégia para o fortalecimento e afirmação do nosso partido nessa cena política. Costumo dizer que somos como Castro Alves, temos uma bancada pequena, mas com o olhar dos Andes, que hoje é influente no congresso nacional sempre com lucidez, coerência e a força do PCdoB.